Carlos Poças Falcão*
Ele disse:
«lava a tua casa retira os móveis todos
aí quero dançar»
«lava a tua casa retira os móveis todos
aí quero dançar»
assim o Senhor dança nos salões vazios:
semelhante a um turíbulo
espalha o seu perfume
semelhante a um turíbulo
espalha o seu perfume
não fechei as portas
abri as janelas: os ladrões evitam
a casa iluminada
abri as janelas: os ladrões evitam
a casa iluminada
fiz tapetes de flores
pus grinaldas na entrada
pois é muito grande a festa de Um só convidado
pus grinaldas na entrada
pois é muito grande a festa de Um só convidado
espero nas traseiras e ceio no umbral
o Senhor ocupa-me
e a casa toda é sua
o Senhor ocupa-me
e a casa toda é sua
sirvo na bandeja as mais frescas iguarias
os frutos colhidos
nos dias de canseira
os frutos colhidos
nos dias de canseira
o Senhor dorme no leito e eu estou acordado
o Senhor levanta-se
e eu não posso dormitar
o Senhor levanta-se
e eu não posso dormitar
a água sai pura
das suas lavagens
lavo-me na água que o Senhor usou
das suas lavagens
lavo-me na água que o Senhor usou
de manhã o Senhor veste-se
com a roupa que lhe trago
come do que tenho – e assim eu empobreço
com a roupa que lhe trago
come do que tenho – e assim eu empobreço
visto o meu Senhor e eu o alimento
assim fico sem nada
e Ele me sustém
assim fico sem nada
e Ele me sustém
que eu nunca me atrase à chamada do Senhor
não vá Ele mostrar-me
não precisar de mim
não vá Ele mostrar-me
não precisar de mim
que eu não seja dos que perdem
primaveras e outonos
que não seja contado entre os ignorantes
primaveras e outonos
que não seja contado entre os ignorantes
enquanto o Senhor dança o meu coração exulta:
que Deus este que não para
de se mover por mim!
-------------------------------que Deus este que não para
de se mover por mim!
*Carlos Poças Falcão é poeta português. Uma das mais importantes vozes da poesia moderna portuguesa.
Fotografia: © Seiji Shibuya
Fonte: http://www.snpcultura.org/acesso 29/11/2014
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