Jornais como o El País e o New York Times citam a falta de espaço público, o funk ostentação e a violência policial
Os rolezinhos se espalharam por São Paulo, chamaram a atenção da
imprensa nacional e agora estão nas páginas dos principais jornais do
mundo. Ora se referindo a "flash mobs", ora a "little strolls", a
imprensa internacional publicou textos tentando explicar o fênomeno
brasileiro, desde as reuniões massivas de jovens nos Shoppings de São
Paulo e a cultura da periferia até o medo de lojistas e comerciantes.
Os rolezinhos são reuniões informais, marcadas via redes sociais, como o
Facebook, por jovens das periferias nos shoppings em São Paulo. Os
primeiros rolezinhos foram marcados no final do ano passado. No dia 7 de
dezembro, no Shopping Itaquera, na zona leste da capital, mais de 6 mil
jovens se reuniram para "dar um rolê" - e ao mesmo tempo deixando
lojista em pânico. Após outros rolezinhos, shoppings conseguiram ordens
judiciais proibindo o evento.
A Bloomberg explica
o fênomeno dizendo que eles são causados em parte pela falta de espaços
públicos de lazer em São Paulo. Eles conversaram com Jefferson Luis, um
dos criadores de um evento de rolezinho no Facebook. "Os jovens querem
demonstrar que têm o mesmo direito de visitar os shoppings que as
classes mais altas", disse.
Por ser um veículo voltado para o mundo dos negócios, a Bloomberg também
optou por falar dos riscos para os shoppings. Ela cita um analista do
banco JP Morgan sobre o medo dos lojistas e o risco de grupos radicais,
como os Black Blocs,
se juntarem a multidão gerada pelos rolezinhos. "Qualquer tipo de
movimento que saia um pouco do controle gera medo de atrair grupos mais
agressivos. A possibilidade de um dano indireto - que não foi visto
ainda - seria afastar consumidores dos shoppings". A matéria também
lembra as manifestações de junho, que derrubaram a popularidade da
presidente Dilma Rousseff.
Outros veículos preferiram relacionar o caso com a cultura associada a
periferia das grandes cidades brasileiras. A revista americanca The Atlantic fez a ligação dos rolezinhos com o funk ostentação. A Atlantic
entrevistou o ex-subprefeito de Cidade Tiradentes Renato Barreido. "Os
jovens aspiram carros e bebidas, um sinal de uma geração que, apesar de
ainda pobre, está mais integrada ao capitalismo".
Segundo a revista, a recente lei sancionada pelo prefeito Fernando Haddad pode estar relacionada com os rolezinhos. A lei, que foi apelidada de Lei do Pancadão,
prevê multa, que varia entre R$ 1 mil e R$ 4 mil, para donos de carros
com som alto na rua. O texto é interpretado como uma forma de coibir
bailes funk que ocorrem nas ruas. "A nova lei parece estar alimentando
um sentimento crescente entre os jovens da periferia de que não há
nenhum lugar para eles irem", diz a revista.
Já o espanhol El Pais
entrevistou quatro intelectuais brasileiros e publicou um texto ligando
a repressão aos rolezinhos às desigualdades sociais e ao racismo no
Brasil. "O Brasil coleciona histórias de discriminações nos centros
comerciais", diz o jornal, lembrando casos como o do músico cubano Pedro Damian Bandera Izquierdo,
que acusou o Shopping Cidade Jardim de racismo e discriminação e ganhou
uma indenização na Justiça. "O rolezinho chama a atenção para o fato de
que o Brasil é um país racista", diz Paulo Lins, autor do livro Cidade de Deus, ao jornal espanhol.
Um dos jornais mais prestigiados do mundo, o New York Times
publicou um artigo de opinião sobre os rolezinhos. No artigo "De quem é
este shopping?", a escritora Vanessa Barbara fala da repressão ao
movimento dos jovens, dos choques da polícia e dos esquemas de segurança
impostos pelo Shopping JK Iguatemi para impedir rolezinhos. "Tudo isso
porque os jovens querem (como eles escreveram no Facebook): 'subir e
descer a escada rolante', 'apertar todos os botões do elevador', 'entrar
no cinema pela porta de saída'. 'Vamos aparecer no shopping amanhã
porque a gente não tem nada para fazer', eles escreveram, em uma confusa
mistura de letras maiúsculas e gírias", diz Vanessa.
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Fonte: REDAÇÃO ÉPOCA
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