Marli Gonçalves*
Pode
ser o maior trubufu da história, caída ou caído. Ou um bebezinho todo
enrugado recém nascido. Talvez um vira-lata estropiado. Postou uma foto
no Facebook ou outro desses lugares e não dá dois segundos começa a
enxurrada de interjeições iguais ou similares ou genéricas. Linda!
Lindo! Lindésima! Lindão! Lindona! Que bonitinho! Tem variações como
“cada dia melhor, hein?”, entre outras frases que, certamente, nem a
pessoa-alvo está gostando de ler porque sabe mesmo que é mentira. E que,
de verdade, está só descobrindo um puxa-saco
Impressionante. A cada dia fica mais claro que, se
proibidas forem algumas expressões, a internet e as redes sociais
acabam. Minguam. Desidratam. Ficarão sem assunto. Não precisa nem de
marco civil, militar, controle não sei mais de quê. E se cobrassem,
então, por essas palavras? Tem quem iria ficar na miséria. Se apitasse
cada vez que alguém escreve algumas destas letrinhas ou expressões seria
ensurdecedor. Acho que para parar essa mania só espalhando que, cada
vez que uma mentira dessas for postada, uma criancinha morrerá lá na
África, ou crescerá uma verruga, ou aumentará o aquecimento solar. Só
ameaçando.
“Linda (o)” e todas as suas variações – como bela, belíssima; kkkkkk e rsrsrsrsrs,
para dizer que achou engraçada alguma coisa. E o “Bom Dia”, então? Deve
ter gente que não é capaz de cumprimentar o porteiro ou o vizinho
dentro do elevador – mas dá “Bom Dia” na internet. Tem também o “Boa
Noite” – falta só pegar a moda de falar “vou mimir” – Graças a Deus que
pelo menos entre meus amigos ainda não li nenhum. Fora o beijo no
coração, beijo na alma, em um monte de lugares não eróticos.
Outra coisa é a mania de postar foto da comida que está comendo. Cada
comida besta, bife e arroz com ovo, de vez em quando até aparecem
iguarias, mas para que eu quero ver? Muitas vezes a imagem só está
querendo dizer que a pessoa “pode” – está comendo num restaurante caro
em alguma quebradinha “exclusiva” do mundo. Alguém conta para as pessoas
que alimentos são uma das coisas mais difíceis de fotografar e de sair
bem na foto? Precisa ser profissional e, em geral, inclusive, utilizar
de técnicas e produtos falsos para a produção, como massinha, gelo, luz,
ângulo, gotas, etc. – coisa de quem vive do que está postando, por isso
o faz bem quando faz, não é para qualquer um. Essa semana, no
Instagram, uma conhecida apresentadora de tevê que anda babando e
poetando em cima do seu bebê postou uma foto de um copo cheio de um
negócio que, sinceramente, parecia vômito, meio bege. O copo também era
daqueles de bar, feioso, de geleia. “Suco do dia: polpa de morango,
folha de brócolis, couve, blueberry, proteína de arroz, gengibre e
capim-cidreira! A cor é feia mas o gosto é bom!” – dizia a legenda.
Bom
apetite! – diria eu. Aproveite bem! Beba até o fim. Fosse fazer algum
comentário, ainda diria: “Corajosa” ou “O que aconteceu com seu paladar?
Foi a gravidez?”, ou ainda poderia também perguntar “Está fazendo
alguma promessa?”
Se ver fotos de comida engordasse, estaríamos todos obesos. Na hora
do almoço é pior, mas tem também a versão jantar, café da manhã e lanche
da tarde. Sadismo explícito.
Fico
a cada dia mais surpresa com a criação e desenvolvimento desse ambiente
virtual. Na tevê, propagandas, concursos e informações importantes
mostram como única alternativa o endereço da internet “para maiores
esclarecimentos”, “Saiba Mais”, como se todo o mundo desse nosso tão
desenvolvido país tivesse acesso. Computador, ao menos. Sinal de Wi-Fi.
Smartphone. Do jeito que as coisas vão, nem radinho de pilha!
KKKKK. Na sua cara se é um dos que acham que “todo mundo” tem
carro, e que “todo mundo” tem internet. Se nós que temos acesso, e até
trabalhamos com isso, de vez em quando ficamos completamente vendidos e
isolados por essas operadoras/provedoras e outras, digamos, “orras”… Imagino nos rincões como anda a coisa!
Aqui na megalópole São Paulo, entre as cinco maiores cidades do
mundo, toda rica, poderosa, industrial, estamos sendo enganados todos os
dias por governos, sejam tucanos, estrelados, socialistas, comunistas,
coronelistas, qualquer um. Anunciam em grande estilo que várias praças e
avenidas passarão a ter Wi-Fi gratuito, acesso livre, que estão criando
não sei quantos postos de atendimento, que vão passar talco cheiroso em
nossos bumbuns. Vai procurar!
Um roteador funcionou mal e porcamente na Praça Dom José Gaspar –
Biblioteca Mário de Andrade, a maior e mais importante do Estado, com
placas. Pufff! Sumiu o sinal, sumiram as placas e ninguém viu, ninguém sabe, pergunta ali para aquele ali. E o tal ACESSA SP? Pufff também. Nem tchuns de satisfação. Ou Feedback, como os empolados falam, com tom quase britânico.
Tudo isso para dizer uma coisa só: não acredite em tudo que escuta;
não acredite em tudo que lê ou vê. Não acredite no que esses caras
prometem. Mentem deslavadamente, ou omitem, digamos assim, os detalhes e
condições.
Vá se preparando para o ano que vem.
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* Jornalista.
Fonte: http://marligo.wordpress.com/2013/11/15/
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