ENTREVISTA
Escritor americano lança ensaio sobre o que a arquitetura nacional, especialmente Brasília, revela sobre o país
Benjamin
Moser tornou-se best-seller nos Estados Unidos escrevendo sobre o
Brasil – e, na sequência, fez sucesso também por aqui. Autor da
biografia Clarice, sobre Clarice Lispector, publicada nos Estados Unidos
com o título de Why this World?, Moser está lançando agora um breve
ensaio sobre o quanto o projeto monumental da construção de Brasília tem
a dizer a respeito do pensamento nacional. Cemitério da Esperança,
e-book editado pela Cesárea, é um texto no qual Moser analisa as grandes
reformas urbanas brasileiras e encontra nelas um ponto em comum: a
ideia de apagar os problemas do Brasil passando uma borracha no espaço
público e recomeçando do zero seguindo modelos importados. Nenhum lugar,
para Moser, representa tanto essa ideologia quanto Brasília, capital
construída no meio do cerrado, joia da arquitetura modernista e que
deveria representar o ingresso da nação em um futuro grandioso que o
Brasil mereceria por seu infinito potencial. O resultado é uma
arquitetura melancólica, feia e desumana, na
visão do jornalista. Publicado em e-book e comercializado diretamente no
site da editora (cesarea.com.br) por R$ 3, o livro de Moser é também
uma ação militante. A renda do livro será revertida para o movimento
Ocupe Estelita, que surgiu em oposição a um projeto imobiliário de luxo
em Recife. Chamado de “Novo Recife”, o empreendimento pretende levantar
12 torres na região do cais, próximo ao centro histórico da capital
pernambucana – o Ocupe Estelita luta por um projeto alternativo para a
área que não descaracterize nem elitize o espaço.
Como surgiu seu interesse pela arquitetura brasileira e pela interpretação possível que ela oferece do Brasil?
Para quem sabe olhar uma cidade ou um prédio, é como um psicanalista escutar uma brincadeira ou um sonho. Revela tudo, e sobretudo revela coisas que a pessoa não pretende revelar. E como eu venho muito ao Brasil, há muitos anos, fiquei fascinado pelo que o país, nos seus prédios, fala e não fala. São extremamente eloquentes, como em todos os países.
Em sua opinião, quais as razões para a paixão brasileira pelo progresso desenvolvimentista, algo ainda presente em projetos como a transposição do Rio São Francisco ou as obras da Copa?
Colocaria a palavra “progresso” entre grandes aspas. Mas responderia em uma palavra: vergonha. Vergonha do país. Se você ler as justificativas históricas das remodelações das cidades brasileiras, começando pelo Rio de Janeiro de Pereira Passos e a criação da Avenida Central no início do século 20, você nota um desejo de recomeçar, de fazer com que o país seja diferente, e de desprezar o nacional, o local, o que já existe. Ontem o modelo foi Paris, hoje é Miami, amanhã seria, quem sabe, Dubai. E o que acontece, como se vê hoje, é que há um vínculo direto entre os gastos megalomaníacos em projetos “pra inglês ver” e o declínio econômico. Acho que os protestos dos últimos anos em torno da Copa, por exemplo, mostram que o cidadão entende isso muito bem.
Tirando exemplos pontuais, muito pouco da arquitetura brasileira da época da fundação de Brasília ainda está disponível. Em que essa recorrência da substituição do velho pelo novo é algo diferente, no Brasil, de outros países como os próprios Estados Unidos, por exemplo, também uma nação cativada pela ideia de inovação?
A ideia de inovação é diferente. Diria que no Brasil é muito mais ideológico. No campo de urbanismo e arquitetura, há mais de um século, vemos uma ideologia extensamente articulada: mudaremos o país com a destruição de nossas cidades. Por isso começo com a remodelação do Rio de Janeiro nos primeiros anos do século 20. Era um movimento extremamente violento, e embora pareça brincadeira, não é: o “Morro da Favela” foi colonizado por pessoas pobres expulsas para criar o Theatro Municipal, uma coisa pretensiosa, tudo em ouro, no melhor estilo parisiense. Isso não é inovação, é perversão.
