Para alguém que tem se especializado em demonstrar que o ser humano e os
demais primatas têm um lado pacífico e bondoso por natureza, Frans de
Waal conseguiu comprar briga com muita gente diferente.
Autor de "The Bonobo and the Atheist" ("O Bonobo e o Ateu"), que acaba
de sair nos Estados Unidos, o primatólogo holandês-americano
provavelmente não agradará muitos religiosos ao argumentar que ninguém
precisa de Deus para ser bom.
Seu modelo de virtude? O bonobo (Pan paniscus), um primo-irmão dos
chimpanzés conhecido pela capacidade de empatia com membros de sua
espécie e de outras, pela sociedade tolerante, sem "guerras", e pelo uso
do sexo para resolver conflitos.
Com base nos estudos com grandes macacos e outros mamíferos sociais,
como cetáceos e elefantes, De Waal diz que a moralidade não surgiu por
meio de argumentos racionais nem graças a leis ditadas por Deus, mas
deriva de emoções que compartilhamos com essas espécies.
Bonobos e chimpanzés sabem que é seu dever cuidar de um amigo doente, retribuir um favor ou pedir desculpas.
Por outro lado, o livro é uma crítica aos Novos Ateus, grupo capitaneado
pelo britânico Richard Dawkins que tem dado novo impulso ao conflito
entre ateísmo e religião desde a última década.
"Eu não consigo entender por que um ateu deveria agir de modo messiânico
como eles", diz De Waal, ateu e ex-católico. "O inimigo não é a
religião, é o dogmatismo."
*
Folha - Quem está mais bravo com o sr. depois da publicação do livro?
Frans de Waal - Bem, no caso dos ateus, recebi muitas mensagens de gente que me apoia. É claro que, em certo sentido, estou do lado deles, tanto por também ser ateu quanto por acreditar que a fonte da moralidade não é a religião. O que eu digo no livro é que os Novos Ateus estavam gritando alto demais e que precisam se acalmar um pouco, porque a estratégia deles não é a melhor.
Frans de Waal - Bem, no caso dos ateus, recebi muitas mensagens de gente que me apoia. É claro que, em certo sentido, estou do lado deles, tanto por também ser ateu quanto por acreditar que a fonte da moralidade não é a religião. O que eu digo no livro é que os Novos Ateus estavam gritando alto demais e que precisam se acalmar um pouco, porque a estratégia deles não é a melhor.
Em seu livro, o sr. faz uma referência ao romance "O Senhor das
Moscas", de William Golding, história na qual garotos perdidos numa ilha
reinventam vários aspectos da sociedade, inclusive a religião. Mas a
religião que eles criam é brutal, com sacrifícios humanos. O sr. acha
que a religião nasceu brutal e foi ficando mais humanizada?
Acho que não. Quando olhamos para as sociedades tradicionais de pequena escala, que foram a regra na pré-história, vemos que esse tipo de coisa não está presente entre elas.
É claro que elas tinham crenças sobre o mundo sobrenatural e podiam sacrificar um ou outro animal aos deuses, mas, no geral, eram relativamente benignas.
É só quando as sociedades aumentam de escala que elas começam a se tornar mais agressivas e dogmáticas.
Acho que não. Quando olhamos para as sociedades tradicionais de pequena escala, que foram a regra na pré-história, vemos que esse tipo de coisa não está presente entre elas.
É claro que elas tinham crenças sobre o mundo sobrenatural e podiam sacrificar um ou outro animal aos deuses, mas, no geral, eram relativamente benignas.
É só quando as sociedades aumentam de escala que elas começam a se tornar mais agressivas e dogmáticas.
Quando se enfatiza o lado pacífico e ético das sociedades de primatas
não humanos e do próprio homem, não há um perigo de fechar os olhos
para a faceta violenta dela?
Concordo que, nos meus livros mais recentes, essa ênfase existe. Por outro lado, meu primeiro livro, "Chimpanzee Politics" ["Política Chimpanzé", sem tradução no Brasil], era totalmente focado na violência, na manipulação maquiavélica e em outros aspectos pouco agradáveis da sociedade primata. Mas a questão é que surgiu uma ênfase exagerada nesses aspectos negativos, e as pessoas não estavam ouvindo o outro lado da história.
Concordo que, nos meus livros mais recentes, essa ênfase existe. Por outro lado, meu primeiro livro, "Chimpanzee Politics" ["Política Chimpanzé", sem tradução no Brasil], era totalmente focado na violência, na manipulação maquiavélica e em outros aspectos pouco agradáveis da sociedade primata. Mas a questão é que surgiu uma ênfase exagerada nesses aspectos negativos, e as pessoas não estavam ouvindo o outro lado da história.
O sr. acha que encontrar um chimpanzé ou bonobo cara a cara pela
primeira vez pode funcionar como uma experiência religiosa ou
espiritual?
Eu não chamaria de experiência religiosa (risos), mas é uma experiência que muda a sua percepção da vida.
