Gilmar Passos*
Este espaço está aberto para uma dissertação real de um acontecimento
singular de um jardineiro e de uma rosa. Algo que provocou uma mudança
de sentido na vida do jardineiro e que o encorajou a viver e olhar a
vida colocando-se perseverante ao Horizonte. Não houve nada de
extraordinário pelo que comumente interpretamos, mas com certeza foi
extra-ordinário a partir de gesto simples que brilhantemente, sem
esforço, deu para perceber e sentir de modo transparente o sentido de um
verdadeiro milagre.
Antes de dissertarmos o acontecimento como tal, nos deteremos no
significado latino de milagre e também uma breve reflexão da vida de
Jesus como realização de milagre. Em latim a palavra miraculum quando
traduzida para o português significa prodígio, maravilha, milagre. Não
quer dizer algo de outro mundo, mas algo que neste mundo se torna
maravilhoso. Jesus fazia milagres ao colocar as coisas em ordens e ao
cumprir o que estava na Palavra. Pela ação de Jesus os cegos, os surdos,
os mudos sentiam-se maravilhados e os pobres se deliciavam com as
maravilhas do Evangelho, não restava dúvida: Jesus era o sinal visível
de Deus (sacramento). Um segredo: neste mundo há pessoas que realizam
milagres na vida de muitas pessoas, isto é, são sinais visíveis de
Cristo Ressuscitado (sacramento).
Voltemos ao jardineiro e a rosa. Conta-se que um jardineiro elegeu
uma rosa como a mais bela flor do jardim. Ele fazia de tudo para vê-la.
Para chegar até ela era preciso passar por alguns espinhos. Ele não se
intimidava atravessava aquele local no jardim cheio de espinhos, às
vezes ao atravessar além dos espinhos enfrentava uma tempestade com
ventos e chuvas fortes. Mas ao chegar junto àquela rosa o jardineiro
esquecia tudo o que tinha passado porque sabia que mesmo passando por
tudo aquilo ele era feliz.
A mudança. Houve uma mudança que mudou o comportamento e o modo de
relacionamento entre o jardineiro e a rosa e vice-versa. Ambos ficaram
distantes. O jardineiro continuou o seu trabalho em outro ambiente e a
rosa continuou florindo naquele mesmo local. Apesar da mudança eles
continuaram felizes porque o que aprenderam juntos serviu como injeção
de ânimo para buscar o mesmo Horizonte, mesmo distantes e em locais
diferentes.
O tempo passou. O jardineiro teve oportunidade de passear no local
onde ele encontrou aquela rosa. Não teve dúvida, foi àquele lugar e
encontrou a rosa muito feliz, apesar das mudanças que ocorreram em
derredor de seu ambiente. Então o jardineiro percebeu que os espinhos
que impediam o seu acesso aquela rosa já eram diferentes e que já não
era tão difícil sua aproximação até ela. E esta rosa apesar de ter
sofrido um grande desgaste provocado por perdas e ganhos, sabores e
dissabores continuava exalando perfume, é que ela buscava forças para
viver numa fonte muito preciosa que chamamos de Deus.
A percepção. Durante o novo encontro, o jardineiro percebeu que
aquela rosa não podia sair de seu ambiente porque ali ela tinha uma
missão importante. Era ali que ela como flor inspirava o desabrochar de
muitas flores em seu redor. Outra coisa importante notada é que aquela
rosa vivia numa roseira que, por sua vez, tinha raízes fixas numa terra
onde ela tirava todo o seu sustento necessário à sobrevivência.
A maravilhosa certeza. Apesar de suas ocupações a maravilhosa rosa
encontrava tempo para se alimentar da Fonte e realizar maravilhas ao seu
redor. Aquela rosa perfumava e realizava maravilhas a outras rosas
ligadas intimamente a ela, encontrava tempo para fazer o mesmo a outras
flores no jardim. E o surpreendente e maravilhoso era ver o jeito
carinhoso como ela cuidava de uma rosa que lhe tinha trazido à vida e
que carecia de cuidados especiais. Com certeza aquela rosa gerada
realizava um grande milagre (algo maravilhoso) na vida daquela que lhe
gerou. Então o jardineiro vendo isso não teve dúvida de que aquela rosa
tinha a missão de realizar maravilhas naquele local, porque ela era
presença viva e visível (sacramento) do Deus vivo.
A esperança. Com muita alegria e esperança aquele jardineiro voltou
da viagem. Ele tinha feito uma das maiores descobertas que, pela fé, um
ser humano pode fazer e que nem a ciência pode revelar ou explicar:
aquela rosa vivia ao seu modo de vida uma experiência profunda do amor
de Deus. A experiência de amor que a maravilhosa rosa fazia com Deus lhe
possibilitava viver agindo e realizando sinais de amor. Ver aquela
experiência de vida tão maravilhosa, cheia de milagres, motivou o
jardineiro a continuar sua missão para também ser feliz.
Continuidade. O jardineiro e a rosa continuam distantes, ligados pelo
mesmo objetivo originário da missão. Alimentam-se da mesma fonte,
apesar de estarem distantes. Um detalhe: não se sentem abandonados e
tristes, ambos estão caminhando felizes, sofrendo, às vezes, mas
buscando amar cada vez mais a si mesmo, o cosmo e a Deus. Cada um deles
está redigindo a história pessoal pela experiência que fazem juntos e
distantes.
Deus abençoe a todos os jardineiros e todas as rosas que buscam conhecer, aprofundar e viver sua missão.
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Gilmar Passos é escritor, teólogo e poeta
Contato: gilmpasssos@hotmail.com
Contato: gilmpasssos@hotmail.com
EcoDebate, 11/11/2013
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