Você comenta, em Cemitério da Esperança, que Brasília é o ápice de um pensamento nacional de construir um futuro escondendo ou apagando os problemas do passado. É um de pensamento que ainda persiste na sociedade contemporânea que discute, com dificuldade, o período da ditadura militar, por exemplo?
Eu passei muitíssimo tempo no Brasil e creio que conheço o país bem. E como estrangeiro sinto-me obrigado a falar coisas que a maioria dos brasileiros não pode. Não porque não saibam ou não queiram. Mas entrei na briga com Caetano Veloso e cia. contra o projeto de censura às biografias (em 2013) justamente porque sei como é difícil para os jornalistas brasileiros, os escritores brasileiros. Como estrangeiro, posso falar, porque não dependo do Brasil, não vivo aqui. Mas quando fiz a biografia de Clarice Lispector, fiquei atônito pela quantidade de coisas que botei no meu livro que as pessoas acharam “corajosas.” Não eram. Como dizer que Mario de Andrade era homossexual. Mas tantas vezes me disseram: “Aqui não se pode falar isso. Se eu falasse isso ou aquilo perderia meu emprego no jornal, na faculdade.” Isso impera em muitas áreas. E o ruim do projeto de censura às biografias é que, como tantas coisas no Brasil, não é uma ameaça direta. Esse não é o estilo brasileiro. Mas é um aviso. Porque quem vai comprar briga com gente poderosa? Então há grandes, imperdoáveis silêncios no Brasil. A ditadura militar é um dos maiores.
Ainda a respeito disso: seu ensaio equipara a própria cidade de Brasília a um tipo de arquitetura monumental própria de regimes ditatoriais. É significativo disso que, logo após sua construção, Brasília foi apropriada pelo governo ditatorial instalado depois do golpe de 1964?
Claro! Brasília quase não deu certo. Era enorme e caríssima. E há quem tenha dito – e é um assunto que nunca estudei profundamente – mas há quem tenha dito que o próprio golpe militar foi resultado de Brasília. Não foi o único motivo da crise econômica, mas era uma coisa que endividava o país bastante. E a crise econômica era uma grande justificativa para o golpe. Depois, naquele sonho de Ordem e Progresso, os militares sentiam-se perfeitamente à vontade.
A arquitetura brasileira, bem como muitos outros setores da sociedade nacional, sempre parece pensada para dar ou mostras de status ou para edificar uma ideia ideal de nação que dispensa o público, o povo, a escala humana. Que tipo de mudança deveria ocorrer para que o desenvolvimento voltasse a pensar nas pessoas mais do que em números?
Escrevi em apoio ao Ocupe Estelita justamente porque não é um movimento revolucionário. É um movimento que diz, simplesmente, que as cidades devem pertencer ao cidadão e não a algum prefeito corrupto amigo de uma construtora que usa trabalho escravo. (Parece exagero: não é.) As pessoas no Brasil inteiro estão muito desmotivadas com o que vem acontecendo em todas as cidades do país, sem nenhuma exceção que conheça, nos últimos vinte anos. O país está cada dia mais feio e todo mundo o sabe. Mas não é verdade que nada se pode fazer. Como não é verdade que não há, no Brasil ou no mundo, pensadores e arquitetos que falam destes problemas, e oferecem soluções maravilhosas, há quase 50 anos. O povo precisa exigir governos que começam pelo que já temos, pelo que já aprendemos. E os intelectuais precisam educar as pessoas para que entendam que um shopping monstruoso não é uma inevitabilidade do destino. É uma escolha política que precisamos rejeitar.
A renda obtida com a venda do ensaio será destinada ao movimento Ocupe Estelita, que luta contra a construção de torres de edifícios no cais de Recife. Você vê seu texto sobre Brasília como um alerta para que não se repita o sistemático apagamento do passado em benefício de um futuro de progresso?
De novo, “um futuro de progresso” não é o que vejo num projeto tão monstruoso como o do Recife. Vejo uma coisa muito antiga, um desejo de apagar o país, de transformar o cidadão num humilde consumidor, de impor uma visão do futuro que não tem nada a ver com as coisas boas do Brasil. Não posso entender que uma pessoa que queira destruir o Recife, que é uma das pérolas do país, esteja agindo com amor ao Brasil. Pelo contrário.
