Entrevista Padre Marcelo Rossi
Sacerdote critica incentivo da igreja às comunidades eclesiais de base e diz que Feliciano quer criar 'guerrilha'
(DIÓGENES CAMPANHA)DE SÃO PAULO
Sacerdote católico mais famoso do país, o padre Marcelo Rossi, 45, vai
de encontro à indicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) de que o incentivo às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) pode
ajudar a igreja a recuperar o espaço perdido para os evangélicos.
Para padre Marcelo, as CEBs --que tiveram seu auge nos anos 1980
combinando princípios cristãos a uma visão social de esquerda--
apresentam o risco de estimular a "tentação à política".
"O PT surgiu da CEB. Então, que não se politize", diz o padre, que
defende que a igreja construa grandes espaços como seu Santuário Mãe de
Deus, aberto, ainda incompleto, em novembro passado.
Ele pretende concluir a obra, com capacidade para 100 mil fiéis, com as
vendas de "Kairós" (ed. Globo), seu segundo livro, que será lançado
amanhã em São Paulo.
Folha - Qual sua expectativa em relação ao papa Francisco?
É uma expectativa muito grande, a começar pelo rompimento dos
protocolos. Espero muito da renovação da igreja, da opção pelos pobres.
Espero em julho estar com ele na Jornada Mundial da Juventude e entregar
o [livro] "Kairós". Meu amigo padre Fábio de Melo, padre Reginaldo
Manzotti e eu estaremos lá, cantando para ele.
Em 2007, o senhor foi impedido de cantar para o papa Bento 16 no
Brasil e acusou a Arquidiocese de São Paulo de boicotá-lo. Temeu que o
arcebispo dom Odilo Scherer virasse papa?
Não, pelo contrário. Dom Odilo pôde me conhecer de perto. Percebeu que
eu não era um artista. Hoje tenho uma admiração e um carinho enorme por
ele. Não vou dizer que [o responsável pelo boicote] foi dom Odilo. Foi o
comitê organizador. É muito fácil culpar. Às vezes, a pessoa nem está
sabendo.
Ainda em 2007 ele disse que seu trabalho era "insuficiente" e que "o padre não é um showman". O que mudou?
Ele entendeu que eu não faço show. Celebro missa. Toda missa que faço,
mesmo na TV, quem está à frente é o meu bispo [dom Fernando Figueiredo,
bispo de Santo Amaro]. Estou lá animando. Minha função é animar as
pessoas.
O último Censo apontou um aumento do número de evangélicos e a diminuição do número de católicos. Como recuperar o terreno?
O número de católicos é enorme e o de padres, em relação aos fiéis,
mínimo. Para formar um sacerdote são no mínimo sete anos. Um pastor se
faz em três meses. A formação é mínima. E precisa ter acolhida. A pessoa
vai à igreja, ela está fechada. Os [templos] evangélicos estão sempre
abertos. E o uso da mídia. Você liga a TV, sempre tem coisa evangélica,
pessoas que invadem horários e horários. É até exagerado.
Na assembleia da CNBB, neste mês, a igreja indicou que quer
incentivar as Comunidades Eclesiais de Base para recuperar espaço em
áreas pobres. Deve ser esse o caminho?
Aí eu questiono. Acho as CEBs importantes, mas hoje nosso povo precisa
de grandes espaços. Vejo nas missas do Santuário. Uma vela ilumina? E
dez? E 20 mil? O Palmeiras estava sem 13 titulares, mas a torcida foi e
eles se classificaram na Libertadores. Faz diferença. Os evangélicos
erguem grandes locais, porque reúnem as pessoas. Se ficar fechado na
CEB, esquecer a oração, ficar só na política... Se olhar os que estão no
governo, a maioria surgiu da CEB.
A CEB está na origem do PT.
O PT surgiu da CEB. Então, que não politize. O perigo é este: cair na política.
O senhor é criticado por atrair o público, mas adotar um discurso conservador e distante dos problemas sociais.
Temos trabalhos com recuperação de drogados, arrecadação de alimentos.
Nas CEBs, acaba se tornando mais política do que social. É mais perigoso
a pessoa ter a tentação à política na CEB.
Acha que a igreja serviu de trampolim para integrantes do governo ou do PT?
Não poderia julgar. A Igreja Católica é apartidária, pelo menos deve
ser. Os evangélicos, às vezes, determinam em quem votar. Estamos
voltando à Idade Média, o período mais terrível e negro da igreja.
Mas na campanha do ano passado houve episódios polêmicos envolvendo a
Igreja Católica, como a declaração de dom Odilo contra a campanha de
Celso Russomanno.
E dom Fernando depois se manifestou [disse que Russomanno era católico].
Russomanno saiu de encontro de casais. Fiz o casamento dele, batizei os
filhos. Ele é católico. É fácil hoje você destruir uma pessoa. Veja o
[deputado Gabriel] Chalita [acusado de receber favores de empresas
quando era secretário estadual da Educação].
Como avalia as denúncias contra ele, que é seu amigo?
Fico perplexo. Estou esperando ele se manifestar. Nossa função é ficar
quietinho, porque é um amigo que me ajudou muito. Quero ver o que vai
ser provado. Se algo está errado, você vai falar [denunciar] depois de
dez anos? É para destruir a pessoa.
Conversou com Chalita?
Até agora não, acredita? Estou esperando um posicionamento mais claro.
Ainda dizia, quando ele falou que iria entrar na política: "Não faça
isso". Eu o aconselhei várias vezes. Conselho é bom, né, mas você só
pode dar.
Espera um posicionamento público ou que ele fale pessoalmente com o senhor?
Pessoalmente eu não prefiro. Tenho certeza de que ele vai falar que está tudo OK. Mas quero ver um posicionamento provando isso.
Acredita na inocência dele?
Parto do princípio da confiança. Mas não sou cego. Se eu vejo alguma
coisa que está errada... Por isso estou esperando que ele se coloque.
Qual sua opinião a respeito do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) à frente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara?
Ele tentou até me provocar [disse, em uma entrevista, que "padre Marcelo
pede dinheiro e nunca se falou nada"]. Eu nunca pedi dinheiro. Pelo
contrário. O jogo deles é criar guerrilha. A melhor coisa é ficar
quieto. A Justiça do mundo pode tardar, mas chega. E credibilidade não
se compra. Em 2010, a Folha fez uma pesquisa sobre em quem o brasileiro
mais confiava, com 27 personalidades. Estava o Edir Macedo, que ficou lá
em 20º [foi o 26º]. Fiquei em terceiro lugar. Eram Lula, William Bonner
e eu.
Ele deveria renunciar?
Ele nem deveria estar lá, na minha opinião. A partir do momento em que
se diz um pastor, não dá para ser ao mesmo tempo um líder político. Acho
importante ter uma bancada católica, como existe a evangélica. Mas não
acho correto padre, bispo, pastor se candidatarem, porque aí estou
transformando um púlpito num palanque.
Qual sua opinião sobre o casamento gay?
A palavra de Deus é clara: Deus criou o homem e a mulher. A igreja
acolhe o pecador, mas não o pecado. Não vai poder legitimar o casamento
entre homossexuais. Mas acolhe com carinho.
E sobre a adoção por casais homossexuais?
[Ele é contra] Por causa da formação. O que vai ficar na cabeça [da
criança]? Você quebra o sentido do que é família, que é o homem e a
mulher, o pai e a mãe. São princípios bíblicos. Não sou eu que vou
contrariar a palavra de Deus. Seja evangélico ou católico, a partir do
momento em que você é cristão, não dá.
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Fonte: Folha on line, 29/04/2013
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