Ciprian Vǎlcan *
Os médicos mongóis acreditavam que os loucos podiam ser curados
caso fossem atirados a uma caldeira de água fervente.
Paracelso nutria
a convicção de que só a neve era capaz de tratar uma mente
perturbada, recomendando que os loucos passeassem pelados durante o
inverno.
Agrippa achava que a loucura podia ser superada apenas se o
doente ingerisse, ao longo de três meses, carne de unicórnio.
Rousseau, ameaçado pela loucura, foi orientado no sentido de comer
pulmão de cisne e uvas.
Hölderlin foi tratado a chibatadas de urtiga e
banhos de piche.
Sem qualquer êxito, um médico russo tratou a loucura
de Nietzsche com cócegas nas solas dos pés.
Rasputin curou a loucura
de um guarda-livros do czar, obrigando-o a passar uma noite inteira
na jaula de um urso.
Um psiquiatra finlandês, grande admirador
de Weininger, alegava poder curar os melancólicos após obrigá-los
a passar 24 horas trancados num cômodo junto com uma velha pelada de
80 anos.
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* Ciprian Vǎlcan é um filósofo e escritor romeno, especialista em Emil Cioran. Sua tese,La concurrence des influences culturelles françaises et allemandes dans l’oeuvre de Cioran (“A
concorrência das influências francesas e alemãs na obra de Cioran”),
defendida na Sorbonne, acabou sendo publicada na Romênia pela Editura
Institutului Cultural Român, em 2008. Ciprian (pronuncia-se
“Tchiprian”) Vǎlcan nos dá o privilégio de saborear, em primeira mão,
alguns dos aforismos de seu livro ainda inédito, Amiel şi canibalul (“Amiel e o canibal”), a ser publicado ainda este ano na Romênia. Fernando Klabin, já conhecido pela tradução de Nos cumes do desespero,
é quem verteu essas pérolas, com toda propriedade linguística, do
romeno para a nossa língua. Abaixo, cinco aforismos para o leitor de
Cioran se familiarizar com outros mestres do pensamento do país de
Cioran. Em português e em romeno, o que permite sentir a sonoridade
desta última e perceber as semelhanças entre ambas.
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