Do ponto de vista político, os movimentos atualmente
hegemônicos na Igreja Romana enquadram-se perfeitamente na estratégia de
manter intactas as estruturas atuais do Catolicismo em termos de poder.
É preciso, portanto, seguir atentamente cada passo do novo Papa. Será
que ele pode aproveitar o vinho novo a ele trazido em odres velhos?
Dermi Azevedo*
O conceito de “movimento” é, de certa forma,
autoexplicativo. Significa mobilizar de forma provisória ou permanente
um objeto ou um agrupamento social para que assumam uma nova dinâmica,
uma nova situação voltada para atingir os objetivos organizacionais.
Nesse sentido, a palavra incorporou-se à linguagem popular e ao jargão
da mídia.
Hoje, no período de luta pela consolidação da democracia brasileira, é comum e corrente falar do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra /MST, do Movimento dos Atingidos pelas Barragens e do Movimento dos Direitos Humanos, entre outros. A origem remota do uso costumeiro dessa palavra pode ser encontrada no campo religioso cristão.
No final dos anos 50, a palavra movimento passou a designar o surgimento e a multiplicação de ações e de organizações decorrentes das reivindicações por mudanças e por reformas na ação eclesiástica. Esse clamor por reformas ocorreu, de forma particular, na Europa, com a instituição pelo Papa, da Ação Católica.
Os desdobramentos da AC (Ação Católica) foram organizações especificas ou movimentos também chamados de Pastorais, tais como a Juventude Agraria Católica/JAC, a Juventude Operária Católica/JOC, a Juventude Estudantil Católica/JEC, a Juventude Universitária Católica/JUC. A Juventude Feminina Católica/JFC e a Juventude independente Católica/JIC que reuniu os militantes não pertencentes às áreas sociais das demais organizações.
Delas, a JAC, a JEC, a JOC e a JUC tiveram uma atuação destacada na resistência aos civis e militares golpistas de 1964/1985. Originou-se, por exemplo, da JUC, a AP/Ação Popular, que teve entre seus fundadores e militantes, Herbert de Souza, o Betinho, a figura mais representativa, no Brasil, dos cristãos engajados na luta contra o Estado de exceção.
Mais remotamente, a criação da AC indicava um modelo “ideal” de Igreja proposto pelo Vaticano: numa sociedade vista organicamente, caberia ao Papa e aos bispos comandar o rebanho eclesiástico e ao Estado governar com senso de justiça, cabendo aos leigos a tarefa de se organizar, para pressionar o poder estatal.
Mas perto dos anos 60, a Ação Católica recolheu a influência de teólogos como Chenu e Congar, entre outros, no sentido de reformar a Igreja para estabelecer um diálogo com o mundo e o processo interno de atualização. O Concilio Vaticano II foi o espaço de acolhimento oficial da Igreja a essas propostas reformistas e renovadoras. Do mesmo modo, a influência dos movimentos católicos fez-se sentir nas conferências continentais de bispos em Medellín, na Colômbia e Puebla, no México.
Retrocesso
Já a partir da Conferencia de Santo Domingo, na Republica Dominicana, foi possível sentir e perceber a guinada à direita, dentro do Catolicismo Romano. A partir desse processo de direitização, passaram a ser hegemônicos na Igreja Romana, movimentos e organizações tradicionalmente conservadores ou novos movimentos neoconservadores. Ganharam força, a partir do Pontificado de João Paulo II, organizações como a Opus Dei, fundada na Espanha, durante a ditadura franquista, pelo monsenhor José Maria Escrivá de Balaguer.
O Papa Wojtyla transformou a Opus em prelazia pessoal, tornando-a obediente apenas às ordens pontífices. Entre os neoconservadores, projetaram-se organizações como a Comunhão e Libertação e Neocatecumenato além da Renovação Carismática, uma das forças do novo pentecostalismo.
Na extrema direita, exerce uma especial influencia do Vaticano – em termos de poder financeiro e de trafico de influência, a Soberana Ordem Militar de Malta. Vários dirigentes de bancos, mafiosos e servidores de governos ocidentais, pertencem a essa organização. Para nela ingressar o candidato passa por “rigorosas” provas tais como o exame meticuloso nas contas bancárias e o compromisso de “luta contra o comunismo”.
Síntese
Falar em movimentos na Igreja Romana requer muita atenção. É preciso verificar primeiro se a sua origem encontra-se no pré ou no pós Concílio do Vaticano II, e também analisar o seu contexto histórico. Vários desses movimentos neoconservadores são dirigidos por padres e não por leigos, contrariando os princípios do Vaticano II.
