Rubem Alves*
Quando o Horror acontece, as autoridades, por obrigação do o
ofício, se põem a multiplicar palavras, fazendo declarações, prometendo
investigações rigorosas e punição dos responsáveis. Mas suas promessas
são inúteis. Não é possível fazer os mortos voltar das sepulturas.
Relata o livro de Jó que os três amigos que o visitaram por ocasião da sua desgraça “sentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites, e nenhum lhe dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande” ( Jó 2.13 ). Eles sabiam que, diante do trágico deve-se calar e chorar.
Relata o livro de Jó que os três amigos que o visitaram por ocasião da sua desgraça “sentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites, e nenhum lhe dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande” ( Jó 2.13 ). Eles sabiam que, diante do trágico deve-se calar e chorar.
O Horror pede silêncio. Goethe disse que “poesia é a linguagem do que não pode ser dito”.
Assim, resta-nos não dar ouvidos ao falatório oco das autoridades, e rezar. Assim, rezemos...
“Ó tu, Senhor da eternidade, nós que estamos condenados a morrer
elevamos
nossas almas a ti à procura de forças,
porque a Morte passou por nós na
multidão dos homens e nos tocou,
e sabemos que em alguma curva do nosso
caminho
ela estará nos esperando para nos pegar pela mão e nos levar...
não sabemos para onde.
Nós te louvamos porque para nós ela não é mais
uma inimiga,
e sim um grande anjo teu, o único a poder abrir,
para
alguns de nós, a prisão de dor e do sofrimento e
nos levar para os
espaços imensos de uma nova vida.
Mas nós somos como crianças, com medo
do escuro e do desconhecido,
e tememos deixar esta vida que é tão boa,
e
os nossos amados, que nos são tão queridos.
Dá-nos um coração valente
para que possamos caminhar
por essa estrada com a cabeça levantada e um
sorriso no rosto.
Que possamos trabalhar alegremente até o fim,
e amar
os nossos queridos com ternura ainda maior,
porque os dias do amor são
curtos.
Sobre ti lançamos a carga mais pesada que paralisa nossa alma:
o
medo que temos de deixar aqueles que amamos,
os quais teremos de deixar
desabrigados num mundo egoísta.
Nós te agradecemos porque
experimentamos o gosto bom da vida.
Somos-te gratos por cada hora de
nossas vidas,
por tudo o que nos coube das alegrias e lutas dos nossos
irmãos,
pela sabedoria que ganhamos e será sempre nossa.
Se nos
sentirmos abatidos com a solidão, sustenta-nos com a tua companhia.
Quando todas as vozes do amor ficarem distantes e se forem,
teus braços
eternos ainda estarão conosco.
Tu és o Pai dos nossos espíritos.
De ti
viemos e para ti iremos.
Regozijamo-nos porque, nas horas das nossas
visões mais puras,
quando o pulsar da tua eternidade é sentido forte
dentro de nós,
sabemos que nenhuma agonia da mortalidade
poderá atingir
nossa alma inconquistável e, para aqueles que em ti habitam, a morte é
apenas a passagem para a vida eterna.
Nas tuas mãos entregamos o nosso
espírito”
( Walter Rauschenbusch, Orações por um Mundo Melhor, Paulus).
O profeta e a morte
E pediram ao profeta: Fale-nos sobre a Morte. E ele disse:
E pediram ao profeta: Fale-nos sobre a Morte. E ele disse:
“A coruja, cujos olhos noturnos são
cegos durante o dia, não pode revelar o mistério da luz. Se quereis
realmente contemplar o espírito da morte, abri bem o vosso coração para a
vida. Pois a vida e a morte são um, assim como o rio e o mar são um.
Nas profundezas das vossas esperanças e desejos está vosso conhecimento
silencioso do além. E como sementes sonhando embaixo da neve, vosso
coração sonha com a Primavera.
Confiai em vossos sonhos, pois neles estão escondidas as portas para a eternidade. Pois o que é o morrer além de estar nu ao vento e derreter-se ao sol? E o que é cessar de respirar, senão livrar a respiração de suas incansáveis marés, que se elevam e expandem e buscam a Deus sem obstáculos? Só cantareis de verdade quando beberdes do rio do silêncio. E quando chegardes ao topo da montanha, só então começareis a subir. E quando a terra pedir os vossos membros, só então dançareis” (Khalil Gibran, O Profeta).
Confiai em vossos sonhos, pois neles estão escondidas as portas para a eternidade. Pois o que é o morrer além de estar nu ao vento e derreter-se ao sol? E o que é cessar de respirar, senão livrar a respiração de suas incansáveis marés, que se elevam e expandem e buscam a Deus sem obstáculos? Só cantareis de verdade quando beberdes do rio do silêncio. E quando chegardes ao topo da montanha, só então começareis a subir. E quando a terra pedir os vossos membros, só então dançareis” (Khalil Gibran, O Profeta).
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* Educador. Escritor. Teólogo.
Fonte: http://correio.rac.com.br/_conteudo/2013/02/colunistas/rubem_alves/arquivos/27859-oracao-a-beira-da-sepultura.html
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