Frei Gilvander Luís Moreira*
5 – Treze características da pedagogia emancipatória de Jesus de Nazaré.
Jesus não nos salva automaticamente, mas
testemunha um jeito de viver, melhor dizendo, um jeito de conviver que é
libertador e salvador. Vital é prestarmos atenção no jeito e como Jesus
ensina e atua. Faz bem prestarmos atenção no processo pedagógico
efetivado por Jesus. Trata-se de uma Pedagogia emancipatória com muitas
características, entre as quais, destacamos treze.
5.1) A partir da periferia. O Evangelho de Lucas
interpreta a vida, ações e ensinamentos de Jesus ao longo de uma grande
caminhada da Galileia até Jerusalém, ou seja, da periferia geográfica e
social ao centro econômico, político, cultural e religioso da
Palestina. A Palavra, em Lucas, é a palavra de um
leigo, de um camponês galileu, “alguém de Nazaré”, pessoa simples,
pequena, alguém que vem da grande tribulação. Não é palavra de sumo
sacerdote, nem do poder.
5.2) Prioriza a formação. Nessa grande viagem, subida para Jerusalém,
Jesus prioriza a formação dos discípulos e discípulas. Ele percebe que
não tem mais aquela adesão incondicional da primeira hora. Jesus
descobriu que para consolar os aflitos era necessário também incomodar
os acomodados e denunciar pessoas e estruturas injustas e corruptas.
Assim, o jovem de Nazaré começou a perder apoio popular. Era necessário
caprichar na formação de um grupo menor que pudesse garantir os
enfrentamentos que se avolumavam. Jesus sabia muito bem que em Jerusalém
estava o centro dos poderes religioso, econômico, político e
judiciário. Lá travaria o maior embate.
5.3) Não foge do combate. O Evangelho de Lucas diz: Jesus, cheio do Espírito, em uma proposta periférica alternativa, vai, em uma caminhada, de Nazaré a Jerusalém;
ou seja, vai da periferia para o centro, caminhando no Espírito. Em
Jerusalém acontece um confronto entre o projeto de Jesus e o projeto
oficial. Este tenta matar o projeto de Jesus (e de seu movimento)
condenando-o à morte na cruz. Mas o Espírito é mais forte que a morte.
Jesus ressuscita. No final do Evangelho de Lucas, Jesus diz aos
discípulos: “Permaneçam em Jerusalém até a vinda do Espírito Santo” (Lc 24,49).
5.4) Sempre em movimento. Seguir Jesus
exige uma dinâmica de permanente movimento. A sociedade capitalista
leva-nos a buscar segurança, o que é uma farsa. É hora de aprendermos a
seguir Jesus de forma humilde e vulnerável, porém mais autêntica e real.
Isso não quer dizer distrair com costumes e obrigações que provêm do
passado, mas não ajudam a construir uma sociedade justa, solidária e
sustentável ecologicamente.
5.5) Anda na contramão.
Seguir Jesus implica andar na contramão, remar contra a correnteza de
tantos fundamentalismos e da idolatria do consumismo. Exige também
rebeldia, coragem, audácia diante de costumes que entortam o queixo e de
modas que aniquilam o infinito potencial humano existente em nós.
5.6) Sabe a hora de conviver e a hora de lutar. O Evangelho de Lucas apresenta dois envios de discípulos para a missão. No primeiro envio (Lc 10,1-11),
Jesus indicou aos discípulos que fossem despojados e desarmados para o
campo de missão. Assim deve ser todo início de missão: conhecer,
conviver, estabelecer amizades, cativar, assumir a cultura do outro,
tornar-se um/a irmã/ão entre as/os irmã/ãos para que seja reconhecido
como “um dos nossos”. No segundo envio (Lc 22,35-38), em hora de luta e
combate, Jesus sugere que os discípulos devem ir preparados para a
resistência. Por isso “pegar bolsa e sacola, uma espada – duas no
máximo.” (Lc 22,36-38).
Durante a evolução da missão, chega a
hora em que não basta esbanjar ternura, graciosidade e solidariedade. É
preciso partir para a luta, pois as injustiças precisam ser denunciadas.
Ao tomar partido e “dar nomes aos bois” irrompem-se as divisões e
desigualdades existentes na realidade. Os incomodados tendem
naturalmente a querer calar quem os está incomodando. É a hora das
perseguições que exigem resistência. Confira a trajetória de vida dos/as
mártires da caminhada: Padre Josimo, Padre Ezequial Ramin, Chico Mendes, Margarida Alves, Sem Terra de Eldorado dos Carajás, Irmã Dorothy, Santo Dias, Chicao Xucuru, Padre Gabriel, padre Henrique etc.
