segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O jardineiro e a flor

 Gilmar Passos*
Este espaço está aberto para uma dissertação real de um acontecimento singular de um jardineiro e de uma rosa. Algo que provocou uma mudança de sentido na vida do jardineiro e que o encorajou a viver e olhar a vida colocando-se perseverante ao Horizonte. Não houve nada de extraordinário pelo que comumente interpretamos, mas com certeza foi extra-ordinário a partir de gesto simples que brilhantemente, sem esforço, deu para perceber e sentir de modo transparente o sentido de um verdadeiro milagre.

Antes de dissertarmos o acontecimento como tal, nos deteremos no significado latino de milagre e também uma breve reflexão da vida de Jesus como realização de milagre. Em latim a palavra miraculum quando traduzida para o português significa prodígio, maravilha, milagre. Não quer dizer algo de outro mundo, mas algo que neste mundo se torna maravilhoso. Jesus fazia milagres ao colocar as coisas em ordens e ao cumprir o que estava na Palavra. Pela ação de Jesus os cegos, os surdos, os mudos sentiam-se maravilhados e os pobres se deliciavam com as maravilhas do Evangelho, não restava dúvida: Jesus era o sinal visível de Deus (sacramento). Um segredo: neste mundo há pessoas que realizam milagres na vida de muitas pessoas, isto é, são sinais visíveis de Cristo Ressuscitado (sacramento).

Voltemos ao jardineiro e a rosa. Conta-se que um jardineiro elegeu uma rosa como a mais bela flor do jardim. Ele fazia de tudo para vê-la. Para chegar até ela era preciso passar por alguns espinhos. Ele não se intimidava atravessava aquele local no jardim cheio de espinhos, às vezes ao atravessar além dos espinhos enfrentava uma tempestade com ventos e chuvas fortes. Mas ao chegar junto àquela rosa o jardineiro esquecia tudo o que tinha passado porque sabia que mesmo passando por tudo aquilo ele era feliz.

A mudança. Houve uma mudança que mudou o comportamento e o modo de relacionamento entre o jardineiro e a rosa e vice-versa. Ambos ficaram distantes. O jardineiro continuou o seu trabalho em outro ambiente e a rosa continuou florindo naquele mesmo local. Apesar da mudança eles continuaram felizes porque o que aprenderam juntos serviu como injeção de ânimo para buscar o mesmo Horizonte, mesmo distantes e em locais diferentes.

O tempo passou. O jardineiro teve oportunidade de passear no local onde ele encontrou aquela rosa. Não teve dúvida, foi àquele lugar e encontrou a rosa muito feliz, apesar das mudanças que ocorreram em derredor de seu ambiente. Então o jardineiro percebeu que os espinhos que impediam o seu acesso aquela rosa já eram diferentes e que já não era tão difícil sua aproximação até ela. E esta rosa apesar de ter sofrido um grande desgaste provocado por perdas e ganhos, sabores e dissabores continuava exalando perfume, é que ela buscava forças para viver numa fonte muito preciosa que chamamos de Deus.

A percepção. Durante o novo encontro, o jardineiro percebeu que aquela rosa não podia sair de seu ambiente porque ali ela tinha uma missão importante. Era ali que ela como flor inspirava o desabrochar de muitas flores em seu redor. Outra coisa importante notada é que aquela rosa vivia numa roseira que, por sua vez, tinha raízes fixas numa terra onde ela tirava todo o seu sustento necessário à sobrevivência.

A maravilhosa certeza. Apesar de suas ocupações a maravilhosa rosa encontrava tempo para se alimentar da Fonte e realizar maravilhas ao seu redor. Aquela rosa perfumava e realizava maravilhas a outras rosas ligadas intimamente a ela, encontrava tempo para fazer o mesmo a outras flores no jardim. E o surpreendente e maravilhoso era ver o jeito carinhoso como ela cuidava de uma rosa que lhe tinha trazido à vida e que carecia de cuidados especiais. Com certeza aquela rosa gerada realizava um grande milagre (algo maravilhoso) na vida daquela que lhe gerou. Então o jardineiro vendo isso não teve dúvida de que aquela rosa tinha a missão de realizar maravilhas naquele local, porque ela era presença viva e visível (sacramento) do Deus vivo.

A esperança. Com muita alegria e esperança aquele jardineiro voltou da viagem. Ele tinha feito uma das maiores descobertas que, pela fé, um ser humano pode fazer e que nem a ciência pode revelar ou explicar: aquela rosa vivia ao seu modo de vida uma experiência profunda do amor de Deus. A experiência de amor que a maravilhosa rosa fazia com Deus lhe possibilitava viver agindo e realizando sinais de amor. Ver aquela experiência de vida tão maravilhosa, cheia de milagres, motivou o jardineiro a continuar sua missão para também ser feliz.

Continuidade. O jardineiro e a rosa continuam distantes, ligados pelo mesmo objetivo originário da missão. Alimentam-se da mesma fonte, apesar de estarem distantes. Um detalhe: não se sentem abandonados e tristes, ambos estão caminhando felizes, sofrendo, às vezes, mas buscando amar cada vez mais a si mesmo, o cosmo e a Deus. Cada um deles está redigindo a história pessoal pela experiência que fazem juntos e distantes.

Deus abençoe a todos os jardineiros e todas as rosas que buscam conhecer, aprofundar e viver sua missão.
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Gilmar Passos é escritor, teólogo e poeta
Contato: gilmpasssos@hotmail.com
EcoDebate, 11/11/2013

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