sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O universo sombrio e asfixiante dos sonhos perdidos

 
 Nascido em Trinidad e Tobago de família indiana, Naipaul radicou-se na Inglaterra aos 18 anos (Divulgação)

V. S. Naipaul, prêmio Nobel de Literatura em 2001, faz um relato sobre expatriados, fugitivos e imigrantes, numa exposição do que há de assustador e cruel no ser humano

Cinco contos, cinco narrativas de expatriados, fugitivos e imigrantes que anseiam pela independência política e pessoal, mas que sucumbem diante da constatação inevitável de que a liberdade não passa de uma miragem, de um sonho destruído pela crueldade, pelo racismo e pela sede de poder, que ignora fronteiras e diferenças culturais.

Neste livro extraordinário, ganhador do Booker Prize de 1971, e recém-lançado pela Companhia das Letras, V. S. Naipaul, em um relato tenso, preciso e impregnado de violência e raiva, descreve as dificuldades enfrentadas por quem abandona seu país em busca de um lugar melhor para viver.

O pequeno prólogo de “Num Estado livre” conta a viagem de apenas dois dias de navio do Pireu até Alexandria, na qual passageiros de diversas nacionalidades são perturbados pela presença aparentemente indefesa de um vagabundo, mas que se transforma em um elemento catalisador de violência. Em seguida, em “Um entre muitos” vemos a história de um empregado doméstico de Bombaim, Santosh, que acompanha seu patrão em uma missão de trabalho a Washington. Logo o sonho de liberdade ilusório de uma vida nos Estados Unidos desaparece e Santosh converte-se em um prisioneiro de sua condição social. Apesar de mais tarde ter se tornado um cidadão americano, o sentimento de alienação nunca o abandonou. 

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 O livro é dividido em cinco narrativas 
que percorrem o mundo todo 
(Reprodução/Internet)

Na terceira narrativa “Diga quem tenho de matar”, um jovem de origem asiática resolve morar em Londres para ajudar o irmão mais novo, que foi estudar engenharia, mais uma vez em busca do sonho de uma vida melhor. Mas atormentado por uma Londres hostil, e por um irmão frustrado, ele procura uma vítima. Quem destruiu sua vida? A quem retaliar?

Na narrativa mais longa, “Num Estado livre”, a história se passa na África, em um lugar semelhante a Uganda ou Ruanda, na qual os dois protagonistas são ingleses. Antes haviam encontrado uma libertação na África, mas agora Bobby, um funcionário público homossexual, obcecado por meninos africanos, dá carona a Linda, uma mulher de reputação discutível, até o condomínio fechado onde viviam. As relações difíceis, com mais incertezas do que desconfianças entre os dois, acentuam o clima tenso e amargo da longa viagem. No final da viagem, saberemos tudo a respeito dos personagens ingleses, do país africano e do surgimento da figura de um ditador semelhante a Idi Amin Dada. Na curta narrativa final, turistas italianos jogam comida em um hotel em Luxor para uns meninos egípcios esfomeados, enquanto viajantes chineses apregoam as maravilhas do comunismo maoista.

Nenhum escritor de nosso mundo pré-colonial se exprimiu de forma mais penetrante e profética do que V. S. Naipaul, em sua exposição cruel e assustadora do ser humano e do mundo que o cerca. Como disse Dennis Potter, do The Times, “Não percam a satisfação de desfrutar de um de nossos escritores mais competentes num momento em que ele parte rumo à máxima ampliação de seu talento”.

Não percam também a oportunidade de ler V. S. Naipaul, prêmio Nobel de Literatura em 2001, e um dos expoentes da literatura mundial contemporânea.
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Reportagem por Marisa Motta
Fonte:  http://opiniaoenoticia.com.br/08/11/2013

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