O ‘rolezinho’, forma de manifestação de jovens pobres, da periferia
dos grandes centros urbanos no Brasil, foi assunto no vetusto diário
parisiense Le Monde, nesta quinta-feira. Na matéria, intitulada “No Brasil, o verão dos ‘rolezinhos’:
a erupção da juventude pobre nos shoppings”, o jornal sublinha que o
ambiente climatizado dos centros comerciais, em um país de temperaturas
altíssimas, leva os moradores “das favelas e das periferias” a protestar
contra “a perpetuação da segragação social em um espaço protegido”.
Certos analistas ouvidos pela reportagem do Le Monde chegaram a comparar os ‘rolezinhos’
ao ‘funk de ostentação’, uma outra forma de manifesto no qual os
integrantes exibem seus gostos por artigos de luxo, mas repara que,
nessa versão, os meninos e meninas que integram o movimento “transgridem
as regras não escritas do apartheid social, que reserva os centros
comerciais à classe média e seus privilégios à minoria branca”.
A matéria, ao justificar a existência de um racismo latente no
Brasil, cita o sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987) e o romancista
Jorge Amado (1912-2001) e lembra que “os brasileiros pretendiam que sua
nação fosse um paraíso social, um exemplo de miscegenação racial, mas o
mito da democracia social se mostra um caminho muito duro”.
“Se um branco corre na rua, ele é um atleta, mas se um negro passa
correndo, é um marginal: ‘Cada macaco no seu galho’, diz um ditado muito
popular no Brasil”, afirma a reportagem. O diário percebeu, também, o
dilema das autoridades para reprimir o rolezinho. Segundo o jornal, “o
‘rolezinho’ é justamente um desafio às convenções e ao decoro exigidos,
mas não ditos claramente. Os comerciantes e os policiais reagiram à
erupção dos jovens com repressão, sob o pretexto que eles assustam os
clientes das lojas e perturbam a ordem pública.
Estes mesmos argumentos foram utilizados para que até a principal
rede social do país, o Facebook, passasse a censurar os convites para ‘rolezinhos’,
nas principais capitais do país. A reação, no entanto, foi imediata.
Nesta manhã, mais de 10 convites foram publicados, um deles contra o
próprio Facebook: “A pedido da Associação Brasileira de Shopping
Centers, Facebook está tirando do ar convites para rolezinhos em
shopping center. O Facebook agora imita os ditadores e manda tirar do ar
os convites que não lhe agradam. Convide seus amigos para dizer não à
censura do Facebook. /// Facebook: nós estamos de saco cheio de censura à
liberdade de expressão”, diz o texto do convite para o evento, marcado
às 12h de segunda-feira, em todo o país. Apenas alguns minutos depois de
publicado, mais de 100 pessoas já haviam confirmado presença.
O pedido para que o Facebook tirasse do ar as páginas criadas por
usuários da rede social para a realização de rolezinhos em shoppings de
São Paulo partiu do presidente da Abrasce (Associação Brasileira de
Shopping Centers), Luiz Fernando Veiga. Ele não soube informar que
centros comerciais conseguiram a retirada e se eles recorreram à
Justiça, mas afirmou que as páginas continham ameaças.
– Naquelas programações de eventos de rolezinhos havia atitudes
absolutamente criminosas e ilegais, como incentivo ao uso de maconha, a
entupir os vasos sanitários e a interromper as escadas rolantes – disse o
comerciante. Procurado pela reportagem do Correio do Brasil, o Facebook
não confirmou, ou negou, a remoção de páginas.
O fato é que representantes de 55 shoppings da Grande São Paulo
reuniram-se, na tarde desta quarta-feira, na capital paulista para
discutir medidas de prevenção contra os ‘rolezinhos’. Veiga também
afirmou que não há consenso sobre a possibilidade de os shoppings
recorrerem à Justiça para exigir dos frequentadores a apresentação de
documento na entrada dos centros, mas alega que a medida, adotada no
último sábado, pelo Shopping JK Iguatemi, em São Paulo, não é discriminatória.
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Por redação de São Paulo
Fonte:http://correiodobrasil.com.br/16/01/2014
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