Marcelo Rocha*
Escrever para quê? Para quem? Não temos público. Uma edição de 2 mil
exemplares leva anos para esgotar-se, e o nosso pensamento, por mais
original e ousado que seja, jamais se livrará no espaço amplo.
O desabafo acima não é de um escritor iniciante, diante da escassez de leitores, ou o brado de algum editor saudosista do formato do livro impresso, em tempos de difusão de outros suportes de leitura. Quem chamava a atenção para a falta de um público leitor era o romancista brasileiro Aluísio Azevedo, no final do século 19.
Azevedo tinha razão em sentir-se frustrado. A leitura era rarefeita. Segundo dados do primeiro recenseamento do império, de 1872, 84% da população, entre livres e escravos, era analfabeta. Nessa realidade, como haveria de prosperar a literatura?
O curioso é que o autor de O Cortiço era, segundo o jornalista Valentim Magalhães, o único escritor brasileiro que ganhava o pão com seus escritos, embora ressaltasse que as letras, no Brasil, ainda não davam para a manteiga.
Na mesma época, Machado de Assis, que também sofria com a tímida repercussão de seu Memórias Póstumas, foi aconselhado pelo cunhado a não desanimar, pois, mais cedo ou mais tarde, a justiça lhe seria feita.
Mas será que a justiça, de fato, foi feita e o panorama da leitura, no Brasil, sofreu alguma mudança substancial? Em recente encontro na Jornada Nacional de Literatura, o secretário do Plano Nacional do Livro e da Leitura, José Castilho Neto, declarou que apenas 26% dos alfabetizados são leitores plenos, isto é, capazes de compreender o conteúdo de textos lidos. Ademais, a nossa média de leitura ainda é de 1,3 livro por ano. Diante disso, o Ministério da Cultura estabeleceu, como prioridade, políticas para a formação de pessoas como mediadoras de leitura.
No entanto, talvez uma alternativa seja levar em consideração e estimular outras formas de leitura e não apenas aquelas reconhecidas a partir de uma tradição historiográfica literária. Por exemplo, segundo a pesquisadora Márcia Abreu, algumas vendagens da literatura de cordel chegaram a atingir a marca de 200 mil exemplares, o que, comparando com Gabriela, de Jorge Amado, que vendeu 20 mil exemplares, em sua primeira edição, é uma cifra considerável.
Hoje, o texto linear e canônico pode conviver com formas simultâneas de integração entre imagem e oralidade, transformando a percepção dos signos e da leitura. Isso não significa que os livros, em seu formato tradicional, tenham de ser abandonados, mas implica pensar, lembrando Camões, que: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” – e, nesse caso, mudam-se, também, os suportes.
De certo modo, a própria Feira do Livro de Porto Alegre pode ser um estímulo importante a todos esses modos de leitura. E são esses múltiplos olhares e significados que poderão ser partilhados nas conversas cotidianas na Praça da Alfândega e no Cais do Porto, ultrapassando as páginas dos livros e tornando-se tão essenciais para nossa fome de conhecer e de conviver quanto o pão e a manteiga.
O desabafo acima não é de um escritor iniciante, diante da escassez de leitores, ou o brado de algum editor saudosista do formato do livro impresso, em tempos de difusão de outros suportes de leitura. Quem chamava a atenção para a falta de um público leitor era o romancista brasileiro Aluísio Azevedo, no final do século 19.
Azevedo tinha razão em sentir-se frustrado. A leitura era rarefeita. Segundo dados do primeiro recenseamento do império, de 1872, 84% da população, entre livres e escravos, era analfabeta. Nessa realidade, como haveria de prosperar a literatura?
O curioso é que o autor de O Cortiço era, segundo o jornalista Valentim Magalhães, o único escritor brasileiro que ganhava o pão com seus escritos, embora ressaltasse que as letras, no Brasil, ainda não davam para a manteiga.
Na mesma época, Machado de Assis, que também sofria com a tímida repercussão de seu Memórias Póstumas, foi aconselhado pelo cunhado a não desanimar, pois, mais cedo ou mais tarde, a justiça lhe seria feita.
Mas será que a justiça, de fato, foi feita e o panorama da leitura, no Brasil, sofreu alguma mudança substancial? Em recente encontro na Jornada Nacional de Literatura, o secretário do Plano Nacional do Livro e da Leitura, José Castilho Neto, declarou que apenas 26% dos alfabetizados são leitores plenos, isto é, capazes de compreender o conteúdo de textos lidos. Ademais, a nossa média de leitura ainda é de 1,3 livro por ano. Diante disso, o Ministério da Cultura estabeleceu, como prioridade, políticas para a formação de pessoas como mediadoras de leitura.
No entanto, talvez uma alternativa seja levar em consideração e estimular outras formas de leitura e não apenas aquelas reconhecidas a partir de uma tradição historiográfica literária. Por exemplo, segundo a pesquisadora Márcia Abreu, algumas vendagens da literatura de cordel chegaram a atingir a marca de 200 mil exemplares, o que, comparando com Gabriela, de Jorge Amado, que vendeu 20 mil exemplares, em sua primeira edição, é uma cifra considerável.
Hoje, o texto linear e canônico pode conviver com formas simultâneas de integração entre imagem e oralidade, transformando a percepção dos signos e da leitura. Isso não significa que os livros, em seu formato tradicional, tenham de ser abandonados, mas implica pensar, lembrando Camões, que: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” – e, nesse caso, mudam-se, também, os suportes.
De certo modo, a própria Feira do Livro de Porto Alegre pode ser um estímulo importante a todos esses modos de leitura. E são esses múltiplos olhares e significados que poderão ser partilhados nas conversas cotidianas na Praça da Alfândega e no Cais do Porto, ultrapassando as páginas dos livros e tornando-se tão essenciais para nossa fome de conhecer e de conviver quanto o pão e a manteiga.
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*Professor da Universidade Federal do Pampa, campus São Borja
Fonte: ZH on line, 31/10/2013
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