Oscar Daniel Corbella*
Os gregos antigos o sabiam, melhor que os gregos atuais: o Planeta tem uma superfície finita.
Mediram as sombras de estacas iguais em cidades diferentes, à mesma
hora, e chegaram à conclusão de que a Terra era redonda; chegaram a
calcular seu diâmetro com um valor vizinho ao que conhecemos atualmente.
A Terra não era mais plana e de superfície infinita, como se acreditava
até o momento.
Porém há pessoas que ainda hoje não se convenceram. Continuam a
pensar que a superfície é infinita, assim como os recursos que se podem
tirar dela. São os capitalistas ortodoxos.
Concebem o mundo como uma superfície em expansão da qual se podem
extrair recursos em quantidades cada vez maiores. Não há limite da água a
utilizar nem a poluir, a eletricidade vai continuar sua expansão, pois
não tem limite o minério de cobre a extrair. Terminou o estanho na
Bolívia? Não tem importância sempre haverá mais montanhas a derrubar em
outras partes do mundo. Com o petróleo, mesma coisa, só aumentar o preço
que aparece em outro lado. No ano passado foram despejadas 30.000.000
Toneladas de CO2 na atmosfera? Mas, o volume da atmosfera não tem
limites! Não se pode parar o desenvolvimento, o consumo, o que é que
vocês querem?! Vocês estão contra a filosofia da civilização ocidental!
E sim. Se soubermos que o planeta é finito, então se deve pensar em
extrair o menos possível e reciclar, e usar a tecnologia para isso, para
aumentar a qualidade de vida sem ferir a natureza; parar a competição
consumista, ajudando a preservar a humanidade em nossa Terra.
A tarefa é pensar soluções. Assim vamos para a borda do abismo; tem que se parar e modificar o rumo.
Os meninos tem que crescer. Os adultos não; por definição: só é
adulto quem não cresce mais. Deve se pensar na sociedade humana da mesma
maneira. Uma parte ainda deve crescer, mas outra, que já é adulta não
deve crescer ainda mais. Se não converte-se em um crescimento
indesejado, como um câncer.
Neste momento a crise do sistema obrigará os europeus a mudar seus
hábitos de consumo. Eles não querem; estão pressionados pela televisão,
pela propaganda, pela cultura estabelecida pelo capitalismo, a consumir
mais; e sofrem, em lugar de fazer alguma coisa para auxiliar os que
realmente passam fome. Na Europa ou no “Terceiro Mundo”.
Alguém calculou que se todos os habitantes do Mundo tivessem o nível
de vida da classe média europeia ou norte-americana, para 2050 a
necessidade de insumos seria tão grande que a superfície para a extração
deveria ser do tamanho de duas Terras.
Sete bilhões de pessoas que devem comer e defecar todos os dias, mais
dois bilhões esperados até 2050, põem problemas irresolúveis para uma
sociedade capitalista regida pelas leis do mercado, pela competitividade
e pela falta de fraternidade.
O crescimento da população na Terra
Constata-se que há mais nascimentos que óbitos. Portanto a população
da Terra cresce. Todos concordam em que o crescimento deve ter um
limite, porque a superfície da Terra tem um limite. Porém, tem zonas com
população demais e outras onde esta pode crescer muito sem acarretar
problemas. A América do Sul tem uma densidade menor que 20 habitantes
por quilômetro quadrado, ao passo que Inglaterra tem mais de 200. Logo
há regiões que podem crescer e zonas onde isto não é muito conveniente.
Também devemos considerar que nas regiões onde a cultura é tal que os
futuros pais acham que tem responsabilidades para com seus filhos (por
exemplo, trabalhar mais para lhes dar de comer, ou conhecem algum método
anticoncepcional) se produz um número menor de nascimentos. Será
possível estabilizar o número de pessoas vivas em torno de um valor
compatível com as necessidades da vida?
Voltando para o modelo da comparação da sociedade humana com o corpo
vivo de um adulto. Este último vive numa estabilidade dinâmica: células
morrem e outras nascem, partes se deterioram e são melhoradas pelos
médicos, ou por curas psicológicas, ou pelas defesas naturais. Será
possível atingir um estado similar para a sociedade humana? O limite
será dado pela tecnologia dos alimentos, pela saúde da terra, e pela
preservação da natureza.
