LONDRES - Passar a
noite em claro e trabalhar no fim de semana são práticas que por décadas
foram vistas como ritos de passagem para jovens profissionais de bancos
da City de Londres. Mas a morte de um estagiário do Bank of America
Merrill Lynch no ano passado, que de acordo com o médico-legista pode
ter sido causada por excesso de trabalho, está promovendo uma
reavaliação dessa mentalidade.
“Estagiários normalmente fazem coisas que são completamente inúteis,
como ficar até as três da manhã produzindo relatórios longos que ninguém
vai ler”, diz um executivo de banco de investimento. Profissionais do
mercado financeiro dizem que as condições de trabalho para os mais
jovens se tornaram mais duras nos últimos anos, na medida em que os
bancos de investimento – sofrendo de queda nos lucros – passam cada vez
mais trabalho para funcionários de níveis iniciais.
A carga de trabalho pesada pode ser ilustrada por uma enquete feita
com mais de 500 leitores do “Financial Times” que trabalham no setor de
serviços financeiros e têm idade entre 18 e 25 anos. Segundo a pesquisa,
pouco mais da metade deles trabalham mais de 60 horas por semana. Cerca
de um em cada sete participantes disseram que trabalham 90 horas por
semana ou mais.
Como reflexo do tom adotado pelo alto escalão, mais da metade dos
jovens profissionais diz que a cultura organizacional precisa mudar. Mas
apenas 18% dos entrevistados dizem ter visto tentativas nesse sentido.
“Há comentários esporádicos, particularmente em épocas do ano em que a
carga de trabalho está razoável. Mas quando chegar a hora do aperto
durante os períodos mais movimentados, nada vai mudar”, diz um
funcionário de uma empresa de serviços financeiros britânica. Chris
Roebuck, professor de liderança transformadora na Cass Business School
London, que já ocupou cargos seniores de recursos humanos em bancos,
acredita que as condições de trabalho podem ser melhoradas ao se ensinar
os líderes a gerenciarem seus times de forma mais eficiente.
Como os jovens profissionais lidam com as horas longas? Cafeína,
álcool e exercício físico são algumas das estratégias mais comuns.
Cochilos no banheiro e pensamentos suicidas também recebem algumas
menções na pesquisa, bem como uso de drogas. “É uma mistura de nenhuma
vida social, café e remédios como propranolol (ajuda com o estresse e
ataques de pânico) e modafinil (para virar a noite)”, escreveu um
funcionário de um banco britânico. Outro comentou que reduziu o
“estresse emocional” após o término de um relacionamento.
No entanto, a cultura de longas horas não parece fazer estudantes
desistirem de entrar no mercado financeiro. Uma pesquisa recente da High
Fliers, que monitora recrutamento de recém-formados, mostrou que bancos
de investimento continuam uma escolha de carreira popular entre os
graduados. A cada oito formandos de universidades renomadas, um quer
entrar no setor – número que representa uma volta a níveis anteriores à
recessão. Kristen Fitzpatrick, do escritório de carreira da Harvard
Business School diz: “A publicidade ruim que bancos receberam nos
últimos dois anos foi difícil de combater, mas eles estão retomando o
controle da mensagem”.
Mas alguns foram dissuadidos de entrar no ramo. Varun Bhanot, um
profissional de 23 anos formado na London School of Economics que
trabalhou no UBS em Nova York por um ano, desistiu de atuar em bancos
por causa das longas horas. “Eu achei que o estilo de vida era
insustentável”, diz ele. Entre os colegas que continuaram no mundo das
finanças, ele vê um nível baixo de satisfação. “Ainda não encontrei
ninguém que gosta do que faz”.
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Por Emma Jacobs | Financial Times
(Colaboração de Maija Palmer e Daniel Schäfer, de Nova York)
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