5.7) Resiste, o que não é violência, mas legítima defesa.
Diante de qualquer tirania e de um Estado violentador, vassalo do
sistema capitalista que sempre tritura vidas e pratica injustiças, é
dever das pessoas cristãs resistirem contras as opressões perpetradas
contra os empobrecidos, os preferidos de Jesus. Lucas, em Lc 22,35-38, sugere desobediência civil – econômica, política e religiosa. Em uma sociedade desigual, esse é “outro caminho” a ser seguido (cf. Mt 2,12) por nós, discípulos e discípulas de Jesus, o rebelde de Nazaré.
5.8) Não trai sua origem.
Jesus, o jovem de Nazaré, se tornou Cristo, filho de Deus. Como
camponês, deve ter feito muitos calos nas mãos, na enxada e na
carpintaria, ao lado de seu pai José. Os evangelhos fazem questão de
dizer que Jesus nasceu em Belém, (em hebraico, “casa do pão” para
todos), cidade pequena do interior. “És tu Belém a menor entre todas as
cidades, mas é de ti que virá o salvador”, diz o evangelho de Mateus (Mt
2,6), resgatando a profecia de Miquéias (Miq 5,1).
Segundo Lucas, Jesus inicia sua missão pública em Nazaré, sua terra de
origem, em uma sinagoga, onde aprendeu muita coisa libertadora. Jesus se
orgulhava de ser jovem camponês. Valorizava a cultura camponesa.
Percebia que a cidade, muitas vezes, mata os profetas, mata os jovens,
como o jovem de Naim (Lc 7,11-17).
5.9) Pedagogia da partilha de pães, que liberta e emancipa.
A fome era um problema tão sério na vida dos primeiros cristãos e
cristãs, que os quatro evangelhos da Bíblia relatam Jesus partilhando
pães e saciando a fome do povo. É óbvio que não devemos historicizar os
relatos de partilha de pães como se tivessem acontecido tal como
descrito. Os evangelhos foram escritos de quarenta a setenta anos
depois. Logo, são interpretações teológicas que querem ajudar as
primeiras comunidades a resgatar o ensinamento e a práxis original do
jovem galileu. Não podemos também restringir o sentido espiritual da
partilha dos pães a uma interpretação eucarística, como se a fome de pão
se saciasse pelo pão partilhado na eucaristia. Isso seria
espiritualização do texto. Eucaristia, celebrada em profunda sintonia
com as agruras da vida, é uma das fontes que sacia a fome de Deus, mas
as narrativas das partilhas de pães têm como finalidade inspirar solução
radical para um problema real e concreto: a fome de pão.
A beleza espiritual das narrativas de
partilha de pães – o correto é partilha de pães e não multiplicação de
pães - está no processo seguido: uma série de passos articulados e
entrelaçados que constituem um processo libertador. O milagre não está
aqui ou ali, mas no processo todo. Ei-lo em várias características:
5.10.1) Cidade, lugar de violência?
O evangelho de Mateus mostra que o povo faminto “vem das cidades”. As
cidades, ao invés de serem locais de exercício da cidadania, se tornaram
espaços de exclusão e de violência sobre os corpos humanos. Faz bem
recordar que Deus criou – e continua criando -, nas ondas da evolução,
tudo “em seis dias e no sétimo dia descansou.” Conta-se que alguém teria
perguntado a Deus porque ele resolveu descansar após o sexto dia. Deus
teria dito que já tinha criado tudo com muito amor e para o bem da
humanidade e de toda a biodiversidade. Quando viu que faltava criar a
cidade, o Deus criador concluiu que era melhor descansar.
5.10.2) Ir para o meio dos excluídos e injustiçados. “Jesus atravessa para a outra margem do mar da Galileia” (Jo 6,1),
entra no mundo dos gentios, dos pagãos, dos impuros, enfim, dos
excluídos e injustiçados. Jesus não fica no mundo dos incluídos, mas
estabelece comunicação efetiva e afetiva entre os dois mundos, o dos
incluídos e o dos excluídos. Assim, tabus e preconceitos desmoronam-se.