Do ponto de vista político, os movimentos atualmente hegemônicos na Igreja Romana enquadram-se perfeitamente na estratégia de manter intactas as estruturas atuais do Catolicismo em termos de poder. É preciso, portanto, seguir atentamente cada passo do novo Papa. Será que ele pode aproveitar o vinho novo a ele trazido em odres velhos?
Hoje, no período de luta pela consolidação da democracia brasileira, é comum e corrente falar do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra /MST, do Movimento dos Atingidos pelas Barragens e do Movimento dos Direitos Humanos, entre outros. A origem remota do uso costumeiro dessa palavra pode ser encontrada no campo religioso cristão.
No final dos anos 50, a palavra movimento passou a designar o surgimento e a multiplicação de ações e de organizações decorrentes das reivindicações por mudanças e por reformas na ação eclesiástica. Esse clamor por reformas ocorreu, de forma particular, na Europa, com a instituição pelo Papa, da Ação Católica.
Os desdobramentos da AC (Ação Católica) foram organizações especificas ou movimentos também chamados de Pastorais, tais como a Juventude Agraria Católica/JAC, a Juventude Operária Católica/JOC, a Juventude Estudantil Católica/JEC, a Juventude Universitária Católica/JUC. A Juventude Feminina Católica/JFC e a Juventude independente Católica/JIC que reuniu os militantes não pertencentes às áreas sociais das demais organizações.
Delas, a JAC, a JEC, a JOC e a JUC tiveram uma atuação destacada na resistência aos civis e militares golpistas de 1964/1985. Originou-se, por exemplo, da JUC, a AP/Ação Popular, que teve entre seus fundadores e militantes, Herbert de Souza, o Betinho, a figura mais representativa, no Brasil, dos cristãos engajados na luta contra o Estado de exceção.
Mais remotamente, a criação da AC indicava um modelo “ideal” de Igreja proposto pelo Vaticano: numa sociedade vista organicamente, caberia ao Papa e aos bispos comandar o rebanho eclesiástico e ao Estado governar com senso de justiça, cabendo aos leigos a tarefa de se organizar, para pressionar o poder estatal.
Mas perto dos anos 60, a Ação Católica recolheu a influência de teólogos como Chenu e Congar, entre outros, no sentido de reformar a Igreja para estabelecer um diálogo com o mundo e o processo interno de atualização. O Concilio Vaticano II foi o espaço de acolhimento oficial da Igreja a essas propostas reformistas e renovadoras. Do mesmo modo, a influência dos movimentos católicos fez-se sentir nas conferências continentais de bispos em Medellín, na Colômbia e Puebla, no México.
Retrocesso
Já a partir da Conferencia de Santo Domingo, na Republica Dominicana, foi possível sentir e perceber a guinada à direita, dentro do Catolicismo Romano. A partir desse processo de direitização, passaram a ser hegemônicos na Igreja Romana, movimentos e organizações tradicionalmente conservadores ou novos movimentos neoconservadores. Ganharam força, a partir do Pontificado de João Paulo II, organizações como a Opus Dei, fundada na Espanha, durante a ditadura franquista, pelo monsenhor José Maria Escrivá de Balaguer.
O Papa Wojtyla transformou a Opus em prelazia pessoal, tornando-a obediente apenas às ordens pontífices. Entre os neoconservadores, projetaram-se organizações como a Comunhão e Libertação e Neocatecumenato além da Renovação Carismática, uma das forças do novo pentecostalismo.
Na extrema direita, exerce uma especial influencia do Vaticano – em termos de poder financeiro e de trafico de influência, a Soberana Ordem Militar de Malta. Vários dirigentes de bancos, mafiosos e servidores de governos ocidentais, pertencem a essa organização. Para nela ingressar o candidato passa por “rigorosas” provas tais como o exame meticuloso nas contas bancárias e o compromisso de “luta contra o comunismo”.
Síntese
Falar em movimentos na Igreja Romana requer muita atenção. É preciso verificar primeiro se a sua origem encontra-se no pré ou no pós Concílio do Vaticano II, e também analisar o seu contexto histórico. Vários desses movimentos neoconservadores são dirigidos por padres e não por leigos, contrariando os princípios do Vaticano II.
Do ponto de vista político, os movimentos atualmente hegemônicos na Igreja Romana enquadram-se perfeitamente na estratégia de manter intactas as estruturas atuais do Catolicismo em termos de poder. É preciso, portanto, seguir atentamente cada passo do novo Papa. Será que ele pode aproveitar o vinho novo a ele trazido em odres velhos?
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* Jornalista e doutor em Ciências Políticas.
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/07/04/2013
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