Abrão Slavutzky*
Amizade sempre é imperfeita, quem busca o amigo perfeito vai, com certeza, se desiludir. Felizmente somos imperfeitos, falhamos ao não ser divinos maravilhosos. Creio que foi um equívoco definir o homem como tendo sido feito à imagem e semelhança divina. Essa frase nos idealiza, e a condição humana não deveria ser idealizada. Ora, da mesma forma, as amizades, por melhores que sejam, revelam conflitos e desencontros. Diz-se que um amigo é o espelho de nossa alma. Entretanto, não sempre, e ainda bem, pois do contrário não se teria um amigo, mas um clone.
O bom da amizade é não reforçar sempre a boa imagem que temos de nós, mas advertir, e até criticar. São palavras fraternas que servem como proteção, como limite. O importante é o clima de generosidade entre amigos. Além do que, ao longo da vida se troca de amizades, devido a um sem-número de fatores e desencontros. Ora, para quem tem uma vida dinâmica, nada fica imóvel, os amigos e os amores também se movimentam. Logo, os amigos de verdade não precisam ser para sempre. O problema não é mudar de amigos, mas viver isolado.
Hoje também é tempo de relações virtuais, que convivem com as reais. Elas não se excluem, até arriscaria dizer que a internet pode melhorar a fraternidade. Estamos nos comunicando mais, com amigos de cidades distantes e países do outro lado do mundo. Lendo aqui no computador ou escrevendo, é possível gerar o entusiasmo que faz a morte recuar. Graças às palavras amigas, é possível se fortalecer para enfrentar o desamparo quando se perde o norte. E poucas práticas são mais agradáveis que a conversação, um exercício que enriquece a alma. Viver com acerto passa pela arte da amizade.
Os amigos dizem quem somos, torcem pela gente, e a torcida empurra o time na busca da vitória. E, quando perdemos, os amigos não vaiam e até aliviam o desânimo. Quanta emoção é escutar boas palavras, palavras que emocionam. São as relações fraternas que afrouxam o nó da nossa solidão, aliviam o vazio que sentimos diante dos perigos da existência. São relações que encorajam o viver. E convém não esquecer que, diante da precariedade da sociedade, a esperança se alimenta da fraternidade.
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*PSICANALISTA
Fonte: ZH on line, 08/02/2013
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