sexta-feira, 26 de abril de 2013

Crime impossível

Enio Meneghetti*

 

Assisti a O Dia que Durou 21 Anos, de Camilo Tavares, bem como li a matéria, em ZH de 20/04, “Este filme é uma bofetada”, com Flávio Tavares. Meu avô era o governador do Rio Grande do Sul em 1964, sendo citado na matéria, e o assunto ocupa boa parte de sua biografia, Baile de Cobras, de minha autoria.

Chamo a atenção para algo que no Direito Penal seria classificado como “crime impossível”.

O filme aborda a participação dos americanos na queda de Jango. Apresenta conversas de John Kennedy e Lindon Johnson com o embaixador Lincoln Gordon.

Poderiam ter entrevistado Jacob Gorender, um homem de esquerda, ativo participante daqueles acontecimentos. Em seu clássico Combate nas Trevas – Das ilusões perdidas à luta armada, o ex-militante do PCB-R (de Revolucionário) revela: “(...) 1960-1964 marca o auge da luta de classes, quando esboçou-se uma situação pré-revolucionária e o golpe direitista se definiu pelo caráter contrarrevolucionário preventivo. Houve a possibilidade de vencer, mas foi perdida. Mais grave é que foi perdida de maneira desmoralizante. Com a definição incontestável no dia 1º de abril, já no dia 3 a operação Brother Sam era desativada no Caribe. (...)”

Como o filme mostra, em 31 de março de 1964, a embaixada americana no Brasil enviou telegrama a Washington sugerindo o envio da frota ao Brasil. Não é preciso entender de navegação marítima para saber que levariam cerca 15 dias para chegar. Quem teria razão, Tavares ou Gorender?

Desembarcando na França pouco depois da queda de Jango, Carlos Lacerda foi anunciado como o “homem que já havia derrubado três presidentes”. Encontrou a esperá-lo no aeroporto de Orly toda a imprensa francesa, inclusive TV, ao vivo: “Governador, qual a participação dos americanos na queda de João Goulart?”. O governador Lacerda respondeu, em francês: “Nenhuma participação”, garantiu. E continuou: “Quem os americanos libertaram foram os franceses, na II Grande Guerra. Americanos não sabem nada sobre derrubar presidentes. Eles matam os deles. O dia em que os americanos quiserem derrubar um presidente, terão de importar uma comissão de brasileiros para isso”.
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*Administrador, neto de Ildo Meneghetti
Fonte: ZH on line, 26/04/2013
Imagem da Internet

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