Angela Cave*
Famílias inteiras navegam nos seus “smartphones” enquanto tomam a
refeição nos restaurantes. Estudantes enviam mensagens durante as
aulas. Pais falam ao telefone quando assistem a eventos desportivos ou
peças de teatro dos seus filhos.
Não surpreende que os telemóveis afetem também as celebrações nas igrejas.
Tornou-se comum as paróquias destacarem nos seus boletins a
necessidade de silenciar os telemóveis, e leitores pronunciarem avisos
sobre o mesmo tema antes das celebrações, lembrando a assembleia que
está num espaço de oração.
Em algumas comunidades, os paroquianos prestam atenção aos
avisos, com as poucas exceções a serem protagonizadas por pessoas que
trabalham em emergências ou que não sabem como colocar os telemóveis no
silêncio. Noutras paróquias, os toques, o envio de mensagens ou até
fazer ou atender chamadas durante as liturgias podem distrair o
presidente e os outros fiéis.
Dorothy Sokol, que trabalha na paróquia de Nossa Senhora da
Graça, diocese de Albany, próximo de Nova Iorque, dá-se conta de
telemóveis a tocar e pessoas a escrever nos seus equipamentos, apesar
dos avisos afixados e dos anúncios feitos em sentido contrário.
Algumas pessoas não se apercebem de que estão a ofender os
outros, diz, acrescentando que, no entanto, isso distrai-a,
especialmente quando os pais deixam os filhos entretidos com jogos
eletrónicos nos telemóveis.
Alguns paroquianos usam o “tablet” ou o “smartphone” para seguir
as leituras bíblicas da missa, e nesse caso «há espaço» para essa
prática, assinala.
No que diz respeito ao envio de mensagens, «as pessoas têm de
estar conscientes de que estão na igreja a rezar com uma comunidade, e
tentar, se possível, afastar as distrações», declarou a colaboradora
paroquial ao jornal da diocese de Albany.
Quanto aos adolescentes imersos nas mensagens, Dorothy não sabe
qual a melhor atitude: «O que é que lhes dizemos? Repreendemo-los quando
os pais estão sentados ao lado deles e não dizem nada?».
«A última coisa que eu quero é que eles deixem de vir. Temos de
pensar qual é a melhor solução. Infelizmente, perguntar “o que é que
Jesus faria” não é uma boa opção – o Filho de Deus nunca teve um
telemóvel», refere.
O padre Richard Carlino, pároco das comunidades de S. João
Evangelista e Santo António, em Schenectady, considera-se um forte
defensor do silenciamento dos telemóveis. Na maior parte dos casos as
pessoas colaboram, mas algumas não ouvem o aviso no início da missa.
«Tira-me toda a concentração», diz o sacerdote, quando um
telefone toca durante a celebração, embora não acredite que os fiéis se
esqueçam dele ligado propositadamente.
Nos últimos meses teve de falar com os paroquianos sobre o envio
de mensagens, que considera menos distrativo do que um toque de
telemóvel, mas «ainda assim uma distração daquilo que eles deviam estar a
fazer na igreja. As suas cabeças não estão em Deus. Há exceções, mas
deviam ser poucas».
Mesmo assim, nem tudo é negativo para o padre Richard: «Fico
feliz por eles estarem na igreja, mesmo que estejam a fazer o que não
deviam».
O padre Thomas Holmes, da mesma diocese, fica tão frustrado pela
escassa etiqueta tecnológica na missa que já brincou com a
possibilidade de instalar um dispositivo para impedir que o sinal da
rede chegue dos telemóveis.
O sacerdote conta que quase todos os fins de semana há
telemóveis a tocar durante a missa, muitas vezes durante a consagração:
«Já disse algumas vezes: “Deve estar a brincar comigo”. Acho que eles
devem ficar embaraçados”».
Há um aviso à porta de uma das igrejas confiadas ao padre Holmes
que pede a quem entra para desligar os telemóveis. Mas o pároco ficou
espantado e desapontado quando reparou que alguém tinha riscado as
palavras. «É desmotivador. Não há motivo para que alguém tenha o
telemóvel ligado na igreja.»
Já diversas vezes o padre Holmes observou adolescentes e jovens
adultos a enviar mensagens na missa, mas nunca confrontou ninguém. Este
hábito só o distrai se ele se dá conta durante a celebração, mas ainda
assim gostava que nunca ocorresse dentro da igreja.
Afastar a tecnologia de quem vai à missa é uma missão difícil:
«As pessoas estão viciadas. Há pais que me dizem que os seus filhos
enviam mensagens uns aos outros quando estão sentados lado a lado no
sofá».
«Em resumo, penso que as pessoas deviam ter um pouco mais de
senso no que diz respeito aos seus telemóveis. Elas esquecem-se onde
estão. É só uma hora das suas vidas», assinala.
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* Angela Cave
National Catholic Reporter
Trad./edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 18.11.2014
National Catholic Reporter
Trad./edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 18.11.2014
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