Nascido em Trinidad e Tobago de família indiana, Naipaul radicou-se na Inglaterra aos 18 anos (Divulgação)
V. S. Naipaul, prêmio Nobel de Literatura em 2001, faz um relato sobre expatriados, fugitivos e imigrantes, numa exposição do que há de assustador e cruel no ser humano
Cinco contos, cinco narrativas de expatriados, fugitivos e imigrantes
que anseiam pela independência política e pessoal, mas que sucumbem
diante da constatação inevitável de que a liberdade não passa de uma
miragem, de um sonho destruído pela crueldade, pelo racismo e pela sede
de poder, que ignora fronteiras e diferenças culturais.
Neste livro extraordinário, ganhador do Booker Prize de 1971, e recém-lançado pela Companhia das Letras, V. S. Naipaul, em um relato tenso, preciso e impregnado de violência e
raiva, descreve as dificuldades enfrentadas por quem abandona seu país
em busca de um lugar melhor para viver.
O pequeno prólogo de “Num Estado livre” conta a viagem de apenas dois
dias de navio do Pireu até Alexandria, na qual passageiros de diversas
nacionalidades são perturbados pela presença aparentemente indefesa de
um vagabundo, mas que se transforma em um elemento catalisador de
violência. Em seguida, em “Um entre muitos” vemos a história de um
empregado doméstico de Bombaim, Santosh, que acompanha seu patrão em uma missão de trabalho a
Washington. Logo o sonho de liberdade ilusório de uma vida nos Estados
Unidos desaparece e Santosh converte-se em um prisioneiro de sua
condição social. Apesar de mais tarde ter se tornado um cidadão
americano, o sentimento de alienação nunca o abandonou.
O livro é dividido em cinco narrativas
que percorrem o mundo todo
(Reprodução/Internet)
Na terceira narrativa “Diga quem tenho de matar”, um jovem de origem
asiática resolve morar em Londres para ajudar o irmão mais novo, que foi
estudar engenharia, mais uma vez em busca do sonho de uma vida melhor.
Mas atormentado por uma Londres hostil, e por um irmão frustrado, ele
procura uma vítima. Quem destruiu sua vida? A quem retaliar?
Na narrativa mais longa, “Num Estado livre”, a história se passa na
África, em um lugar semelhante a Uganda ou Ruanda, na qual os dois
protagonistas são ingleses. Antes haviam encontrado uma libertação na
África, mas agora Bobby, um funcionário público homossexual, obcecado
por meninos africanos, dá carona a Linda, uma mulher de reputação
discutível, até o condomínio fechado onde viviam. As relações difíceis,
com mais incertezas do que desconfianças entre os dois, acentuam o clima
tenso e amargo da longa viagem. No final da viagem, saberemos tudo a
respeito dos personagens ingleses, do país africano e do surgimento da
figura de um ditador semelhante a Idi Amin Dada. Na curta narrativa
final, turistas italianos jogam comida em um hotel em Luxor para uns
meninos egípcios esfomeados, enquanto viajantes chineses apregoam as
maravilhas do comunismo maoista.
Nenhum escritor de nosso mundo pré-colonial se exprimiu de forma mais
penetrante e profética do que V. S. Naipaul, em sua exposição cruel e
assustadora do ser humano e do mundo que o cerca. Como disse Dennis
Potter, do The Times, “Não percam a satisfação de desfrutar de
um de nossos escritores mais competentes num momento em que ele parte
rumo à máxima ampliação de seu talento”.
Não percam também a oportunidade de ler V. S. Naipaul, prêmio Nobel
de Literatura em 2001, e um dos expoentes da literatura mundial
contemporânea.
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