Martha Medeiros*
Houve uma época em que negros, dentro de um ônibus,
eram obrigados a ficar em pé, mesmo que houvesse assentos livres. Um
dia, uma mulher negra, Rosa Parks, sentou-se e se recusou a levantar
para dar lugar a um branco, e começou ali uma mudança de costumes
gradual que custou muitas vidas, mas que, por fim, resultou nos dias de
hoje, em que negros possuem os mesmos direitos que os brancos, ainda que
o racismo não esteja combatido totalmente.
Houve um tempo em que mulher não votava, era discriminada caso se separasse do marido, e pegava muito mal se saía para jantar com as amigas sem que um homem as acompanhasse.
Hoje, os direitos civis são mais amplos, mas sempre haverá questões a evoluir, e elas nunca serão fáceis e rápidas, pois nada demora mais do que mudar uma mentalidade enraizada. É muito difícil deixar uma zona de conforto, um pensamento já fundamentado. Sentimo-nos desprotegidos diante de ideias novas e não raro julgamos que o mundo irá entrar em colapso caso as regras do jogo se alternem. Porém, já está provado que as regras mudam e o universo não colapsa – se adapta.
É no que penso quando vejo essa gritaria em torno do pastor e deputado Marco Feliciano. Ele próprio já sabe que é carta fora do baralho, porém está se agarrando como pode ao seu cargo e ao seu discurso, que será ultrapassado logo ali, na próxima curva. É uma questão de tempo, e esse tempo é necessário para a maturação de um novo mundo – a humanidade é feita de sucessivos “novos mundos”, que são inaugurados um após o outro, a despeito das forças contrárias.
Correndo em paralelo, a discussão em torno do casamento gay se dá no mesmo ritmo. Legalizado na Argentina, depois no Uruguai, é questão de tempo sua legalização aqui no Brasil, e chegará um dia em que nossos bisnetos olharão para trás e considerarão inacreditável que houvesse pessoas que não aceitassem que dois homens ou duas mulheres tivessem uma união estável reconhecida. Ninguém precisa aderir, nem gostar, mas não se pode ignorar ou impedir: pessoas se sentem atraídas umas pelas outras, amam umas as outras, independentemente do gênero, e isso é mais forte do que qualquer preconceito. Assim como existiu quem achasse natural que um negro cedesse seu lugar a um branco no ônibus e que uma mulher não tivesse direito a votar nos políticos que a representariam, ainda há quem considere natural que um gay seja considerado menos cidadão do que um hétero.
Seja por razões étnicas, religiosas ou sociais, temos a tendência em querer manter as coisas como estão, pois ficamos aterrorizados diante do que não conhecemos. Porém, é só observar o curso da História para comprovar que a resistência, ainda que legítima, é ineficaz: nada se mantém o mesmo por muito tempo, nem a sociedade, nem cada um de nós, em nossas vidas particulares. Por mais tensas e aflitivas que sejam as adaptações, quando justas elas são feitas, e no final das contas, nem o mundo termina, nem o diabo dá as caras.
Houve um tempo em que mulher não votava, era discriminada caso se separasse do marido, e pegava muito mal se saía para jantar com as amigas sem que um homem as acompanhasse.
Hoje, os direitos civis são mais amplos, mas sempre haverá questões a evoluir, e elas nunca serão fáceis e rápidas, pois nada demora mais do que mudar uma mentalidade enraizada. É muito difícil deixar uma zona de conforto, um pensamento já fundamentado. Sentimo-nos desprotegidos diante de ideias novas e não raro julgamos que o mundo irá entrar em colapso caso as regras do jogo se alternem. Porém, já está provado que as regras mudam e o universo não colapsa – se adapta.
É no que penso quando vejo essa gritaria em torno do pastor e deputado Marco Feliciano. Ele próprio já sabe que é carta fora do baralho, porém está se agarrando como pode ao seu cargo e ao seu discurso, que será ultrapassado logo ali, na próxima curva. É uma questão de tempo, e esse tempo é necessário para a maturação de um novo mundo – a humanidade é feita de sucessivos “novos mundos”, que são inaugurados um após o outro, a despeito das forças contrárias.
Correndo em paralelo, a discussão em torno do casamento gay se dá no mesmo ritmo. Legalizado na Argentina, depois no Uruguai, é questão de tempo sua legalização aqui no Brasil, e chegará um dia em que nossos bisnetos olharão para trás e considerarão inacreditável que houvesse pessoas que não aceitassem que dois homens ou duas mulheres tivessem uma união estável reconhecida. Ninguém precisa aderir, nem gostar, mas não se pode ignorar ou impedir: pessoas se sentem atraídas umas pelas outras, amam umas as outras, independentemente do gênero, e isso é mais forte do que qualquer preconceito. Assim como existiu quem achasse natural que um negro cedesse seu lugar a um branco no ônibus e que uma mulher não tivesse direito a votar nos políticos que a representariam, ainda há quem considere natural que um gay seja considerado menos cidadão do que um hétero.
Seja por razões étnicas, religiosas ou sociais, temos a tendência em querer manter as coisas como estão, pois ficamos aterrorizados diante do que não conhecemos. Porém, é só observar o curso da História para comprovar que a resistência, ainda que legítima, é ineficaz: nada se mantém o mesmo por muito tempo, nem a sociedade, nem cada um de nós, em nossas vidas particulares. Por mais tensas e aflitivas que sejam as adaptações, quando justas elas são feitas, e no final das contas, nem o mundo termina, nem o diabo dá as caras.
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* Escritora. Cronista da ZH
Fonte: ZH on line, 17/04/2013
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