5.10.3) Nunca perder a capacidade de se comover e de se indignar. Profundamente comovido,
porque “os pobres estão como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34),
Jesus percebe que os governantes e líderes da sociedade não estavam
sendo libertadores, mas estavam colocando grandes fardos pesados nas
costas do povo. Com olhar altivo e penetrante, Jesus vê uma grande
multidão de famintos que vem ao seu encontro, só no Brasil são milhões
de pessoas que têm os corpos implodidos pela bomba silenciosa da fome ou
da má alimentação.
5.10.4) Postura crítica.
Jesus não sentiu medo dos pobres, encarou-os e procura superar a fome
que os golpeava e humilhava. Apareceram dois projetos para resgatar a
cidadania do povo faminto. O primeiro foi apresentado pelo discípulo Filipe:
“Onde vamos comprar pão para alimentar tanta gente?” (Jo 6,5). No mesmo
tom, outros discípulos tentavam lavar as mãos: “Despede as multidões
para que possam ir aos povoados comprar alimento.” (Mt 14,15). Filipe
está dentro do mercado e pensa a partir do mercado. Está pensando que o
mercado é um deus capaz de salvar as pessoas. Cheio de boas intenções,
Filipe não percebe que está enjaulado na idolatria do mercado.
5.10.5) Postura criativa.
O segundo projeto é posto à baila por André, outro discípulo de Jesus,
que, mesmo se sentindo fraco, acaba revelando: “Eis um menino com cinco
pães e dois peixes” (Jo 6,9). Jesus acorda nos discípulos e discípulas a
responsabilidade social, ao dizer: “Vocês mesmos devem alimentar os
famintos” (Mt 14,16). Jesus quer mãos à obra. Nada de
desculpas esfarrapadas e racionalizações que tranquilizam consciências.
Jesus pulou de alegria e, abraçando o projeto que vem de André (em grego, andros = humano), anima o povo a “sentar na grama” (Jo 6,10).
Aqui aparecem duas características fundamentais do processo
protagonizado por Jesus para levar o povo da exclusão à cidadania, da
injustiça à justiça. Jesus convida o povo para se sentar. Por quê? Na
sociedade escravocrata do império romano somente as pessoas livres,
cidadãs, podiam comer sentadas. Os escravos deviam comer de pé, pois não
podiam perder tempo de trabalho. Deviam engolir rápido e retomar o
serviço árduo. Um terço da população era escrava e outro terço,
semiescrava. Logo, quando Jesus inspira o povo para sentar-se, ele está,
em outros termos, defendendo que os escravos têm direitos e devem ser
tratados como cidadãos.
5.10.6) Organização é o segredo da pedagogia de Jesus. Jesus estimula a organização dos famintos. “Sentem-se, em grupos de cem, de cinquenta, ...” (Mc 6,40). Assim, Jesus
e os primeiros cristãos e cristãs nos inspiram que o problema da fome e
todos os outros problemas sociais só serão resolvidos, de forma justa,
quando o povo marginalizado e injustiçado se organizar e partir para
lutas coletivas.
5.10.7) Gratidão.
“Jesus agradeceu a Deus...” A dimensão da mística foi valorizada. A luz
e a força divinas permeiam e perpassam os processos de luta. Faz bem
reconhecer isso. Vamos continuar cantando com Manelão -
cantor e compositor das Comunidades Eclesiais de Base que já partilha
vida em plenitude - cantos revolucionários, tal como: É madrugada,
levanta povo! / A luz do dia vai nascer de novo! / Rompe as cadeias,
abre o coração,/ Vamos dar as mãos, já é o reino do povo! / O povo agora
é Senhor da história, / Somos rebentos desta nova era. / A liberdade, a
fraternidade. / São as bandeiras desta nova terra!
5.10.8) Não ser paternalista.
Quem reparte o pão não é Jesus, mas os discípulos. Jesus provoca a
solidariedade conclamando para a organização dos marginalizados como
meio para se chegar à cidadania de e para todos. Dar pão a quem tem fome
sem se perguntar por que tantos passam fome é ser cúmplice do capital
que rouba o pão da boca da maioria.
5.10.9) Reaproveitar. “Recolham os pedaços que sobraram, para não se desperdiçar nada.” (Jo 6,12).
Economia que evita o desperdício. Quase 1/3 da alimentação produzida é
jogada no lixo, enquanto tantos passam fome. É hora de reduzir o
consumo. Reaproveitar, reciclar. Nada deve se perder, mas ser tudo
transformado. Em uma casa ecológica tudo é reaproveitado, inclusive as
fezes são consideradas recursos, pois viram adubo fértil e orgânico.
