Joaquim Zailton Bueno Motta*
Mesmo que um relacionamento esteja desgastado pelos conflitos, dividir a cama é muito significativo para o casal. Cientistas e conselheiros matrimoniais apontam o contrário: em camas separadas, cada um dormirá de forma mais saudável e ajudará a manter a felicidade matrimonial. Apesar disso, cerca de metade dos casais insiste no leito comum.
Bernhard Loriot, veterano humorista alemão, disse que homens e mulheres não combinam — mesmo quando estão inconscientes! Pesquisas publicadas no mês passado, em Viena, parecem confirmar a anedota: estudos indicam que dividir a cama influencia no sono, no bem-estar geral e na qualidade do relacionamento.
Dormir aos pares ou em grupo, conforme as circunstâncias, é recurso de segurança, aquecimento, não só descanso, desde as civilizações antigas. A organização social e religiosa do cristianismo dominante na Europa Ocidental, principalmente a partir do século 17, definiu que dormir a dois era adequado, atendendo à expectativa de que o casal não fosse apenas repousar.
As pessoas mais abastadas tinham quartos separados para o homem e a mulher, um luxo que atualmente os pares se esforçam para oferecer. Se não conseguem ou se insistem no modo tradicional, podem comprometer os rituais atraentes do casal.
A higiene pessoal, a flatulência, o ronco, uma crise de tosse e outros detalhes são testemunhados bilateralmente, caracterizando uma intimidade visceral que concorre com a erótica.
Além disso, a delicada harmonia na cama de casal implica outros aspectos mais mundanos do que o sexo. Ela quer ler, ele quer assistir à televisão. Um prefere dormir com a janela aberta em noite fresca, o outro treme e gela nos pés. Um prende o lençol de cima sob o colchão, o outro não suporta a pressão...
Os ritmos biológicos das pessoas e dos gêneros são diferentes. Mulheres precisam de mais descanso, vão para a cama mais cedo. Homens têm facilidade para manter a temperatura do corpo constante (seriam mais equipados para esquentar as parceiras), mas roncam com mais frequência.
A maioria dos homens segue descansando, ao lado de suas mulheres insones. A diferença sexual da atividade hormonal também se reflete em períodos não sincronizados de luz e sono profundo, dificultando a noite feminina. A distribuição de massa desigual inclina a mulher toda vez que o companheiro muda de posição...
É mais difícil para as mulheres relaxar à noite devido à desproporção das responsabilidades domésticas. Atendendo as necessidades dos filhos, cuidando dos parentes mais velhos e se preocupando com os adolescentes que não voltam no horário combinado à noite, muitas mães esgotam-se como cuidadoras da família. Algumas parecem de plantão em um pronto-socorro ou no controle do tráfego aéreo.
Pela idade, os padrões distintos de sono ficam mais pronunciados. As mulheres tendem à síndrome das pernas inquietas, os homens a dormir menos profundamente. As sonecas durante o dia podem atrapalhar.
Nos países mais frios, é mais fácil observar que os homens são pouco sensíveis aos próprios odores corporais, enquanto as mulheres precisam de banhos e perfumes.
Mesmo com toda essa parafernália, são especialmente elas que se opõem a abrir mão da proximidade, da confiança e da sensação de aliança segura que a cama compartilhada proporciona. Portanto, esse costume tem a ver essencialmente com nutrir e manter o relacionamento.
Estatísticas indicam que os casais passam apenas oito minutos por dia conversando. Faria sentido que estivessem à noite juntos, pelo menos, pois a sociedade das camas de casal associa quartos separados com a redução do amor e o início da separação.
À medida que a intimidade erótica sente a concorrência da visceral e os pares notam as olheiras mais visíveis, o repouso ruim comprometendo a vida, é fundamental que pensem em se reencontrarem acordados.
*Joaquim Zailton Bueno Motta é psiquiatra e sexólogo
FONTE: Correio Popular online, 05/12/2009

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