Fraternidade
O primeiro problema a resolver é potencializar a fraternidade. No
corpo humano as células sanguíneas levam oxigênio e alimentos para todas
as partes que pertencem à unidade. E se não são atacadas, interferidas
ou problematizadas, cumprem com sua função de manter o corpo vivo nas
melhores condições, e dar indicações de perigos ou necessidades. Por
exemplo, se não tiver água e alimentos sólidos suficientes, após um
tempo as células vão-se desorganizar.
A necessidade de água e alimentos sólidos é primordial, e o corpo
como um todo vai-se mobilizar para encontrá-los e, se necessário,
colaborará com uma incipiente sociedade organizada para consegui-lo, na
qual todos devem contribuir para isso.
Com a Terra se passa algo similar, mas com a diferença de que o
alimento está assegurado. Em todo momento o Sol está enviando toda a
energia necessária, e muito mais, para manter a vida sobre o Planeta. A
Terra toma a que precisa, processa e emite o resto de que não necessita.
Assim foi nos últimos 250 milhões de anos de presença humana sobre a
Terra. Agora estamos atacando esse equilíbrio.
Tem-se que ajudar a mudar o paradigma criado pela televisão de que é
possível uma “sociedade” de competidores. Uma sociedade precisa de
sócios não de inimigos. A necessidade de se defender dos perigos cria
bloqueios de comunicação, mas quais são os perigos se a sociedade for
fraternal? Fraternal deriva de “frate” ou irmão, aquele que tem uma mãe
em comum, e por extensão uma pátria comum, ou é um “sócio” que tem uma
tarefa ou um conceito comum. A presença no inconsciente da educação
sobre a existência de “Cain versus Abel” leva ao possívelintercambio de
explosões atómicas entre Israel e os países árabes. Isso deve ser
mudado.
Consequência: Limite físico para as cidades sustentáveis
Quando em 1998 escrevíamos que era necessário criar novas cidades
sustentáveis e produtivas para sair da crise do capitalismo que nos
estava arrastrando a todos, afirmávamos que essas cidades deviam ser
limitadas fisicamente. Sem limites físicos não é possível pensar em
sustentabilidade. A existência da contaminação atmosférica, de
vergonhosas favelas e da violência são consequência direta da falta de
limites físicos, e por que não, de toda falta de limites que organizem a
sociedade em termos de fraternidade.
Uma rede de cidades sustentáveis, que cresçam como as células
humanas, dividindo-se e criando outras na medida em que evoluam, poderia
ser uma saída para esta crise provocada. As cidades deveriam produzir
seus alimentos e energia, ter trabalho para seus cidadãos, ser
democráticas (ou seja, que seus habitantes decidam seus destinos
quotidianamente), ter todos os serviços alcançáveis a pé ou em
bicicleta, respeitar a natureza, e utilizar a mais avançada tecnologia
para melhorar a vida humana e obter mais tempo livre de obrigações
laborais.
Os defensores do liberalismo, que têm por único fim, o lucro
exacerbado, não concebem que a Terra é de superfície limitada. Se fosse
possível eles ressuscitariam Galileu, Copérnico e Giordano Bruno, e os
torturariam e mandariam para a fogueira junto com todos seus escritos
por serem terroristas em luta contra o sistema liberal.
Sua concepção do Mundo, difundida pela sua televisão e referendada
por todo tipo de instituições, está empurrando para o abismo a sociedade
humana. Há que se opinar em contra e construir um mundo diferente.
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* Oscar Daniel Corbella é professor titular no
PROURB/FAU/UFRJ. Pesquisador Categoria I-A do CNPq. Doutor em Física
Nuclear na Argentina, pós-doutorado em Física Aplicada ao ambiente
construído, na Europa. Pesquisador em Ciências Humanas Aplicadas e
pensador sobre a interação entre a ciência, as artes, as cidades, a
sociedade e a ética. Ministrou conferências sobre estes temas em mais de
30 países de América e da Europa. É autor de 15 livros, o mais
difundido sobre arquitetura sustentável.
Fonte:http://mercadoetico.terra.com.br/04/02/2013
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