No livro, conto como a chegada dos primeiros grandes macacos vivos à Europa no final do século 19 despertou reações fortes, em vários casos deixando o público revoltado porque havia essa ideia confortável da separação entre seres humanos e animais. Por outro lado, gente como Darwin viu aquela experiência como algo positivo.
Eu não chamaria de experiência religiosa (risos), mas é uma experiência que muda a sua percepção da vida.
No livro, conto como a chegada dos primeiros grandes macacos vivos à Europa no final do século 19 despertou reações fortes, em vários casos deixando o público revoltado porque havia essa ideia confortável da separação entre seres humanos e animais. Por outro lado, gente como Darwin viu aquela experiência como algo positivo.
E o sr. sente que essa aversão aos grandes macacos diminuiu hoje?
Sim, e isso é muito interessante. Eu costumo dar palestras em reuniões de sociedades zoológicas de grandes cidades aqui nos Estados Unidos. Tenho certeza de que muitas pessoas ali são religiosas. E esse público é fascinado pelos paralelos e pelas semelhanças entre seres humanos e grandes macacos ou outros animais.
Isso não significa que queiram saber mais sobre a teoria da evolução, mas elas acolhem a conexão entre pessoas e animais.
Sim, e isso é muito interessante. Eu costumo dar palestras em reuniões de sociedades zoológicas de grandes cidades aqui nos Estados Unidos. Tenho certeza de que muitas pessoas ali são religiosas. E esse público é fascinado pelos paralelos e pelas semelhanças entre seres humanos e grandes macacos ou outros animais.
Isso não significa que queiram saber mais sobre a teoria da evolução, mas elas acolhem a conexão entre pessoas e animais.
Na sua nova obra, o sr. defende a ideia de que não se pode
simplesmente eliminar a religião da vida humana sem colocar outra coisa
no lugar dela. Que outra coisa seria essa?
É preciso reconhecer que os seres humanos têm forte tendência a acreditar em entidades sobrenaturais e a seguir líderes. E o que nós vimos, em especial no caso do comunismo, no qual houve um esforço para eliminar a religião, é que essa tendência acaba sendo preenchida por outro tipo de fé, que se torna tão dogmática quanto a fé religiosa.
Então, o temor que eu tenho é que, se a religião for eliminada, ela seja substituída por algo muito pior. Acho preferível que as religiões sejam adaptadas à sociedade moderna.
É preciso reconhecer que os seres humanos têm forte tendência a acreditar em entidades sobrenaturais e a seguir líderes. E o que nós vimos, em especial no caso do comunismo, no qual houve um esforço para eliminar a religião, é que essa tendência acaba sendo preenchida por outro tipo de fé, que se torna tão dogmática quanto a fé religiosa.
Então, o temor que eu tenho é que, se a religião for eliminada, ela seja substituída por algo muito pior. Acho preferível que as religiões sejam adaptadas à sociedade moderna.
Outro argumento do livro é que o menos importante nas religiões é a
base factual delas. O mais relevante seria o papel social e emocional
dos rituais. Para quem é religioso e se importa com a verdade do que
acredita, não é uma visão que pode soar como condescendente ou
desonesta?
Pode ser que, para quem é religioso, essa visão trivialize suas crenças. Mas, como biólogo, quando vejo alguma coisa que parece existir em quase todos os grupos de uma espécie, a minha pergunta é: para que serve? Que benefício as pessoas obtêm com isso? Não tenho a intenção de insultar ninguém com esse enfoque.
Pode ser que, para quem é religioso, essa visão trivialize suas crenças. Mas, como biólogo, quando vejo alguma coisa que parece existir em quase todos os grupos de uma espécie, a minha pergunta é: para que serve? Que benefício as pessoas obtêm com isso? Não tenho a intenção de insultar ninguém com esse enfoque.
The Bonobo and the Atheist
editora W.W. Norton & Company
preço R$ 29,35 (e-book na Amazon.com), 313 págs.
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Reportagem por REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHAFonte: Folha on line, 26/04/2013
Imagem da Internet
Respeito as opiniões e, por isso mesmo, deixo a minha aqui.
ResponderExcluirSeria muito interessante e inusitado, se o primatólogo-ateu em questão, falasse contra os primatas e a favor da religião ou dos religiosos. A Bíblia ensina que "A boca fala do que está cheio o coração". De mais a mais, o primatólogo demonstra ser uma pessoa totalmente conformada com o pequeno, raso e temporário mundo dos primatas-ateus. A impressão que se tem, é que para ele(ateu), a vida é só isso aqui e depois acaba tudo. A Fé em CRISTO, ao contrário, leva o homem a vislumbrar o verdadeiro mundo de Amor, Verdade e Justiça, que será estabelecido em breve, por CRISTO. Para finalizar, lembro que na Bíblia, JESUS fala que existem apenas dois caminhos, um para cima e outro para baixo. O de cima, é o do amor a DEUS e amor ao próximo, da verdade, do caráter reto, da perseverança, da fé e da esperança e da Vitória eterna no final. O caminho de baixo, é exatamente o desse mundo, da descrença, do ódio, insanidade e morte eterna no final. É isso!