Pe. João Batista Libanio, SJ*
Construímos os imaginários sociais com os símbolos, gestos,
linguagem, expressões, quadros e infinitas outras realidades que nos cercam. E,
a partir dele, interpretamos os novos fatos, símbolos, gestos etc.
Estabelece-se verdadeiro círculo do qual dificilmente saímos, se não nos
detivermos em reflexão clara e consciente.
Quando falamos de “santo”, vêm-nos à mente as imagens, os
“santinhos” que nos povoaram a infância. Ao entrarmos em qualquer igreja, lá
estão as estátuas de homens e mulheres com trajes especiais, rostos
pacificados, semblantes edificantes. Circulam também histórias e estórias de
santos com fatos miraculosos. As novenas preparam os devotos para as festas.
A
leveza da graça age tanto mais quanto nos aliviamos da maldade. Que o exemplo
dos santos sirva para estimular-nos a caminhar com o mesmo entusiasmo que
eles
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No Brasil, alguns santos ganharam especial devoção e em
torno deles se tecem cada dia notícias de “graças alcançadas”. As canonizações
recentes e a promessa das próximas como as dos Papas João XXIII e João Paulo II
ocupam a imprensa.
Todo esse conjunto tece-nos o imaginário religioso do santo.
E com isso talvez percamos algum ponto muito profundo sobre o qual desde o
Concílio Vaticano II se vem insistindo. Na Constituição Lumen gentium sobre
a Igreja há um capítulo sobre a Vocação universal à santidade na Igreja. Lá
lemos que todos, “quer pertençam à hierarquia, quer sejam por ela apascentados,
são chamados à santidade” (LG n. 39). Como, em outro momento, o Concílio diz
que a Igreja é santa e pecadora. Concluímos, ao olhar tanto para nós como para
todo irmão/a, que nos habita a dupla realidade da graça e do pecado, da
santidade e do desamor.
A festa de todos os santos celebra o que há de santidade em
nós. Evidentemente, ela não existe em todos na mesma medida. No entanto, a
celebração dos santos estimula-nos ao mover os braços da balança em duplo
movimento. Ao mesmo tempo, esvaziar pela conversão, reconciliação,
arrependimento e mudança de vida o braço do pecado, de modo que o braço da
santidade se encha de frutos de bondade, de justiça e de amor.
A leveza da graça age tanto mais quanto nos aliviamos da
maldade. Que o exemplo dos santos canonizados não nos paralise, como se a
santidade fosse privilégio deles. Pelo contrário, sirva para estimular-nos a
caminhar com o mesmo entusiasmo que eles o fizeram.
O
termômetro da santidade capta o calor da atenção, cuidado e amor ao próximo.
Quanto mais graus apontar, tanto mais sadia está a alma
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O Dia de Todos os Santos torna-se, assim, a nossa festa para
agradecermos a Deus o trabalho da graça que ele desde o batismo nos desenvolve
no coração. Nele celebramos o nosso lado luz. E estimula-nos a lançar sobre a
parte escura da alma a claridade do amor de Deus e ao irmão.
Santidade identifica-se com amor. Amar implica saída de si
em direção ao outro, especialmente ao mais carente e necessitado. O termômetro
da santidade capta o calor da atenção, cuidado e amor ao próximo. Inverte a lei
da medicina. Quanto mais graus apontar, tanto mais sadia está a alma.
Paremos um momento nesse dia tão bonito de todos os santos. Ponhamo-nos o
termômetro do amor e leiamos o número. Alegremo-nos por cada grau que ele suba
e peçamos a todos os santos no céu e na terra que nos ajudem a manter a
temperatura mais alta possível.
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* Pe. João Batista Libanio, SJ
Professor
da Faculdade Jesuíta de
Teologia
e Filosofia (FAJE)
Fonte: http://www.arquidiocesebh.org.br/25/10/2013
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