Martha Medeiros*
Uma vez, em uma conversa entre amigos, alguém comentou que jamais
conseguiria casar com quem ouvisse Celine Dion. Casar? Eu não
conseguiria pegar uma carona com alguém que ouvisse Celine Dion,
retruquei, exagerando. E foi nesse tom de brincadeira que continuamos
falando sobre nossos eu nunca poderia me relacionar com alguém que....
Puro blábláblá, pois, na hora em que a paixão se apresenta, nossos gostos se adaptam rapidinho, e a gente se pega dançando forró quando queria mesmo era estar num show do Pearl Jam. Ainda assim, essa questão de ter afinidade musical não é absolutamente tola. Gostar de gêneros musicais diferentes não impede um relacionamento, mas, quando há compatibilidade, dois amantes evoluem e transformam-se em dois cúmplices.
Tudo porque a música não é uma forma de ocupar o silêncio, simplesmente. Ela provoca uma experiência física e sensorial. Ela vai buscar você onde você se esconde. E compartilhar isso com quem amamos é roçar no sublime.
Se aquilo que gosto de ouvir estimula as mesmas sensações em quem convive comigo, cria-se um diálogo sem palavras, à prova de mal-entendidos. A música invade e captura o que há de melhor em nós, nossa essência primeira, a que não foi corrompida por racionalizações. E essa sensibilidade refinada, ao ser despertada simultaneamente em um homem e em uma mulher (ou numa plateia inteira, no caso de um espetáculo) gera uma comunhão tão rara quanto mágica.
Muitos filmes já demonstraram como a música pode ser um fator de aproximação entre casais. Para citar dois que concorrem ao Oscar neste domingo, no belíssimo Amor, os protagonistas idosos não eram apaixonados apenas um pelo outro, mas igualmente por música erudita, o que reforçava o laço. Em O Lado Bom da Vida, duas vítimas de perturbações psíquicas encontram uma forma de serenizar sua ansiedade descontrolada através da dança, fazendo com que seus corpos obedeçam a um ritmo, e sua alma também. A música facilita que identifiquemos um “igual”, ou alguém razoavelmente parecido conosco. E ajuda a fazer esse encontro perdurar.
Não que tenha sido descoberta a fórmula do sucesso das relações – elas se desfazem, mesmo quando há gostos afins. Mas, entre os momentos que ficarão na lembrança, estarão aqueles em que ambos sabiam com certeza o que o outro estava sentindo quando conectados pela música, uma música que, às vezes, nem estava sendo tocada, mas escutada por dentro, como na hora exata do parto do filho, em que se ouve internamente uma orquestra, ou na hora da decolagem de um voo, quando se ouve internamente uma ópera, ou durante o primeiro beijo, quando se ouve internamente... sinos? Humm, eu escolheria uma trilha sonora menos óbvia, mais inspiradora.
Coisa mais triste quando, ao recordar um amor, a gente tenta lembrar: qual era a nossa música? E não havia.
Puro blábláblá, pois, na hora em que a paixão se apresenta, nossos gostos se adaptam rapidinho, e a gente se pega dançando forró quando queria mesmo era estar num show do Pearl Jam. Ainda assim, essa questão de ter afinidade musical não é absolutamente tola. Gostar de gêneros musicais diferentes não impede um relacionamento, mas, quando há compatibilidade, dois amantes evoluem e transformam-se em dois cúmplices.
Tudo porque a música não é uma forma de ocupar o silêncio, simplesmente. Ela provoca uma experiência física e sensorial. Ela vai buscar você onde você se esconde. E compartilhar isso com quem amamos é roçar no sublime.
Se aquilo que gosto de ouvir estimula as mesmas sensações em quem convive comigo, cria-se um diálogo sem palavras, à prova de mal-entendidos. A música invade e captura o que há de melhor em nós, nossa essência primeira, a que não foi corrompida por racionalizações. E essa sensibilidade refinada, ao ser despertada simultaneamente em um homem e em uma mulher (ou numa plateia inteira, no caso de um espetáculo) gera uma comunhão tão rara quanto mágica.
Muitos filmes já demonstraram como a música pode ser um fator de aproximação entre casais. Para citar dois que concorrem ao Oscar neste domingo, no belíssimo Amor, os protagonistas idosos não eram apaixonados apenas um pelo outro, mas igualmente por música erudita, o que reforçava o laço. Em O Lado Bom da Vida, duas vítimas de perturbações psíquicas encontram uma forma de serenizar sua ansiedade descontrolada através da dança, fazendo com que seus corpos obedeçam a um ritmo, e sua alma também. A música facilita que identifiquemos um “igual”, ou alguém razoavelmente parecido conosco. E ajuda a fazer esse encontro perdurar.
Não que tenha sido descoberta a fórmula do sucesso das relações – elas se desfazem, mesmo quando há gostos afins. Mas, entre os momentos que ficarão na lembrança, estarão aqueles em que ambos sabiam com certeza o que o outro estava sentindo quando conectados pela música, uma música que, às vezes, nem estava sendo tocada, mas escutada por dentro, como na hora exata do parto do filho, em que se ouve internamente uma orquestra, ou na hora da decolagem de um voo, quando se ouve internamente uma ópera, ou durante o primeiro beijo, quando se ouve internamente... sinos? Humm, eu escolheria uma trilha sonora menos óbvia, mais inspiradora.
Coisa mais triste quando, ao recordar um amor, a gente tenta lembrar: qual era a nossa música? E não havia.
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* Escritora. Colunista da ZH
Fonte: ZH on line, 24/02/2013
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