sábado, 20 de abril de 2013

Histórias

A leitura engrandece a alma, escreveu certa vez o pensador iluminista Voltaire. A frase mostra o potencial do livro para agregar conhecimento, abrir portas para a imaginação e servir de refúgio para os problemas diários. Entusiastas defendem até que ler tem poderes mágicos e pode ajudar a curar.

A realidade não está longe disso. A literatura engrandece a alma e faz bem para a saúde. Médicos e psicólogos indicam a leitura para aliviar sintomas de diversas patologias. A prática recebe o nome de biblioterapia clínica, definida como a recomendação de livros para curar angústias pessoais, estimular emoções, promover o diálogo e acabar com a insônia.

– A biblioterapia mostra um cuidado com o ser humano, que se manifesta ao ler, narrar ou dramatizar histórias – diz a professora Clarice Caldin, do Departamento de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Especialista no tema, Clarice explica que as narrativas literárias buscam proporcionar a catarse, considerada por alguns autores como uma purificação do corpo e da mente. Pela leitura, as pessoas podem se identificar com personagens ficcionais, refletindo suas próprias atitudes.

– A biblioterapia favorece a expressão dos pensamentos aflitivos, como uma descarga emocional, uma purgação – observa.

A administradora Roseli Bassi percebeu o potencial terapêutico da leitura e criou a ONG História Viva, que conta com 200 voluntários para ler e contar histórias para pacientes em hospitais.

– Nosso trabalho é apaziguar os sentimentos de pessoas que estão lidando com realidades difíceis. Tiramos crianças e adultos de suas doenças ao abrir um mundo de imaginações – afirma Roseli.

Julia Dutra, 10 anos, luta contra o câncer desde 2008. Durante alguns dias da semana, em seu quarto no Hospital das Clínicas, em Curitiba, ela recebe a visita de um contador de histórias, que lê para a menina por cerca de uma hora. No período, suas preocupações se tornam disputas entre monstros, desafios de leões e castelos de princesas. A narrativa vira uma distração que a anima.

– É uma parte do dia que adoro – diz a menina.

O voluntário deixa um recado para os pais:

– É recomendado que vocês também leiam para a Julia, isso ajuda a fortalecer o interesse dela. 

Benefícios

Na realidade hospitalar, a leitura tira o paciente de sua rotina, de sua espera. Talvez por isso, para Victor D’Ambrós, 12 anos, os livros são mais importantes do que os filmes. A prática da leitura é bastante útil no período em que fica no hospital ou em casa, se recuperando das quimioterapias.

Victor descobriu que tem sarcoma de Ewing, um câncer que atinge os ossos. Está reagindo bem ao tratamento, mas precisou se afastar da escola e dos amigos. A ficção literária o leva para outros mundos, que envolvem vilões, guerras mundiais e as aventuras de crianças em escolas. Prefere histórias de ação, que tenham alguma coisa a ver com videogames que joga.

– Gosto de ler à noite, antes de dormir – revela o menino.

O médico Attilio Melluso Filho, do Centro de Distúrbios do Sono de Curitiba, diz que, quanto menos alarmante e repetitiva for a narrativa, melhor a condução para o adormecer. 

Gazeta do Povo
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Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a4112087.xml&template=3898.dwt&edition=21811&section=1028
Imagem reprodução da Internet

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