Envolvidos pela crise ecológica, com aquecimento e escurecimento global é
hora de reduzir, reutilizar, reciclar reaproveitar, recusar, recuperar e
repensar.
5.11) Participar da vida pública transformando a sociedade (Lc 10,38-42). Seguindo para Jerusalém, Jesus entra na casa de duas mulheres, Marta e Maria (Lc 10,38-42). Tradicionalmente, a narrativa de Lc 10,38-42
tem sido interpretada como uma oposição entre vida ativa e vida
contemplativa. Ao longo dos séculos e ainda hoje, muitos usam e abusam
de Lc 10,38-42 para justificar a vida contemplativa em
detrimento da vida ativa, mas essa interpretação não tem consistência
exegético-bíblica. Não há nenhuma referência no texto que diga que Jesus
estivesse rezando ou orando com Maria. Para entender bem Lc 10,38-42 é
preciso considerar algumas coisas.
Primeiro, nas duas perícopes anteriores,
Lucas revelou uma oposição, um contraste: humildes X entendidos (Lc
10,21-24) e samaritano X sacerdote e levita (Lc 10,29-37). Em Lc
10,38-42 também há uma oposição, um contraste: Maria X Marta. A postura
de Maria é elogiada por Jesus e a postura de Marta é censurada: “Marta,
Marta! ... uma só coisa é necessária...” (Lc 10,41-42).
Segundo, precisamos considerar a situação das mulheres na época de Jesus e do evangelho de Lucas (anos 80/90 do 1º século).
As mulheres eram - não todas, é óbvio - propriedades do pai e, depois
de casadas, dos maridos; não participavam da vida pública, deviam ficar
restritas ao lar; não aprendiam a ler e a escrever; não recebiam os
ensinamentos da Torá, a Lei. Encontra-se escrito no Talmud dos Judeus (Escritura não-sagrada): “Que as palavras da Torá
sejam queimadas, mas não transmitidas às mulheres”. A oração que muitos
judeus piedosos rezavam dizia: “Louvado sejas Deus por não ter-me feito
mulher!” O machismo e o patriarcalismo campeavam.
Ao sentar-se aos pés de Jesus, para
ouvir-lhe os ensinamentos, Maria reivindica para si o direito de ser
discípula. Ela reclama para si o direito de ser cidadã no sentido pleno.
“Sentar-se aos pés” era a atitude dos discípulos dos rabis, os mestres.
Em Lc 10,38-42, Maria
faz desobediência civil e religiosa, pois fica aos pés de Jesus
ouvindo-o. Somente os homens judeus podiam ficar aos pés de um mestre e
se tornarem discípulos. Maria ouve Jesus e, provavelmente, dialoga com
Jesus e o interroga. Assim Maria se torna discípula.
Um judeu entrar em uma casa onde só
havia mulheres também era algo censurável pela sociedade. Jesus
desobedece a essa regra moral e entra na casa de duas mulheres. Assim,
Jesus vai formando seus discípulos e discípulas enquanto caminha para
Jerusalém.
5.12) Ser simples como as pombas e esperto como as serpentes. Após uma longa marcha da Galileia a Jerusalém, da periferia à capital (Lc 9,51-19,27),
Jesus e seu movimento estão às portas de Jerusalém. De forma
clandestina, não confessando os verdadeiros motivos, Jesus e o seu grupo
entram em Jerusalém, narra o Evangelho de Lucas (Lc 19,29-40). De alguma forma deve ter acontecido essa entrada de Jesus em Jerusalém,
provavelmente não tal como narrado pelo evangelho, que tem também um
tom midráxico, ou seja, quer tornar presente e viva uma profecia do
passado.
Dois discípulos recebem a tarefa de
viabilizar a entrada na capital, de forma humilde, mas firme e corajosa.
Deviam arrumar um jumentinho – meio de transporte dos pobres -, mas
deviam fazer isso disfarçadamente, de forma “clandestina”. O texto
repete o seguinte: “Se alguém lhes perguntar: “Por que vocês estão
desamarrando o jumentinho?”, digam somente: ‘Porque o Senhor precisa
dele’”. A repetição indica a necessidade de se fazer a preparação da
entrada na capital de forma discreta, clandestina, sutil, sem alarde. Se
dissessem toda a estratégia, a entrada em Jerusalém seria proibida
pelas forças de repressão.
Com os “próprios mantos”
prepararam o jumentinho para Jesus montar. Foi com o pouco de cada um/a
que a entrada em Jerusalém foi realizada. A alegria era grande no
coração dos discípulos e discípulas. “Bendito o que vem como rei...”