Você também não poupa críticas a Oscar Niemeyer, a quem define no livro como um homem que “nunca conseguiu dizer não a um tirano”. Brasília é, para você, resultado dessa admiração de Niemeyer pela autoridade totalitária?
Claro. Eu falo isso, mas quem fala da admiração dele pelos tiranos é o próprio Niemeyer. No Brasil, ele passou a ser visto como uma espécie de vovó louco e racista mas querido, excêntrico. Mas só podemos achar fofo se não o levamos a sério. Mas o que o Niemeyer fala de Stálin, de Castro, e de tudo mais, é sério. E não podemos passar por alto do que ele diz, porque era uma pessoa extremamente poderosa e respeitada. É preciso dizer que esse respeito não era merecido de jeito nenhum.
O senhor é um visitante frequente do Brasil, e já esteve aqui em Porto Alegre. Além de Brasília, que está à parte do país, como o senhor menciona no ensaio, qual é o traço distintivo que o senhor enxerga nas capitais do Brasil?
Enxergo um país enorme e diverso e belo, mas que está se canibalizando. Pelo trânsito monstruoso, pelos prédios horríveis: bom, isso aqui se chama Manaus, e isso é Recife, e isso é Curitiba, mas está cada vez mais parecido, cada vez mais sem caráter. Logo o Brasil ficar sem caráter é difícil. Mas está conseguindo
Em muitas cidades brasileiras, há um movimento ainda tímido de tentar apropriar-se das cidades e propor alternativas ao automóvel como meio de transporte. A própria São Paulo, maior cidade do Brasil, tem ensaiado algo do gênero, mesmo com muitas críticas. É possível casar a necessidade de crescimento de um país tão desigual como o Brasil a modelos urbanos adotados por nações em diferentes etapas de desenvolvimento, como França, Holanda ou mesmo os Estados Unidos?
Claro. O importante é entender que na Europa e também nos Estados Unidos, essas cidades bonitas que temos são resultado de uma luta enorme como a do Ocupe Estelita. Aqui na Holanda, nos anos 1950, havia um movimento para esvaziar os canais de Amsterdã, cobri-los com cimento e transformá-los em autoestradas. Parece mentira, mas não é. Porque as autoridades queriam ser “modernas”. Graças a Deus não conseguiram, mas em muitos lugares conseguiram destruir cidades históricas. E agora temos modelos maravilhosos, como em Nova York, onde transformaram um lugar fedorento, de indústria, de matadouros, num dos bairros mais bonitos da cidade. É preciso ver como as cidades podem ser revitalizadas, e felizmente para o Brasil há muitos modelos no mundo inteiro que mostram que a feiúra não é inevitável.
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ENTREVISTA: BENJAMIN MOSER POR CARLOS ANDRÉ MOREIRA
Como surgiu seu interesse pela arquitetura brasileira e pela interpretação possível que ela oferece do Brasil?
Para quem sabe olhar uma cidade ou um prédio, é como um psicanalista escutar uma brincadeira ou um sonho. Revela tudo, e sobretudo revela coisas que a pessoa não pretende revelar. E como eu venho muito ao Brasil, há muitos anos, fiquei fascinado pelo que o país, nos seus prédios, fala e não fala. São extremamente eloquentes, como em todos os países.
Em sua opinião, quais as razões para a paixão brasileira pelo progresso desenvolvimentista, algo ainda presente em projetos como a transposição do Rio São Francisco ou as obras da Copa?
Colocaria a palavra “progresso” entre grandes aspas. Mas responderia em uma palavra: vergonha. Vergonha do país. Se você ler as justificativas históricas das remodelações das cidades brasileiras, começando pelo Rio de Janeiro de Pereira Passos e a criação da Avenida Central no início do século 20, você nota um desejo de recomeçar, de fazer com que o país seja diferente, e de desprezar o nacional, o local, o que já existe. Ontem o modelo foi Paris, hoje é Miami, amanhã seria, quem sabe, Dubai. E o que acontece, como se vê hoje, é que há um vínculo direto entre os gastos megalomaníacos em projetos “pra inglês ver” e o declínio econômico. Acho que os protestos dos últimos anos em torno da Copa, por exemplo, mostram que o cidadão entende isso muito bem.
