segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Ao meu irmãos Tito

Ben Strik *


Quando, depois de 22 anos no Brasil cheguei no fim de 1971 na Holanda, me disseram em 1987, que o Tito esteve por alguns dias com os Dominicanos na Holanda. Tinha então já recebido em 1986, das mãos de Frei Betto, em Perdizes, São Paulo, o livro ‘Batismo de Sangue’, que me fez chorar dias. Ele pôs fim à sua vida, penso, porque não entendia que criaturas humanas eram capazes de tanta bestialidade refinada da qual ele foi vítima. Isto o levou a não ter mais fé na política, na psicologia e na religião. Aliás, ele já tina morrido em 1970 durante as torturas inacreditáveis.

Ainda aguentou 4 anos a perseguição prometida pelos seus algozes e pos em seguida simbolicamente fim a sua vida numa árvore perto de um lixeiro da cidade de Lião na França. Fomos lá para sentir no convento, no cemitério dominicano e na L’Arbresle, todos os momentos de luta dele para não perder por completo o controle sobre a sua mente que eles lhe prometeram. Teve, com lucidez, a coragem de se despedir, evitando assim de enlouquecer.

Em 1987 fiquei, depois da leitura dos sofrimentos de Tito, uns dias perplexo e abalado, o que se, depois, transformou numa força estupenda de revolta contra os torturadores "livres pela anistia" junto com as suas vítimas, "os torturados". Só possível pelo progresso econômico capitalista dos generais o que lhes forneceu a benevolência de boa parte da população que participou assim, sem revolta imediata, deste crime horroroso.

O meu primeiro impulso era voar ao Brasil para ir ao encalço destes criminosos, que livremente podiam gozar da vida, mas não tinha os meios de ir. Logo em seguida me levou, como remédio, a escrever a sua biografia completa. Em primeiro lugar para despertar nos jovens holandeses o desejo de amar como Tito os menos favorecidos de sorte. Fui a procura de informações no Brasil e na internet. Gastei 17 anos em perscrutar montes de material encontrado. Como tambem na casa de Nildes, sua irmã querida, que guardou escrupulosamente num quarto tudo do Tito que encontrou. Da juventude dele vim a conhecer muito pelas entrevistas com ela. Meditei bastante sobre a matéria recolhida e a personalidade de Tito. Em 2005 lançamos em Nimega com sucesso o livro "Sterven om te Leven", Morrer para Viver, na presença de muitos colaboradores da nossa Fundação Tito de Alencar, ereta em 1987 em homenagem a ele. A casa Brasilhoeve foi benta pelo grande amigo de Tito, outro herói, Dom Tomáz Balduino.

Pouco depois a Dolly Jurrius, que viveu toda a sua juventude no Brasil, se ofereceu de traduzir o livro para o portugues. Depois dos retoques do nosso amigo João Bosco Feres que esteve preso em Belo Horizonte, no mesmo ano de Tito, 1969, mandamos, em 2007, com a ajuda de amigos, imprimir 80 exemplares na Holanda, a maioria enviado gratuitamente a amigos brasileiros e holandeses no Brasil. Feitas as correções apresentadas pela família de Tito e de frei Betto Libânio Cristo mandamos em agosto de 2009 imprimir 1000 exemplares em Vitória (ES). Para apresentar à juventude brasileira um heroi digno de honra e um exemplo a seguir.

Para mim mesmo foi a edição uma vitória sobre os algozes de Tito, que tinham procurado de fechar-lhe a boca. Ainda vive em mim a esperança da condenação deles, junto com os seus mandantes os generais, mesmo já falecidos, que instigados pelos Estados Unidos, trairam a sua pátria. Causaram assim a continuação de esquecimento de milhões de brasileiros, já séculos vítimas de uma colonização malfeita e de uma escravidão criminosa.

Para mim foi o mais importante de ter encontrado um amigo de luta. Que como eu, deu, por vocação, a sua vida pelos seus semelhantes em perigo de vida. Não suportando o menosprezo pelos necessitados e que deu, para não trair os seus amigos, a sua vida preciosa. A curta vida dele, salvando jovens idealistas se encaixou perfeitamente na minha, vivida na guerra de 40-45, salvando muitos jovens das mãos dos nazistas.

Nos dois meses e meio, de 1 de setembro até 15 de novembro de 2009, senti nos meus muitos discursos pela costa brasileira de Curitiba até Fortaleza, cidade de nascimento do Tito, quase como um milagre, sua força estupenda do espírito dentro de mim. A minha voz, atacada pela fraqueza de meus pulmões, cantando e falando, voltou em todo o seu fulgor. As muitas mensagens pela rádio, TV e em público eram de nós dois. Para despertar no povo e nos ativistas para um mundo melhor o espírito de luta. Tito continua assim a viver para tirarmos no Brasil, finalmente, as consequências da escravidão, que ainda persiste no Brasil. Vamos a frente para 2014 e 2016! Para apresentar um Brasil não só grande em tamanho gigante, mas também encaminhando-se a incluir "os esquecidos" em lugar de afastá-los da sociedade. Está na hora. Vamos para frente juntos no espírito de Tito.

Rucphen, Holanda, 24 de novembro de 2009 Ben Strik
* Holandês. Tornou-se sacerdote salesiano; trabalhou no Brasil de 1950 a 1972 entre indígenas, jovens e camponeses. Na Holanda, casa-se e cria três fundações de ajuda ao Brasil
FONTE: Adital, 07/12/2009

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