"Com todo o respeito que essas figuras têm, mas não é o passado que
está em jogo, é o presente, e eles se conduziram mal, envolveram o
partido."
Destoando do discurso de lideranças petistas, intelectuais de esquerda e juristas, o ex-governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra não acredita que houve cunho político na condenação e na prisão dos correligionários José Genoino, José Dirceu e Delúbio Soares, detidos, na semana passada, pelo escândalo do mensalão durante o primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Funcionou o que deveria funcionar. O STF
(Supremo Tribunal Federal) julgou e a Justiça determinou a prisão,
cumpra-se a lei”, analisa o ex-presidente estadual e um dos fundadores
do Partido dos Trabalhadores (PT).
No entendimento de Olívio Dutra, o desfecho da Ação Penal 470,
conhecida popularmente como mensalão, foi uma resposta aos processos de
corrupção que, historicamente, permeiam a política nacional,
independentemente de partidos.
A reportagem é de Jimmy Azevedo, publicada no Jornal do Comércio, 21-11-2013.
Sobre a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa,
de ordenar a prisão dos réus no processo s obre a compra de
parlamentares por dirigentes petistas para a aprovação de projetos do
governo Lula, Olívio disse que cada instituição tem seu
funcionamento. “Até pode ser questionado, mas as instituições têm seus
funcionamentos. O que não se pode admitir é o toma-lá-dá-cá nas práticas
dos mensalões de todos os partidos, nas quais figuras do PT
participaram”, avalia o petista histórico.
O ex-governador gaúcho reitera que tem respeito à história de lutas de José Dirceu e Genoino,
mas que em nada o passado de combate à ditadura militar abona qualquer
tipo de conduta ilícita. “Há personalidades que fazem política por cima
das instancias partidárias e seguem seus próprios atalhos. Respeito a
biografia passada dessas figuras que lutaram contra a ditadura, mas (a
corrupção) é uma conduta que não pode se ver como correta”, critica.
Ironicamente, Olívio Dutra, então ministro das Cidades de Lula, foi isolado por políticos fortes no governo, como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, ainda antes do escândalo do mensalão vir à tona.
Em julho de 2005, Olívio é retirado da pasta para dar lugar a Márcio Fortes, do Partido Progressista (PP), sigla também envolvida no escândalo de corrupção. Olívio diz que o PT está acima de indivíduos, e acredita que se fez justiça no caso de corrupção.
“Não deveria ser diferente (sobre as condenações e prisões). Um
partido como o PT não pode ser jogado na vala comum com atitudes como
esta. Com todo o respeito que essas figuras têm, mas não é o passado que
está em jogo, é o presente, e eles se conduziram mal, envolveram o
partido. O sujeito coletivo do PT não pode ser reduzido em virtude
dessas condutas. O PT surgiu para transformar a política de baixo para
cima. Eu não os considero presos políticos, foram julgados e agora estão
cumprindo pena por condutas políticas”, dispara o líder petista. ‘Nunca
se governa em condições ideais’, avalia o ex-governador.
Distante da vida política, mas a par da vida partidária do PT estadual e nacional, o ex-governador gaúcho Olívio Dutra dedica os dias à família e aos estudos de Latim na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Formado em Letras pela Ufrgs, Olívio
pediu reingresso para aproveitar cadeiras não cursadas. Além disso,
ocupa o tempo em livrarias da cidade, bem como em espetáculos culturais,
gosto que fez com que ele se integrasse à Associação Amigos do Theatro São Pedro.
Ovacionado em eventos públicos pela militância petista e integrantes de movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), Olívio faz uma análise da conjuntura atual e os cenários para que o PT consiga reeleger o projeto de Tarso Genro.
Para o Galo Missioneiro, apelido dado por admiradores, o distanciamento de forças políticas, tais como o PDT e o PSB, do governo Tarso Genro é algo natural em vésperas de eleição eleitoral, ainda mais pela conjuntura. O PSB, por exemplo, terá provavelmente o governador pernambucano Eduardo Campos como candidato à presidência da República na disputa contra a presidente Dilma Rousseff (PT).
No Estado, os socialistas não descartam a possibilidade, inclusive,
de uma aliança com o Partido Progressista (ex-Arena) na candidatura da
senadora Ana Amélia Lemos ao Palácio Piratini, ou com o PMDB, que poderá lançar o ex-prefeito de Caxias do Sul José Ivo Sartori.
“A candidatura própria do PDT é uma hipótese ainda. O fato de os
partidos tomarem outros rumos antes do pleito não é novidade. As forças
se estremecem quando se aproxima a eleição. Mas isso não é o ideal no
campo democrático popular”, analisa Olívio.
O ex-governador entende, no entanto, que nunca se governa em situação
tranquila, pois há interesses pessoais e partidários distintos dentro
do tabuleiro político. “Os governos (Dilma e Tarso)
fazem um grande esforço para o funcionamento da máquina pública em prol
da sociedade, não como projeto pessoal, para atender à maioria do povo.
Nunca se terá condições ideais, claro, pois há uma pressão enorme dos
poderosos.”
Quando esteve no Palácio Piratini (1999-2002), seu governo foi alvo de uma CPI
sobre uma suposta relação com o jogo do bicho. O Ministério Público não
aceitou as acusações e decidiu não denunciar o petista e outros
citados. A primeira gestão petista no Piratini também foi criticada por
setores contrários à reforma agrária e à implementação de políticas de
desenvolvimento social.
Na avaliação do governo Tarso Genro, o petista
acredita que tem tido avanço nas questões sociais e na consolidação de
políticas apresentadas. “O governo pode fazer mais e melhor na execução
de um programa. Nunca se governa em situação ideal. Há muito o que fazer
para um projeto de desenvolvimento sustentável. Por isso, defendo a
reeleição”, disse Olívio, que também reiterou não desejar mais ser candidato a cargos públicos.
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Fonte: IHU on line, 22/11/2013
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