Moisés Mendes*
Estamos diante de um fenômeno que já merece análises mais cuidadosas.
Por que há tantos flagrantes de gente vestida correndo nas ruas de
Porto Alegre? O que levou oito pessoas (algumas redes sociais falam em
cinco) a sair com roupas, como se isso fosse absolutamente natural?
O mundo evoluiu para os costumes atuais, da exaltação ao nu total, a
muito custo, a partir das mudanças do início do século. Estamos em pleno
2038. Estão tentando voltar aos velhos tempos?
Todos devem estar lembrados de como tudo começou, 24 anos atrás. De
repente, como toda mudança radical, descobrimos que a roupa era apenas
um estorvo.
Foi naquele ano que uma mulher saiu nua em Porto Alegre, e foi
seguida por outra e depois mais outra. Até que andar nu passou a ser o
normal. E exportamos a moda do nu para o mundo.
As mulheres saíram nuas no Rio, em São Paulo, Bagdá, Milão, Nova
York, Cabul, Paris. Mas elas não aceitavam qualquer nu, queriam o
legítimo nu gaúcho.
E foi assim, todos estão lembrados, que os homens também passaram a
sair nus pelas ruas. No começo era estranho, porque muitos não tiravam o
carpim e o sapato social. E algumas cidades resistiram. Passo Fundo
levou cinco anos para aderir. Os passo-fundenses, lembre-se, andavam nus
e de botas.
No começo, era estranho ver executivos com pastas pretas e sem roupa.
Alguns continuaram usando a gravata como proteção. Mas só a gravata.
Não deu certo a tentativa dos tradicionalistas de usar lenço. Hoje, a
gravata começa a ser trocada pela opção de tatuar o adereço no peito, o
que é muito mais prático.
Por tudo isso, é surpreendente que algumas pessoas vestidas (dois
homens e duas mulheres) tenham sido fotografadas recentemente em
aparições-relâmpago em Porto Alegre.
Com que objetivo usam roupas? Seria mais um protesto contra o
presidente Jean Wyllys? Ou seria apenas uma jogada de marketing de
alguma antiga grife chinesa, na tentativa de ressuscitar o costume de
usar roupas?
Só para lembrar, o ano em que se decidiu que todos andariam nus foi
aquele em que o Grêmio goleou o Inter por 4 a 1 e poderia ter feito
mais, poderia ter feito sete. Aquele ano em que o Lobão e o filho do
Bolsonaro lideraram uma tentativa de golpe. O ano em que liberaram a
maconha no Uruguai. Em que o Roberto Carlos comeu carne e depois cuspiu
fora.
Foi também o último ano de sucesso do Google e do Facebook. Quem se
lembra do Facebook, do Orkut e de um telefone que se chamava iPhone?
***
O mundo pode até trazer algumas invenções de volta, mas não o
incômodo das roupas. É questão de bom gosto. Só falta aparecer um homem
com terno de ombreiras. Imagine uma mulher de corpinho. Por tudo isso, a
passeata das mulheres vestidas, programada para sair da Feira do iPad e
ir até a ciclovia em construção na Ipiranga, é um acinte.
É claro que há coisas do tempo antigo das quais não podemos abrir
mão. Ainda amamos os Rolling Stones (Mick Jagger não envelhece!!!), e
Paul McCartney deve vir 14 vezes ao Brasil no ano que vem.
Mas algumas coisas não se repetirão nunca mais. Como a blusa de gola
rulê e esses 9 a 1 com que a Seleção comandada pelo técnico Murtosa
humilhou a Alemanha na final da Copa, na semana passada.
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* Colunista da ZH
Fonte: ZH online, 11/11/2014
imagem da Internet
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