sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

‘Agequake’: um bilhão de idosos até 2020 e 3 bilhões até 2100

José Eustáquio Diniz Alves*

'Agequake': um bilhão de idosos até 2020 e 3 bilhões até 2100
 
"Uma população idosa e saudável pode ser 
 uma bênção para o país e o mundo".

O mundo está passando por um terremoto na estrutura etária (agequake) que vai provocar o surgimento de um tsunami de pessoas grisalhas (grey tsunami ou tsunami gris).

Em 1950 existiam 204 milhões de pessoas com 60 anos e mais de idade, representando 8,1% da população mundial, de 2,532 bilhões de habitantes. Em 2000 eram 610 milhões (10% do total populacional). Segundo as novas projeções divulgadas pela Divisão de População da ONU, o mundo vai atingir a marca recorde de 1 bilhão de habitantes com 60 anos ou mais de idade, em 2019. A população mundial estimada para 2019 é de 7,6 bilhões de habitantes. Isto quer dizer que deverá haver 13,5% de idosos no globo, no final da atual década.

O século XXI vai ser o século do envelhecimento populacional. Enquanto a população mundial deve passar de 6 para 11 bilhões de habitantes (não chegando a multiplicar por 2 vezes), a população com 60 anos e mais vai passar de 610 milhões de pessoas para 3 bilhões, multiplicando por 5 vezes. Os idosos eram 10% em 2000 e vão chegar a mais de 25% em 2100. Em nenhum outro século do passado ou do futuro houve ou haverá uma mudança tão significativa da estrutura etária. Assim com a transição demográfica, o agequake só acontece uma vez na história.

Esta transformação da estrutura etária ocorre em primeiro lugar por conta da queda das taxas de fecundidade que reduzem a base da pirâmide de sexo e idade e, em segundo lugar, ao aumento da esperança de vida e da longevidade. Hoje em dia morremos menos nas idades iniciais e sobrevivemos crescentemente em idades mais avançadas, ou seja, longevivemos mais.

Segundo Angus Maddison, a esperança de vida ao nascer do mundo era de apenas 24 anos no ano 1000 da Era Cristã. Nos países ocidentais (Europa Ocidental e Estados Unidos) a esperança de vida passou para 36 anos em 1820, 46 anos em 1900 e 79 anos em 2006. No resto do mundo a esperança de vida ao nascer chegou a 26 anos em 1900, 44 anos em 1950 e 64 anos em 2006.

From 1000 to 1820, life expectation in the West rose from 24 years at birth to 36; it rose to 46 by 1900, to 67 by 1950, and to 79 in 2006. In the Rest it lagged behind, remaining at 24 from 1000 to 1820, rising to 26 by 1900, 44 by 1950 and 64 in 2006” (Maddison, p. 88).

No quinquênio 2010-15, segundo a Divisão de população da ONU, países como Japão, Coreia do Sul e Singapura já tinham esperança de vida ao nascer acima de 81 nos, ultrapassando os Estados Unidos com 79 anos. O conjunto da América Latina e Caribe tem 75 anos de esperança de vida atualmente e deve ultrapassar 80 anos a partir de 2035. Ou seja, a alta expectativa de vida é um fenômeno que está se espalhando por quase todas as regiões do mundo (a África Subsaariana é uma região que ainda está atrasada neste processo).

Devido à alta fecundidade do passado e ao atual prolongamento da vida média, a quantidade de pessoas com mais de 60 anos vai crescer muito rapidamente durante o atual século. O número de 1 bilhão de idosos deve ser atingido até 2020 e é uma marca histórica, sendo uma cifra maior do que toda a população humana de 1800. Mas o próximo 1 bilhão vai demorar somente 30 anos, pois em 2050 haverá mais de 2 bilhões de habitantes com 60 anos e mais de idade no globo. Em 2100 haverá outro bilhão, chegando a 3 bilhões de pessoas grisalhas, mais do que toda a população mundial de 1950. 

Os analistas mais pessimistas consideram que este fenômeno do envelhecimento vai prejudicar a economia – ao reduzir o percentual de pessoas consideradas em idade ativa – e vai sobrecarregar os gastos do sistema de saúde e da previdência. Em geral, quanto mais longevo é um país, maior é a carga de doenças e a demanda sobre as famílias e a sociedade. O aumento da proporção de idosos está associado ao fim do primeiro bônus demográfico e ao aumento da razão de dependência. 

Mas o mundo pode colher um segundo bônus demográfico se esta grande onda de pessoas idosas vier acompanhada de maiores níveis de educação, uma vida com energia, uma maior capacidade de manutenção do patrimônio acumulado ao longo dos anos e da experiência incorporada. A questão chave será surfar adequadamente na onda do envelhecimento, evitando a discriminação e avançando na inclusão social. Uma população idosa e saudável pode ser uma bênção para o país e o mundo.

Referência:


Angus Maddison. The West and the Rest in the World Economy: 1000–2030. Maddisonian and Malthusian interpretations, World Economics, 2008
 --------------------------------
*José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Fonte: EcoDebate, 24/01/2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário