Luiz Carlos Susin*
A
notícia já está rodando o mundo: Bento XVI anunciou que renuncia ao
cargo no dia 28 de fevereiro. E isso rompe um sólido paradigma: nos 2
mil anos de história da Igreja Católica, temos notícias de apenas três
papas, entre os mais de 260 oficialmente considerados papas, que
renunciaram ao papado, por diferentes motivos, segundo alguns
historiadores, e alguns foram depostos, por motivos políticos ou
doutrinais. Mas apenas uma renúncia, a de Celestino V, no final do
século 13, está claramente documentada.
Nenhum papa, nos tempos modernos, renunciou. E isso rompe um paradigma no imaginário que temos, católicos ou não, a respeito do papa. Até agora, seguia-se a sucessão na forma do absolutismo monárquico, através de uma política historicamente e cuidadosamente consolidada. Seguia-se um ritual ao estilo “rei morto, rei posto”. Ou seja, vale também o contrário: só se põe novo rei quando o rei anterior está morto.
Por isso, o conjunto da sucessão se fazia primeiro pelo rito fúnebre, pelo luto, e imediatamente depois pelo conclave de eleição e “coroação” (mas não se usa esta expressão depois de João XXIII, com o Concílio Vaticano II). Agora teremos um conclave de eleição com o papa cessante ainda vivo! Que passa a ser... ex-papa? Ou “Papa Pai”? Não sabemos ainda como será chamado, mas, seguindo o modelo dos bispos, que, a partir do Concílio Vaticano II, apresentam sua renúncia aos 75 anos, o atual papa poderá ser chamado de “Papa Emérito”. Será o primeiro com tal título na história da Igreja.
E o luto será diferente, seja o luto mais amplo de perda de um imaginário e de retirada ou perda de um papa, não por morte, mas por renúncia, seja o luto mais específico quando acontecer o falecimento de um “Papa Emérito” havendo outro papa no governo da Igreja. Além disso, Bento XVI, por própria iniciativa, rompe um modelo que parecia sólido como os séculos de Igreja. No futuro, nada mais será como antes.
Se o Papa, nos últimos tempos, parecia condescender cada vez mais com certa onda de tradicionalismo que toma a Igreja – no último dia 6 de janeiro tinha ordenado alguns bispos, inclusive seu secretário particular, vestindo roupas litúrgicas em estilo barroco, carregadas de sobreposições –, agora ele se supera e se reinventa a si mesmo: se, por um lado, poderíamos interpretar que ele, com a idade, parecia na verdade voltar à sua Baviera tradicional e colorida, agora parece também que ele volta aos seus anos de teólogo jovem, perito do Concílio Vaticano II e suas surpreendentes renovações, com a liberdade de decisões que lembram João XXIII e os inícios de Paulo VI. Ele será lembrado no futuro, sobretudo, por este gesto de renúncia. E por ter sido não um papa “reinante”, mas um papa “ensinante”.
Tudo indica que Joseph Ratzinger continuará a ser “Bento XVI”, mas agora como “Papa Emérito”, retirado a uma vida de oração. Mas o gesto de sua renúncia muda para sempre o imaginário a respeito do papa: cada papa terá não muito longe de si um “Papa Emérito” e provavelmente presidirá o seu funeral. O papa fica mais humano. Menos personalista, embora não se possa descolar o ministério da pessoa. Poderá ser visto melhor como um serviço de presidência e um pastor que passa o cajado adiante na hora adequada.
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Nenhum papa, nos tempos modernos, renunciou. E isso rompe um paradigma no imaginário que temos, católicos ou não, a respeito do papa. Até agora, seguia-se a sucessão na forma do absolutismo monárquico, através de uma política historicamente e cuidadosamente consolidada. Seguia-se um ritual ao estilo “rei morto, rei posto”. Ou seja, vale também o contrário: só se põe novo rei quando o rei anterior está morto.
Por isso, o conjunto da sucessão se fazia primeiro pelo rito fúnebre, pelo luto, e imediatamente depois pelo conclave de eleição e “coroação” (mas não se usa esta expressão depois de João XXIII, com o Concílio Vaticano II). Agora teremos um conclave de eleição com o papa cessante ainda vivo! Que passa a ser... ex-papa? Ou “Papa Pai”? Não sabemos ainda como será chamado, mas, seguindo o modelo dos bispos, que, a partir do Concílio Vaticano II, apresentam sua renúncia aos 75 anos, o atual papa poderá ser chamado de “Papa Emérito”. Será o primeiro com tal título na história da Igreja.
E o luto será diferente, seja o luto mais amplo de perda de um imaginário e de retirada ou perda de um papa, não por morte, mas por renúncia, seja o luto mais específico quando acontecer o falecimento de um “Papa Emérito” havendo outro papa no governo da Igreja. Além disso, Bento XVI, por própria iniciativa, rompe um modelo que parecia sólido como os séculos de Igreja. No futuro, nada mais será como antes.
Se o Papa, nos últimos tempos, parecia condescender cada vez mais com certa onda de tradicionalismo que toma a Igreja – no último dia 6 de janeiro tinha ordenado alguns bispos, inclusive seu secretário particular, vestindo roupas litúrgicas em estilo barroco, carregadas de sobreposições –, agora ele se supera e se reinventa a si mesmo: se, por um lado, poderíamos interpretar que ele, com a idade, parecia na verdade voltar à sua Baviera tradicional e colorida, agora parece também que ele volta aos seus anos de teólogo jovem, perito do Concílio Vaticano II e suas surpreendentes renovações, com a liberdade de decisões que lembram João XXIII e os inícios de Paulo VI. Ele será lembrado no futuro, sobretudo, por este gesto de renúncia. E por ter sido não um papa “reinante”, mas um papa “ensinante”.
Tudo indica que Joseph Ratzinger continuará a ser “Bento XVI”, mas agora como “Papa Emérito”, retirado a uma vida de oração. Mas o gesto de sua renúncia muda para sempre o imaginário a respeito do papa: cada papa terá não muito longe de si um “Papa Emérito” e provavelmente presidirá o seu funeral. O papa fica mais humano. Menos personalista, embora não se possa descolar o ministério da pessoa. Poderá ser visto melhor como um serviço de presidência e um pastor que passa o cajado adiante na hora adequada.
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*Frei e teólogo – Fateo/PUCRS
Fonte: ZH on line, 12/02/2013
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