segunda-feira, 22 de abril de 2013

Cartes é o presidente do Paraguai

A VOLTA DOS COLORADOS

 

A vantagem de quase 10 pontos entre o vitorioso e o liberal Alegria, que reconheceu a derrota à noite, é superior à prevista pelas pesquisas

Em um dia ensolarado e com denúncias localizadas de anormalidade nas seções eleitorais, os paraguaios elegeram ontem o empresário Horacio Cartes, 56 anos, para a presidência do país. As pesquisas de boca de urna indicavam desde cedo a tendência de que Cartes venceria o liberal Efraín Alegre (que no início da noite reconheceu a derrota), com vantagem de 10 pontos, menor do que a de levantamentos dos dias anteriores ao pleito. A Justiça Eleitoral confirmou, à noite: foram 45,9% a 36,8%.

Dados eram repassados pelos institutos à imprensa paraguaia sob a condição de que os números fossem divulgados, mas não os nomes dos candidatos. Os liberais recomendavam a seus seguidores que fiscalizassem a apuração e surgiam rumores sobre supostas ameaças de morte a Cartes.

O escritor e médico Alfredo Boccia Paz, um dos analistas políticos mais respeitados do país, já dizia, a Zero Hora, que a tendência era irreversível e que se sentia “surpreso” pela diferença pró-Cartes. Ressalvava, porém, que ela era compreensível:

– São três motivos que levam a essa vitória mais folgada que o esperado. O primeiro é o aparato eleitoral do Partido Colorado no interior. Também contou a aliança de última hora do Partido Liberal com os oviedistas, o que pode ter lhe tirado votos. E há outro elemento: houve o voto útil da esquerda nos colorados, não tenho dúvida.

Por que votos da esquerda foram para o partido do ditador Alfredo Stroessner (1954-1989) e que permaneceu 61 anos no poder sempre visto como a representação do conservadorismo?

– Porque o Partido Liberal paga pela aventura de julho com o inferno de abril. Era aliado do ex-presidente Fernando Lugo e o traiu, no impeachment. O Partido Colorado apoiou os liberais nessa aventura, mas estava no seu papel, já era oposição. Sendo assim, ficou para os liberais, junto à esquerda, a imagem de traidores – diz Paz.

O Partido Colorado retoma o poder paraguaio depois de ter sido desbancado pelo ex-bispo esquerdista Lugo, em um histórico rompimento de hegemonia. Agora, deve facilitar o retorno do Paraguai ao Mercosul.

– É natural. Cartes até disse que a tão contestada entrada da Venezuela no bloco já é fato consumado.

Esse ponto de vista do analista, no entanto, não é unânime.

– O Brasil vai ter que negociar. Vai dar sinais de normalização, mas não creio que Partido Colorado facilite, como se prevê. O paraguaio é orgulhoso, não aceitou que o país tenha sido suspenso do Mercosul. E também aproveitou a suspensão para aumentar contatos com países extrabloco, como Estados Unidos e China – pondera Wagner Weber, presidente do Centro Empresarial Brasil-Paraguai.

A presidente argentina, Cristina Kirchner, tuitou: “Seu lugar está ali no Mercosul junto a nós, como sempre.”

Entre os brasiguaios (como são conhecidos os 300 mil brasileiros radicados no Paraguai), Cartes era o candidato preferido. Alguns deles chegaram a fazer campanha pelo colorado.

– Foi muito importante. Era o nosso candidato. Estamos esperançosos, ficamos mais tranquilos. Chegamos aqui com o Partido Colorado, e não havia problemas para nós. Espero voltar a viver com calma – disse Neimar Schuster, 46 anos, 40 deles vividos na região paraguaia do Alto Paraná.

Além do presidente, cujo mandato é de cinco anos sem reeleição, os paraguaios escolheram 45 senadores e 80 deputados. Lugo foi eleito senador, 10 meses após sua destituição “por mau desempenho das funções”.
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leo.gerchmann@zerohora.com.br @Leogerchmann
Reortagem por LÉO GERCHMANN
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a4113997.xml&template=3898.dwt&edition=21815&section=1014

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