Dois pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de
Botucatu criaram uma estratégia para combater uma infestação de baratas
em duas aldeias indígenas localizadas em uma reserva protegida no Mato
Grosso. Os professores Wilson Uieda, do Departamento de Zoologia do
Instituto de Biociências da Unesp, e Vidal Haddad, da Faculdade de
Medicina da Unesp, tiveram o estudo publicado em um jornal internacional
de dermatologia.
“Fui para as aldeias depois de um convite para estudar como os índios
se defendiam dos ataques de morcegos, mas, ao chegar à reserva, vi
pessoas sendo roídas por baratas. Foi quando decidi assumir mais coisas e
tentar controlar a infestação. As baratas germânicas se reproduzem
muito rápido. Cada ovo, por exemplo, pode conter até 32 filhotes e, em
um ambiente favorável, é possível ter, em um ano, pelo menos 100 mil
baratas no local”, explica Wilson.
Segundo o professor, as baratas são artrópodes muito comuns altamente
adaptadas a viver perto e dentro de habitações humanas e em ambientes
escuros. Elas comem fezes, sangue, couro, colas, papel e material
orgânico, como a queratina das unhas humanas e da pele. Segundo o
estudo, a espécie de maior importância médica é barata alemã e a barata
americana. No entanto, a germânica é considerada a principal praga no
mundo devido à sua alta taxa de reprodução.
Ferimentos na pele
Na pesquisa, os autores
observaram que as baratas são insetos presentes em todos os ambientes,
incluindo habitações humanas. Eles são responsáveis por efeitos
adversos, tais como fenômenos alérgicos, transmissão de infecções e
penetração no canal auditivo de seres humanos. Além disso, as baratas
podem provocar reações asmáticas e irritação nos brônquios.
“Lembra quando as avós falavam ‘Lave a boca que senão entra barata’?
Então, é verdade. Elas são atraídas por coisas doces e roem queratina,
que está presente na pele. A lesão causada pela roída da barata é um
machucado raso que, no máximo, pode apresentar um quadro de infecção
leve. A questão do trabalho não era nem mostrar as mordidas e sim,
apresentar observações do que a barata pode fazer na pele humana”,
ressalta Vidal.
Segundo o especialista, o tratamento deve ser feito com a lavagem do
ferimento com água e sabão. Em casos mais intensos, uma pomada com
antibiótico pode ser receitada. Além de morder, as baratas são capazes
de penetrar nos canais do nariz e das orelhas dos seres humanos. A ação
da mordida pode causar feridas dolorosas e comprometer a saúde da pele.
Estratégia caseira
No artigo publicado pelos professores, são descritas duas aldeias indígenas com grandes populações da espécie Blattella germanica
que mostra uma alta taxa de mordidas em indivíduos adormecidos. O
problema parece ser comum na região, embora seja raro nos ambientes
urbanos. De acordo com Wilson, o fato da área ser de proteção ambiental
também dificulta a introdução de medidas para controlar baratas. No
entanto, o Governo Federal tem discutido recentemente uma intervenção
especializada que busca controlar as baratas nestas e outras aldeias.
“Tínhamos que pensar em uma estratégia que não prejudicasse a rotina
dos índios. Para isso, criamos uma receita que envolve farinha de trigo,
açúcar, queijo ralado, cebola e ácido bórico. A massa é parecida com um
pão. Colocávamos as bolinhas nas ocas e nas palhas. Nunca no chão para
que as crianças não mexessem. Com as iscas, percebemos que as baratas
morriam dentro de dois a três dias”, frisa Wilson, que ainda espera o
retorno da estratégia de controle da infestação na aldeia.
Ainda segundo o estudo, a ocorrência destas manifestações é
facilitada pela indiferença dos nativos à presença de insetos e à falta
de consciência dos danos causada pela transmissão de infecções ou à
destruição de seus alimentos. Para Wilson, além da estratégia de
controle, é necessário também um debate na área de antropologia e até
costumes da população indígena.
“Quando cheguei na aldeia fiquei muito assustado porque nunca tinha
visto nada parecido. No entanto, ver que a estratégia que criamos era
segura e eficaz fez ver que o trabalho valeu a pena. Na minha opinião,
além do controle da epidemia, é necessário também um trabalho em
conjunto na área de antropologia e debates para mudar hábitos que os
índios cultivam, já que os insetos podem causar problemas de saúde e é
impossível evitar o contato deles com o homem”, completa.
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(Fonte: G1)
Fonte: http://www.nossofuturoroubado.com.br
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