Viam em Jesus outro modelo de exercer o poder, não mais como dominação,
mas como gerenciamento do bem comum.
Ao ouvir o anúncio dos discípulos – um
novo jeito de exercício do poder – certo tipo de fariseu se incomoda e
tenta sufocar aquele evangelho. Hipocritamente chamam Jesus de mestre,
mas querem domesticá-lo, domá-lo. “Manda que teus discípulos se calem.”,
impunham os que se julgavam salvos e os mais religiosos. “Manda...!”
Dentro do paradigma “mandar-obedecer”, eles são os que mandam.
Não sabem dialogar, mas só impor. “Que
se calem!”, gritam. Quem anuncia a paz como fruto da justiça testemunha
fraternidade e luta por justiça, o que incomoda o status quo opressor.
Mas Jesus, em alto e bom som, com a autoridade de quem vive o que
ensina, profetisa: “Se meus discípulos (profetas) se calarem, as pedras
gritarão.” (Lc 19,40). Esse alerta do galileu virou refrão de música das
Comunidades Eclesiais de Base: “Se calarem a voz dos
profetas, as pedras falarão. Se fecharem uns poucos caminhos, mil
trilhas nascerão... O poder tem raízes na areia, o tempo faz cair. União
é a rocha que o povo usou pra construir...!”
Dia 10 de abril de 1996, milhares de trabalhadores rurais do MST, em marcha, estavam chegando a 22 capitais do Brasil. Na chegada a Belo Horizonte, após marcharem de Governador Valadares à capital mineira, 500 Sem Terra
foram bloqueados pela tropa de choque da polícia militar de Minas
Gerais. Vinte Sem Terra foram presos; outros vinte, hospitalizados. O
governador de Minas havia dado ordens para proibir a entrada do MST em Belo Horizonte, porque três dias após, dia 13 de abril de 1996, a Fiat faria
o lançamento de um novo modelo de automóvel, o Fiat Pálio, na Av.
Afonso Pena, em Belo Horizonte. 700 jornalistas internacionais estariam
presentes. Os gritos do MST por reforma agrária
poderiam aparecer na imprensa internacional, o que seria mosca na sopa.
Mesmo reprimidos, conseguimos entrar em Belo Horizonte no dia seguinte
contando com o apoio do povo de BH. Um Sem Terra disse: “Quando os
oprimidos hebreus tentaram fugir da opressão do imperialismo egípcio
tiveram que enfrentar o Mar Vermelho. Na chegada de Belo Horizonte, um
Mar de policiais queria fazer um Mar Vermelho com nosso sangue. Feriram-nos, mas conseguimos entrar na capital. Assim foi com Jesus de Nazaré também.”
5.13) Intransigência diante da opressão econômica e política. Os quatro evangelhos da Bíblia (Mt 21,12-13; Mc 11,15-19; Lc 19,45-46 e Jo 2,13-17) relatam que Jesus,
próximo à maior festa judaico-cristã, a Páscoa, impulsionado por uma
ira santa, invadiu o templo de Jerusalém, lugar mais sagrado do que os
templos da idolatria do capital que muitas vezes tem a cruz de Cristo
pendurada em um ponto de destaque. Furioso como todo profeta, ao
descobrir que a instituição tinha transformado o templo em uma espécie
de Banco Central do país + sistema bancário + bolsa de valores, Jesus
“fez um chicote de cordas e expulsou todos do templo, bem como as
ovelhas e bois, destinados aos sacrifícios. Derramou pelo chão as moedas
dos cambistas e virou suas mesas. Aos que vendiam pombas (eram os que
diretamente negociavam com os mais pobres porque os pobres só conseguiam
comprar pombos e não bois), Jesus ordenou: “Tirem estas coisas daqui e
não façam da casa do meu Pai uma casa de negócio.” Essa
ação de Jesus foi o estopim para sua condenação à pena de morte, mas
Jesus ressuscitou e vive também em milhões de pessoas que não aceitam
nenhuma opressão.
Enfim, jovens como
Jesus de Nazaré, exercitemos pedagogias que libertam e emancipam.
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* Padre da Ordem dos carmelitas, professor de Teologia Bíblica, assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT, do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos – CEBI, do Serviço de Animação Bíblica - SAB e da Via Campesina em Minas Gerais.
* Última parte do texto escrito pelo autor. Fonte: IHU online, 29/02/2014
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