CARLOS ALBERTO DI FRANCO*
A Europa continua sob o fogo cerrado de uma crise sem
precedentes. Os números do desemprego na Espanha, por exemplo, são
assustadores. Dados divulgados recentemente apontam que 26% da população
está sem trabalho, totalizando quase 6 milhões de pessoas. A Espanha
vive uma fuga crescente de jovens talentos. Em um ano, a população entre
20 anos e 24 anos diminuiu em 100 mil pessoas. Entre 25 anos e 29 anos,
a queda foi de 150 mil.
A juventude europeia não foi preparada para a adversidade. A
frustração apresenta uma pesada fatura: violência, aborto, doenças
sexualmente transmissíveis, aids e drogas. A ausência de cenários compõe
a trágica equação que ameaça destruir o sonho juvenil e escancarar as
portas para uma explosão de contestação.
O quadro brasileiro é bem diferente. Felizmente. Temos inúmeros
problemas (violência, drogas, corrupção, desigualdade, baixa qualidade
da educação), mas somos um país de gente alegre, com capacidade de
sonhar. Expectativa de futuro define a vida das pessoas e o rumo das
sociedades. “O Brasil”, dizia-me um conhecido jornalista espanhol, “tem
muitas coisas que não funcionam”. Mas acrescentou: “Vocês têm problemas,
mas têm alegria, fé, futuro. Nós, europeus, perdemos a esperança”.
O Brasil de hoje, independentemente das sombras que pairam no quadro
financeiro mundial e que, queiramos ou não, toldarão o horizonte da
economia real, é um emergente respeitável. O nosso grande capital, o
nosso diferencial, apesar do notável emagrecimento do perfil demográfico
brasileiro, é o vigor da juventude. Uma moçada batalhadora, com vontade
de acontecer e, ao contrário do que imaginam os pessimistas crônicos,
sedenta de valores éticos, familiares e profissionais.
O desinteresse pela política, evidente e medido em inúmeras
pesquisas, é, na verdade, uma rejeição ao comportamento imoral de
inúmeros políticos. E isso é bom. Trata-se, no fundo, de um sinal
afirmativo. Os jovens estão em rota de colisão com a politicagem
tradicional. Os políticos não se dão conta, mas o modelo está esgotado.
Os partidos, se quiserem ter alguma interlocução com a juventude, vão
ter que se reiventar.
A juventude atual, não a desenhada por certa indústria cultural que
vive isolada numa bolha ideológica, manifesta uma procura de firmeza
moral, de valores familiares e religiosos. Deus, família, fidelidade,
trabalho, realidades tidas como anacrônicas nas últimas décadas, são
valores claramente em alta. A Jornada Mundial da Juventude (JMJ),
encontro do papa com os jovens, em julho deste ano, no Rio de Janeiro,
vai surpreender muita gente. Espera-se mais de 2 milhões de jovens de
todos os continentes. É muito mais que a Copa do Mundo e as Olimpíadas
juntas.
A família, não obstante sua crise evidente, é uma forte aspiração dos
jovens. Ao contrário do que se pensa em certos ambientes politicamente
corretos, os adolescentes atribuem importância decisiva ao ambiente
familiar. Os jovens, em inúmeras pesquisas, apontam a família
tradicional como a instituição de maior ascendência em suas decisões.
No campo da afetividade, antes marcado pelo relacionamento
descartável, vai se impondo a cultura da fidelidade. O tema da
sexualidade, puritanamente evitado pela geração que se formou na
caricata moral dos tabus e das proibições, acabou explodindo, sem
limites, na síndrome do relacionamento transitório. Agora, o rio está
voltando ao seu leito. O frequente uso de alianças na mão direita,
manifestação visível de compromisso afetivo, revela algo mais profundo.
Os jovens estão apostando em relações duradouras.
Assiste-se, na universidade e no ambiente de trabalho, ao ocaso das
ideologias e ao surgimento de um forte profissionalismo. Ao contrário
das utopias do passado, os jovens acreditam “na excelência e no mérito
como forma de se fazer revolução". O pensamento divergente é valorizado.
As pessoas querem um discurso diverso, não um local onde se pregue
apenas uma corrente de pensamento.
Quem não perceber, na mídia e fora dela, essa virada comportamental
perderá conexão com um importante segmento do mercado de consumo
editorial.
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* Jornalista. Prof. Universitário.
Fonte: http://correio.rac.com.br/_conteudo/2013/02/01
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