sábado, 12 de dezembro de 2009

John Lasseter: aprendiz de feiticeiro moderno



Os números não mentem: John Lasseter é o Midas de Hollywood. Não existe, na história da indústria do cinema, uma empresa tão bem-sucedida - tanto artística quanto comercialmente - como a Pixar. Seus sete filmes produzidos nesta década - entre eles as obras-primas Wall-E e Up-Altas Aventuras - amealharam US$ 4,1 bilhões em bilheterias do mundo tudo e nada menos do que 25 indicações para o Oscar.
Aos 52 anos, usando uma de suas indefectíveis camisas havaianas, Lasseter hoje acumula o comando criativo tanto da Pixar quanto da Disney. Ele conversou com o Terra nos estúdios da nave-mãe (apelido dado por animadores mais jovens à companhia criada por Walt Disney) em uma apresentação especial de A Princesa e o Sapo, em cartaz nos cinemas brasileiros. O filme é uma retorno à animação musical clássica, com os animadores trabalhando em 2-D e a apresentação da primeira princesa negra da história da Disney.
A seguir, os melhores momentos do bate-papo com a mente mais brilhante e poderosa do mundo dos desenhos animados em Hollywood.

A Volta à Disney
"No dia em que eu voltei aos estúdios, disse: quero trabalhar novamente com animação feita à mão, tradicional. E tinha uma idéia, ainda quando estava apenas na Pixar, de fazer algo com a história do beijo do sapo virando príncipe e com Nova Orleans, uma das minhas cidades favoritas na vida. E os animadores trouxeram o twist da história, com a princesa Tiana, negra americana, virando uma rã. Nunca entendi o motivo pelo qual os estúdios pararam de fazer animação à mão. Creio que eles acharam que o público só queria ver agora animação computadorizada. E isso é uma bobagem. Nunca na história do cinema o meio ditou a qualidade. A audiência está em busca de boas histórias, de bons filmes, não interessam os efeitos."

A primeira família real negra na Disney
"O projeto começou há três anos, e juro que não teve nada a ver com termos um presidente negro. Se eu pudesse prever que Obama seria eleito no ano passado, provavelmente eu teria ganho uma fortuna em bolsas de apostas e não estaria aqui conversando com você. Foi total e absoluta coincidência. Todos nós adoramos a idéia de ter protagonistas negros, e trabalhamos com consultores afro-americanos. Queríamos que todos na comunidade negra dos EUA ficassem felizes e orgulhosos com a história e os personagens".

Segredos da Pixar
"Na Pixar sempre procuramos usar a tecnologia em nosso benefício, servindo à história. Por exemplo, no começo, a tecnologia disponível fazia com que todos os personagens parecessem feitos de plástico. Pensamos: ora, vamos aproveitar esta limitação e criar bonecos de plástico, vamos dar vida, vamos animar brinquedos, daí Toy Story! Sempre tivemos um cuidado imenso de saber exatamente como aproveitar o que o computador nos oferecia naquele exato momento".

Branca de Neve, o clássico desenhado à mão
"Acabamos de lançar a edição histórica da Branca de Neve e os Sete Anões. Prestem atenção no detalhe dos anões, eles são desenhados à mão de forma sensacional. Hoje em dia, com a tecnologia disponível, seria impossível reproduzir aquela sofisticação em animação computadorizada. Teria de ser feito à mão! O mesmo digo sobre os cenários. E duvido que as pessoas se cansaram destes desenhos clássicos".

Conto de Fadas
"Por que voltar aos contos de fadas depois de olharmos para carros, submarinos, brinquedos? Pense no centro do universo Disney. Nosso símbolo maior, na Disneylândia. O que está lá? Um castelo. Acho que há espaço no coração do público para o conto de fadas. E o último que fizemos foi em 1994 com A Bela e a Fera, que foi um grande sucesso. E eu pessoalmente adoro os contos de fada. Cresci apaixonado por Cinderela, pela fada-madrinha, pela música, pela abóbora, pelo filme todo".

Raízes
"Sou, modestamente, um fã e profundo conhecedor da história do desenho animado. Pensamos muito em que estilo de desenho à mão queríamos imprimir em A Princesa e o Sapo. Aí pensei em A Dama e o Vagabundo. Ele é o ápice do que chamo de 'estilo Walt Disney de animação à mão'. É o auge. Depois veio A Bela Adormecida e Os 101 Dálmatas, que são belíssimos, mas muito mais estilizados. Nós queríamos voltar para a estética de A Dama e o Vagabundo. Até os cenários de fundo, são todos inspirados naquele clássico".

O musical
"Fazer da Princesa e o Sapo um musical também foi crucial. Nova Orleans é riquíssima neste aspecto. Nós passamos um tempo na cidade e ouvimos jazz, zydeco, blues, gospel, dixieland, tudo o que você pode imaginar. Nosso problema, na verdade, foi editar, pois queríamos usar tudo. Randy Newman criou músicas originais, Dr.John cantou o tema principal, e gravamos na Louisiana. Foi uma das partes mais sensacionais do processo de filmagem e também de toda a minha trajetória profissional".

Parques e brinquedos com sabor da Louisiana
"Se vamos ter parques e brinquedos a partir de A Princesa e o Sapo? O que já posso adiantar é que existe, na Disneylândia, uma Praça Nova Orleans, então, pode ser uma bela idéia para nós, não? Ainda não posso adiantar nada, mas, digamos que uma coisa leva à outra..."

A Paixão pela animação 3-D
"Por favor não me entendam mal. Sou um devoto da animação em terceira dimensão, seguiremos desenvolvendo novos projetos nesta linha na Pixar, para minha alegria. Sou tão fã que até os meus retratos de casamento eu tirei em 3-D. E se segurem na poltrona porque Toy Story 3 e Carros 2 estão saindo do forno já já. E no verão de 2012 no Hemisfério Norte inauguraremos Cars Land, uma expansão do Disney Califórnia Adventure, absolutamente sensacional".

Por Eduardo Graça, Portal Terra
Fonte: Correio Braziliense online, 11/12/2009

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