Thomaz Wood Jr.*
Foto: ©AFP / Nicholas Kamm
No
despertar de 2013, a Comissão Federal do Comércio dos Estados Unidos
declarou que a empresa Google não havia violado leis antitruste ou
adotado práticas contra a livre competição. A declaração surpreendeu e
frustrou diversos observadores, que esperavam ver condenada a forma como
a empresa mostra os resultados de busca. Edward Wyatt, escrevendo para o
jornal The New York Times, observou que a decisão permite ao
Google fortalecer sua posição na internet, além de evitar uma custosa
batalha judicial. Para vencer, a empresa investiu mais de 13 milhões de
dólares em lobby e mobilizou um exército de advogados, executivos e engenheiros.
As investigações fizeram eco àquelas enfrentadas pela Microsoft nos
anos 1990. Conforme cresceram e expandiram seus negócios, as empresas
foram capazes de mobilizar recursos, adquirir ou aniquilar competidores.
Ambas foram acusadas por rivais e por agentes reguladores de explorar
de forma injusta sua posição dominante no mercado.
A internet tem raízes em desenvolvimentos de tecnologia e comunicação
que ocorreram nos anos 1960, especialmente a Advanced Research Projects
Agency Network (Arpanet). A explosão da rede mundial ocorreu a partir
dos anos 1990, com um crescimento vertiginoso do tráfego e do número de
usuários. Embora em sua origem houvesse interesses militares, a rede
cresceu com base em uma arquitetura descentralizada e aberta, e marcada
por uma cultura alternativa e libertária.
No entanto, nos últimos anos, o crescimento de grandes corporações com atividades baseadas na rede, ou parcialmente relacionadas à rede, parece estar tornando o mundo virtual cada vez mais parecido com o mundo real. Bruce Sterling, escritor norte-americano de ficção científica, observador do cenário virtual, declarou recentemente que a internet é cada vez mais algo conformado ou fortemente influenciado por cinco “pilares”:
Apple,
Google,
Facebook,
Amazon e
Microsoft.
Esses cinco gigantes têm histórias extraordinárias. A
Apple, cria do idolatrado Steve Jobs, renasceu das cinzas para se
tornar uma empresa colossal, invejada por sua capacidade de inovar e de
moldar o mercado. Google, a partir de uma singela ferramenta de busca,
transformou-se em uma líder incontestável da propaganda online. O
Facebook atropelou seus rivais e superou, em 2012, 1 bilhão de zumbis
(ou usuários). A Amazon passou de livraria virtual a gigante da
logística, gerenciando um portfólio abrangente de produtos. A Microsoft,
de Bill Gates e Paul Allen, hoje gerenciada por Steve Ballmer, continua
sendo o maior fabricante mundial de softwares, porém, se reinventou,
investindo em videogames e outros produtos.
A revista britânica The Economist, parceira de CartaCapital,
em matéria publicada em dezembro de 2012, alerta para três problemas
relacionados à presença de gigantes na internet: o primeiro é a
tendência de o vencedor dominar todos os mercados; o segundo é a
tendência dos gigantes de “aprisionarem” seus clientes em suas
respectivas plataformas; e o terceiro é hábito dessas megacorporações de
adquirir e incorporar empresas menores, antes que elas se tornem
ameaças à sua posição.
Conforme argumentou Alexis C. Madrigal, no website da revista The Atlantic,
se você for a Nokia, a Hewlett-Packard ou um fabricante japonês de
produtos eletrônicos, esses cinco gigantes “roubam todo o seu oxigênio”.
E podemos completar: se você for um simples mortal, um mero consumidor,
esses cinco gigantes o submeterão a um conhecido processo que envolve
sedução, conquista, extração de valor e aprisionamento, quando você se
tornará refém de seus modelos de negócio e plataformas. No mundo que
essas empresas estão criando, a tecnologia funciona bem dentro de seus
domínios, mas cruzar as fronteiras pode ser um pesadelo.
O que fazer? Os reguladores norte-americanos e
europeus parecem acreditar que podem, pelo discurso ou por pressão,
convencer os gigantes e adotar códigos civilizados de conduta
competitiva. Será? Críticos mais duros apontam a necessidade de cisão
dos gigantes. Segundo tal raciocínio, conforme exemplificado por The Economist,
Apple e Google seriam forçados a escolher um tipo de negócio:
fornecimento de conteúdo digital, produção de hardwares ou distribuição
de informações. Nada de controlar as três minas de ouro.
O impacto de um movimento desse tipo poderia ser notável, mas seria
benéfico para o consumidor? Ou seria mais sensato aguardar que o
“sistema” opere sua mágica, que os gigantes trombem entre si, ou tombem
por sua arrogância e outros lhes tomem o lugar? O fato é que, como
indica o antigo provérbio: em briga de elefantes, quem mais sofre é a
grama.
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* Thomaz Wood Jr. escreve sobre gestão e o mundo da administração.
thomaz.wood@fgv.br
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/tecnologia/terra-de-gigantes/01/02/2013
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