Tirando exemplos pontuais, muito pouco da arquitetura brasileira da época da fundação de Brasília ainda está disponível. Em que essa recorrência da substituição do velho pelo novo é algo diferente, no Brasil, de outros países como os próprios Estados Unidos, por exemplo, também uma nação cativada pela ideia de inovação?
A ideia de inovação é diferente. Diria que no Brasil é muito mais ideológico. No campo de urbanismo e arquitetura, há mais de um século, vemos uma ideologia extensamente articulada: mudaremos o país com a destruição de nossas cidades. Por isso começo com a remodelação do Rio de Janeiro nos primeiros anos do século 20. Era um movimento extremamente violento, e embora pareça brincadeira, não é: o “Morro da Favela” foi colonizado por pessoas pobres expulsas para criar o Theatro Municipal, uma coisa pretensiosa, tudo em ouro, no melhor estilo parisiense. Isso não é inovação, é perversão.
Você comenta, em Cemitério da Esperança, que Brasília é o ápice de um pensamento nacional de construir um futuro escondendo ou apagando os problemas do passado. É um de pensamento que ainda persiste na sociedade contemporânea que discute, com dificuldade, o período da ditadura militar, por exemplo?
Eu passei muitíssimo tempo no Brasil e creio que conheço o país bem. E como estrangeiro sinto-me obrigado a falar coisas que a maioria dos brasileiros não pode. Não porque não saibam ou não queiram. Mas entrei na briga com Caetano Veloso e cia. contra o projeto de censura às biografias (em 2013) justamente porque sei como é difícil para os jornalistas brasileiros, os escritores brasileiros. Como estrangeiro, posso falar, porque não dependo do Brasil, não vivo aqui. Mas quando fiz a biografia de Clarice Lispector, fiquei atônito pela quantidade de coisas que botei no meu livro que as pessoas acharam “corajosas.” Não eram. Como dizer que Mario de Andrade era homossexual. Mas tantas vezes me disseram: “Aqui não se pode falar isso. Se eu falasse isso ou aquilo perderia meu emprego no jornal, na faculdade.” Isso impera em muitas áreas. E o ruim do projeto de censura às biografias é que, como tantas coisas no Brasil, não é uma ameaça direta. Esse não é o estilo brasileiro. Mas é um aviso. Porque quem vai comprar briga com gente poderosa? Então há grandes, imperdoáveis silêncios no Brasil. A ditadura militar é um dos maiores.
Ainda a respeito disso: seu ensaio equipara a própria cidade de Brasília a um tipo de arquitetura monumental própria de regimes ditatoriais. É significativo disso que, logo após sua construção, Brasília foi apropriada pelo governo ditatorial instalado depois do golpe de 1964?
Claro! Brasília quase não deu certo. Era enorme e caríssima. E há quem tenha dito – e é um assunto que nunca estudei profundamente – mas há quem tenha dito que o próprio golpe militar foi resultado de Brasília. Não foi o único motivo da crise econômica, mas era uma coisa que endividava o país bastante. E a crise econômica era uma grande justificativa para o golpe. Depois, naquele sonho de Ordem e Progresso, os militares sentiam-se perfeitamente à vontade.
A arquitetura brasileira, bem como muitos outros setores da sociedade nacional, sempre parece pensada para dar ou mostras de status ou para edificar uma ideia ideal de nação que dispensa o público, o povo, a escala humana. Que tipo de mudança deveria ocorrer para que o desenvolvimento voltasse a pensar nas pessoas mais do que em números?
