José Alberto Wenzel*
Contudo, frente às recentes tragédias, as pessoas percebem-se surpreendidas e questionam o porquê dos assassinatos e agressividades, em nítidas manifestações de desconforto civilizatório. Diversas têm sido as respostas, ou melhor, as possíveis tentativas de elucidar o enigma, instalado justamente quando, em alto grau, é celebrada a vida, seja por convicções profundas e legais, seja pela glamorização do lazer e “bem viver”.
Nem de Epicuro, nem de Darwin. A resposta não nos chega convincente. Por que, continuamos a ferir e matar? O fazemos conosco mesmos, com nossos semelhantes, com as demais criaturas e com o meio em geral.
E se tivermos girado a roda para o lado equivocado? Ao invés da evolução da vida, por que não a da morte? Ou, se mais precavidos: evoluem tanto a vida quanto a morte. O brotamento da vida, nos mais inóspitos sítios, constitui-se em grande probabilidade, contudo a morte impõe-se como uma certeza irrecorrível. Não será, pois, a morte, o motor maior, que tanto se nutre da vida, como pode pairar além de todo e qualquer alento vital? A morte se lhe descabe a impermanência.
Eis a possível chave secreta: os humanos intuem, embora não aceitem, que estão destinados à morte, e por isto matam e ferem. Não o fazem para se nutrir, abrigar, garantir território ou fluxos procriativos. Com o que, estariam em descompasso e destituídas de efetiva concretude as classificações e claves evolutivas a partir do desenvolvimento da vida.
Talvez, mais uma vez, nem Darwin nem Epicuro. Pode ser o inverso de tudo isto. Inverso que tememos mais do que tudo o que aflora meridianamente. Seremos suficientemente arrojados para nos expor a esta nova possibilidade?
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*Escritor
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a4112703.xml&template=3898.dwt&edition=21811§ion=1012
Imagem reprodução da Internet
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