Em
entrevista ao Site da PCr Nacional, padre Valdir João Silveira, coordenador
nacional da Pastoral Carcerária, comenta que reclamações dos presos do Mensalão
somam-se às da população prisional em todo o Brasil, e que a Pastoral é
solidária à defesa dos direitos dos encarcerados no episódio.
Site
PCr Nacional – As reclamações dos presos no episódio do Mensalão sobre as
condições no Complexo Penitenciário da Papuda voltaram a colocar na mídia a
discussão sobre as condições carcerárias no Brasil. É algo que a Pastoral
Carcerária há tempos tem alertado, não?
Padre
Valdir João Silveira – Conhecer os porões dos cárceres
é novidade para a sociedade mais alta, mais rica, mas não para os pobres. Estar
preso aguardando julgamento no Brasil é a realidade para 40% da população
carcerária do país, e em estados como Amazonas e Piauí, esse percentual
ultrapassa os 70%. Pessoas que estão condenadas ao semiaberto e cumprem a prisão
integralmente em regime fechado há milhares no Brasil. Somente no Estado de São
Paulo, 8.500 pessoas aguardam vaga para cumprir pena em regime semiaberto. É
uma realidade muito conhecida, uma realidade sofrida, que agora vem à tona com
as prisões do Mensalão.
Site
PCr Nacional – Na quinta-feira, 21, o presidente do STF, Joaquim Barbosa,
determinou que o deputado José Genoino saia da prisão para se tratar em casa ou
num hospital, por conta do agravamento de seu estado de saúde. Segundo o
advogado do parlamentar, no presídio, ele não recebia os cuidados médicos que
necessita. Há muitos presos na mesma situação no país?
Padre
Valdir – Há reclamações gerais em todos os presídios do Brasil sobre
a grande ausência de assistência à saúde. Somente no Estado de São Paulo, em
média, 495 presos morrem no interior do sistema prisional e a maioria por falta
de assistência à saúde. Em 10 anos são praticamente 5 mil pessoas que morreram.
É quase a população de uma cidade, exterminada, esquecida, e isso nunca foi reconhecido,
defendido e não se pensou na família dessas pessoas também. Então, é bom que
essas questões sejam destacadas agora para que a sociedade conheça e se
mobilize para mudar o sistema prisional, que é lugar de morte, destinado,
especialmente, à morte de jovens e pobres.
Site
PCr Nacional – As prisões dos condenados do Mensalão também têm provocado uma
movimentação atípica de políticos no Complexo Penitenciário da Papuda. O senhor
espera que a partir desse contato com a realidade prisional eles se sensibilizem
com as condições a que são submetidos os presos no Brasil?
Padre
Valdir – A Pastoral Carcerária acredita que todos os presos
sofrem, e por isso os acompanha, e é solidária à defesa dos direitos das
pessoas presas no episódio do Mensalão. Acredito que quanto mais os presos do
Mensalão forem espalhados pelo Brasil, em unidades prisionais de seus estados,
seus colegas políticos, ao visitá-los, conhecerão a realidade de um sistema
prisional onde nunca pisaram. Isso será bom, pois provocará um grande questionamento
nos parlamentares, nos juristas e na sociedade brasileira como um todo. Por
enquanto, a discussão sobre o sistema prisional está muito focada em Brasília,
no Complexo da Papuda.
Site
PCr Nacional – Por outro lado, esses políticos não podem tender a achar que a
solução, diante da superlotação carcerária e da precariedade dos cárceres, é a
construção de mais presídios?
Padre
Valdir – Cada vez mais, a sociedade toma conhecimento do custo que
é manter uma pessoa presa e, ao mesmo tempo, consciência da inutilidade desse
custo, pois percebe que quem fica mais tempo preso, tornar-se uma pessoa com
mais dificuldade de reinserção social. Gasta-se uma fortuna e quem paga é a
sociedade que encarcera, para depois temer aqueles que saem do sistema
prisional. Não faz sentido, pois o resultado é de mais violência, destruição da
pessoa que é presa e também da sociedade. Existe sim a necessidade de uma
política de desencarceramento, os governos não podem continuar insistindo na
construção de presídios.
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Por
Daniel Gomes, assessor de comunicação da Pastoral Carcerária Nacional.
Fonte: http://carceraria.org.br/realidades-do-sistema-prisional-vem-a-tona-com-as-prisoes-do-mensalao.html
Imagem da Internet
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