Escrevi em apoio ao Ocupe Estelita justamente porque não é um movimento revolucionário. É um movimento que diz, simplesmente, que as cidades devem pertencer ao cidadão e não a algum prefeito corrupto amigo de uma construtora que usa trabalho escravo. (Parece exagero: não é.) As pessoas no Brasil inteiro estão muito desmotivadas com o que vem acontecendo em todas as cidades do país, sem nenhuma exceção que conheça, nos últimos vinte anos. O país está cada dia mais feio e todo mundo o sabe. Mas não é verdade que nada se pode fazer. Como não é verdade que não há, no Brasil ou no mundo, pensadores e arquitetos que falam destes problemas, e oferecem soluções maravilhosas, há quase 50 anos. O povo precisa exigir governos que começam pelo que já temos, pelo que já aprendemos. E os intelectuais precisam educar as pessoas para que entendam que um shopping monstruoso não é uma inevitabilidade do destino. É uma escolha política que precisamos rejeitar.
A renda obtida com a venda do ensaio será destinada ao movimento Ocupe Estelita, que luta contra a construção de torres de edifícios no cais de Recife. Você vê seu texto sobre Brasília como um alerta para que não se repita o sistemático apagamento do passado em benefício de um futuro de progresso?
De novo, “um futuro de progresso” não é o que vejo num projeto tão monstruoso como o do Recife. Vejo uma coisa muito antiga, um desejo de apagar o país, de transformar o cidadão num humilde consumidor, de impor uma visão do futuro que não tem nada a ver com as coisas boas do Brasil. Não posso entender que uma pessoa que queira destruir o Recife, que é uma das pérolas do país, esteja agindo com amor ao Brasil. Pelo contrário.
Você também não poupa críticas a Oscar Niemeyer, a quem define no livro como um homem que “nunca conseguiu dizer não a um tirano”. Brasília é, para você, resultado dessa admiração de Niemeyer pela autoridade totalitária?
Claro. Eu falo isso, mas quem fala da admiração dele pelos tiranos é o próprio Niemeyer. No Brasil, ele passou a ser visto como uma espécie de vovó louco e racista mas querido, excêntrico. Mas só podemos achar fofo se não o levamos a sério. Mas o que o Niemeyer fala de Stálin, de Castro, e de tudo mais, é sério. E não podemos passar por alto do que ele diz, porque era uma pessoa extremamente poderosa e respeitada. É preciso dizer que esse respeito não era merecido de jeito nenhum.
O senhor é um visitante frequente do Brasil, e já esteve aqui em Porto Alegre. Além de Brasília, que está à parte do país, como o senhor menciona no ensaio, qual é o traço distintivo que o senhor enxerga nas capitais do Brasil?
Enxergo um país enorme e diverso e belo, mas que está se canibalizando. Pelo trânsito monstruoso, pelos prédios horríveis: bom, isso aqui se chama Manaus, e isso é Recife, e isso é Curitiba, mas está cada vez mais parecido, cada vez mais sem caráter. Logo o Brasil ficar sem caráter é difícil. Mas está conseguindo
Em muitas cidades brasileiras, há um movimento ainda tímido de tentar apropriar-se das cidades e propor alternativas ao automóvel como meio de transporte. A própria São Paulo, maior cidade do Brasil, tem ensaiado algo do gênero, mesmo com muitas críticas. É possível casar a necessidade de crescimento de um país tão desigual como o Brasil a modelos urbanos adotados por nações em diferentes etapas de desenvolvimento, como França, Holanda ou mesmo os Estados Unidos?
Claro. O importante é entender que na Europa e também nos Estados Unidos, essas cidades bonitas que temos são resultado de uma luta enorme como a do Ocupe Estelita. Aqui na Holanda, nos anos 1950, havia um movimento para esvaziar os canais de Amsterdã, cobri-los com cimento e transformá-los em autoestradas. Parece mentira, mas não é. Porque as autoridades queriam ser “modernas”. Graças a Deus não conseguiram, mas em muitos lugares conseguiram destruir cidades históricas. E agora temos modelos maravilhosos, como em Nova York, onde transformaram um lugar fedorento, de indústria, de matadouros, num dos bairros mais bonitos da cidade. É preciso ver como as cidades podem ser revitalizadas, e felizmente para o Brasil há muitos modelos no mundo inteiro que mostram que a feiúra não é inevitável.
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ENTREVISTA: BENJAMIN MOSER POR CARLOS ANDRÉ MOREIRA
Fonte: ZH online, 30/11/2014
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