Rosely Sayão*
Pais fazem questão de que seus filhos tenham um diploma, mas essa deve ser uma escolha do jovem
Recebi uma mensagem muito sofrida de um jovem que iniciou seu curso
universitário neste ano. Como ele trata de questões que atingem --ou
irão atingir-- um grande número de pessoas, decidi tomar a mensagem dele
como um guia para nossa reflexão semanal.
A primeira coisa que nosso jovem leitor anunciou em sua mensagem foi o
arrependimento pela decisão de fazer o curso que faz. Ele lamentou
profundamente não ter pesquisado mais cursos antes de prestar o
vestibular, não ter feito um trabalho de orientação profissional, não
ter procurado conhecer novos cursos. Lamentou, enfim, todas as atitudes
que, do seu ponto de vista, não tomou.
Você tem ideia, caro leitor, de quantos jovens se arrependem da escolha
que fizeram ainda no primeiro ano da faculdade? Por que será que isso
tem acontecido com tanta frequência? Para você ter uma noção desse
fenômeno, um número pode ajudar: o índice de evasão de alunos
universitários é, em média, 20%, mas varia bastante entre os diferentes
cursos chegando a quase 40% em alguns deles.
Essa é uma desistência precoce, sem dúvida alguma. Afinal, com alguns
meses de aulas não dá para saber nada a respeito do curso ou do
exercício da profissão a qual ele levará. O arrependimento tem relação,
portanto, com o que não foi escolhido.
Decidir por algo tem sido uma atitude cada vez mais difícil. Um dos
motivos é que, quanto maior o leque de escolhas possíveis, mais árduo é o
processo de renunciar.
Outro motivo é o compromisso. Hoje, o maior compromisso das pessoas é
consigo mesmas, com a busca de satisfação e de felicidade. O problema é
que nenhuma escolha realizada oferece garantia de encontrar o que se
busca e, portanto, o que se procura pode estar em outro lugar. Assim,
desistir da escolha feita é sempre uma alternativa aberta.
Uma outra questão levantada pelo leitor foi o fato de que ele não quer
prolongar sua dependência em relação aos pais e, por isso, quer
trabalhar. O problema, para ele, é que seus pais não aceitam essa sua
decisão.
Parece que os pais de classe média fazem questão de que os filhos tenham
um diploma universitário. Não importa muito se o jovem quer, se o
diploma vai oferecer uma vida melhor ao filho etc. Mas é bom saber que
fazer faculdade deve ser uma escolha do jovem. Trabalhar pode ser outra
escolha. O que ele não pode escolher, a essa altura da vida, é não
escolher nada.
Carregamos conosco a informação, já vencida, de que o fato de cursar uma
faculdade garante um bom emprego aos portadores do diploma. Isso não é
mais verdade. E obrigar o jovem a fazer o que não quer só resulta em
fatos negativos: heteronomia, dependência, imaturidade. E creio que já
chega de termos jovens que não entram nunca na maturidade, porque, entre
outras coisas, prolongam seu curso universitário por anos, trancam a
matrícula para voltar a fazer cursinho e ficam com inúmeras disciplinas
em dependência.
Talvez esta seja a hora de ajudar o jovem a se comprometer com suas
escolhas e a perceber que a felicidade se encontra mais facilmente na
vida pessoal do que na profissional. Esta oferece a possibilidade de
reconhecimento social.
Será que temos ensinado aos mais novos a importância da atuação social?
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