Rubem Alves*
Poetiza à Vida e diz-lhe: Vem dos quatro Ventos e assopra sobre esses mortos para que vivam.
Tudo estava seco. O tempo tinha sido cruel. Sem chuvas. A terra rachada
parecia morta. E o desânimo havia espantado a alegria. Todos estavam
tristes porque onde há água tudo é alegria. O Paraíso, para verdejar,
precisa de fontes. Todos se reuniram na tenda do Mestre Benjamin. Ele
não esperou que lhe fizessem perguntas e começou:
“Por vezes, quando estou muito triste, eu sonho. Sonhei um sonho muito estranho que quero contar para vocês. Sonhei que um Vento me tomou e me levou a um vale de ossos secos e me fez andar ao redor deles. Eles cobriam a superfície do vale e estavam sequíssimos.
Então ouvi, vinda do meio do Vento, uma pergunta: Poderão, por acaso, reviver esses ossos?
Sem saber o que responder eu disse: Eu não sei. Só tu o sabes.
Disse-me então a voz: Poetiza a esses ossos e dize-lhes: Ossos secos, ouvi os poemas de Deus!
Então, poetizei segundo me fora ordenado. E disse: Embora a seca seque as fontes e os rios
E os campos fiquem esturricados,
E o gado morra de sede e fome,
E as queimadas devorem os pastos
E os machados transformem florestas verdes em desertos áridos,
E os palácios estejam cheios de corruptos —
A despeito disso minha alegria continuará a florir
E farei poemas diante do Impossível. (Habacuque 3:17-18. Paráfrase)
E, enquanto eu dizia o meu poema — e ele tinha de ser dito em voz muito forte para que todos os ossos o ouvissem — houve um ruído, um barulho de ossos que batiam contra ossos e se ajuntavam, cada osso ao seu osso. Olhei, e eis que havia tendões sobre eles, e cresceram as carnes, e se estendeu a pele sobre eles. Mas Vida não havia neles.
Então a Voz me disse: Poetiza à Vida e dize-lhe: Vem dos quatro Ventos e assopra sobre esses mortos para que vivam.
Eu então invoquei os Ventos e a Vida entrou neles, e viveram...” (Ezequiel 37 )
Ouvido o sonho do Mestre Benjamin ninguém quis falar nada. Eles sabiam que só se deve falar quando a fala melhora o silêncio.
“Por vezes, quando estou muito triste, eu sonho. Sonhei um sonho muito estranho que quero contar para vocês. Sonhei que um Vento me tomou e me levou a um vale de ossos secos e me fez andar ao redor deles. Eles cobriam a superfície do vale e estavam sequíssimos.
Então ouvi, vinda do meio do Vento, uma pergunta: Poderão, por acaso, reviver esses ossos?
Sem saber o que responder eu disse: Eu não sei. Só tu o sabes.
Disse-me então a voz: Poetiza a esses ossos e dize-lhes: Ossos secos, ouvi os poemas de Deus!
Então, poetizei segundo me fora ordenado. E disse: Embora a seca seque as fontes e os rios
E os campos fiquem esturricados,
E o gado morra de sede e fome,
E as queimadas devorem os pastos
E os machados transformem florestas verdes em desertos áridos,
E os palácios estejam cheios de corruptos —
A despeito disso minha alegria continuará a florir
E farei poemas diante do Impossível. (Habacuque 3:17-18. Paráfrase)
E, enquanto eu dizia o meu poema — e ele tinha de ser dito em voz muito forte para que todos os ossos o ouvissem — houve um ruído, um barulho de ossos que batiam contra ossos e se ajuntavam, cada osso ao seu osso. Olhei, e eis que havia tendões sobre eles, e cresceram as carnes, e se estendeu a pele sobre eles. Mas Vida não havia neles.
Então a Voz me disse: Poetiza à Vida e dize-lhe: Vem dos quatro Ventos e assopra sobre esses mortos para que vivam.
Eu então invoquei os Ventos e a Vida entrou neles, e viveram...” (Ezequiel 37 )
Ouvido o sonho do Mestre Benjamin ninguém quis falar nada. Eles sabiam que só se deve falar quando a fala melhora o silêncio.
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* Educador. Teólogo. Escritor.
Fonte: Correio Popular on line, 27/10/2013
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