Hélio Schwartsman*
"Por que jovens que cresceram e estudaram aqui [nos
EUA] e eram parte de nossa comunidade e de nosso país recorreram a tal
violência?", indagou-se Barack Obama após a prisão de Dzhokhar Tsarnaev,
suspeito de ter plantado as bombas na maratona de Boston. Em outras
palavra, o que levou um garoto, descrito como "doce" e "amigável" por
quem o conhecia, a praticar um ato de terror?
Nas últimas décadas, psicólogos e sociólogos que se dedicaram a estudar
"o mal" chegaram a conclusões interessantes. A mais polêmica é a de que o
"puro mal" só existe em nossas cabeças. De um modo geral, até o mais
frio assassino acredita ter razões que justificam seu ato.
A personalidade, é claro, importa. Psicopatas e narcisistas, por
exemplo, têm maior chance de envolver-se em agressões (as cadeias têm
proporcionalmente mais pessoas com esse perfil do que a população
geral), mas isso é só parte da história.
Experimentos conduzidos por psicólogos sociais mostraram que mesmo
pessoas tidas como normais cometem verdadeiras barbaridades, se a
situação as levar a isso. Philip Zimbardo, por exemplo, fez com que
estudantes de Stanford representando o papel de guardas numa
penitenciária fictícia logo praticassem abusos muito reais contra seus
prisioneiros.
O que a literatura psicológica mostra é que a maioria dos atos de
violência e crueldade pode ser reduzida a poucas causas principais. Na
classificação proposta por Jonathan Haidt, as duas primeiras são ambição
e sadismo, mas elas têm pouca relevância prática. É raro alguém matar
só para ter lucro e mais ainda para extrair prazer. As outras duas são
alta autoestima e idealismo moral. Curiosamente, são duas
características que tentamos incutir em nossos filhos desde pequenos. E,
quando elas se combinam para produzir um sujeito cheio de si
acreditando agir a mando de um Deus ou de uma ideologia infalíveis, o
pior acontece.
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* Colunista da Folha
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