Francisco Daudt*
Precisamos de mecanismos de defesa que nos protejam do excesso de realidade e da consciência da morte
Um cliente me explicou que, quando Hitler começou sua ascensão ao poder,
os judeus alemães se dividiram em três grupos: o primeiro, de baixo
teor de negação, anteviu o desastre e se mandou; o segundo, em que a
negação conversava com a racionalização ("Afinal, não pode ser tão ruim,
ele está melhorando a Alemanha". "É, mas o discurso dele é autoritário,
e você sabe como ele se sente em relação aos judeus". "Mas nós ainda
somos uma democracia, podemos fazer alguma coisa"), escapou por um triz,
na última hora.
O terceiro negou até o fim e acabou nos Auschwitz da morte.
Negação e racionalização fazem um par de mecanismos de defesa
automáticos, necessários para nossa saúde mental, mas que se tornam
doença quando passam do ponto.
Precisamos de mecanismos de defesa que nos protejam do excesso de
realidade. Sem eles, a consciência da morte nos deixaria imobilizados, e
ninguém entraria num avião (duas violências contra nossos instintos:
confinamento e altura).
Veja a conversa dos dois: "Não vai acontecer nada", diz a negação. "O
avião é a maneira mais segura de viajar, já pensou quantos voos partem e
chegam ao destino, inteiros por dia?", diz a racionalização.
Há uma negociação permanente, uma avaliação de custos e benefícios que
usa esses mecanismos: "Risco há, mas pequeno". "E, depois, eu chego a
Paris". "Logo comigo vai acontecer alguma coisa?". É raro que tomemos
consciência desse diálogo interno, mas ele se dá, praticamente, a cada
ação humana.
Esses mecanismos nos defendem das ameaças que vêm de outro programa
mental, o superego. Ele nasce conosco para nos dar medo de perigos
ancestrais (escuro, altura, confinamento, cobras e insetos voadores, por
exemplo). Não se tem medo de automóveis, é coisa muito nova para o
superego ter absorvido.
Alimentado por nossa criação, ele pode ser um crítico exigente e severo,
sempre a nos julgar mal e a nos ameaçar com a imaginação das piores
coisas. Nessa hora, entram os mecanismos de defesa, para abafá-lo.
Vivemos um equilíbrio delicado: se o superego passa do ponto (como
quando pensamos em problemas no escuro da noite insone ou em situações
de estresse), somos capazes de adoecer de depressão, de vícios ou de
loucura (mecanismos de defesa graves).
Se esses mecanismos passam do ponto, podemos desconsiderar perigos e acabar como os judeus de Auschwitz.
A presidente falando na TV me apavorou. Além de vender uma negação
absurda (só pensam em racionamento os inimigos do Brasil), ela dividiu o
país em dois grupos: "nós" (patriotas e apoiadores do governo/país) e
"eles" (pessimistas, críticos do governo/país, que ela parece pensar
como uma só coisa).
Uma espécie de "Brasil, ame-o ou deixe-o". Médici não faria melhor.
Sou um "deles". Em que grupo de judeus estarei eu? Acho que no segundo.
"Ainda somos uma democracia". "Mas, e a Venezuela, que essa turma
adora?". "Olha o Supremo!". "Olha o Congresso...". "Mas tem a oposição".
"Que oposição?".
Está bem, vou ficando, fazendo o que posso, mas de olho!
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* COLUNISTA DA FOLHA
www.franciscodaudt.com.brFONTE: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/05/02/2013
Imagem da Internet
Os mecanismos de defesa são numa interpretação qualificada os mecanismos de sobrevivencia, como um sujeito ou uma coletivade de uma situação de vida sobrevive interpretando um papel. Primeiro o estado nazista não sabemos os motivos mas tinha uma finalidade e agiram de forma eficaz:- mata-se, queima ou enterra os cidadãos judeus ou outros cidadãos que não eram bem quistos. Posso incorrer num erro, mas não vejo a coletividade judaica numa postura de sobreviver um papel, mas vejo um comportamento de estar irraigado ao solo, cultura, amigos, não foi morte, foi uma lição de vida que nos faz refletir da nossa condição humana, mesmos passados mais de 70 anos.
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