CLARICE REICHSTUL*
Odeio Dia da Criança. Odeio mesmo.
Também odeio Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia dos Avós e Dia do Cachorro.
Odeio Dia da Secretária, Dia do Médico e Dia dos Animais.
Odeio Dia do Palhaço, Dia do Professor e Dia do Bancário. E também Dia
do Aluno, Dia do Bedel, Dia do Apresentador de TV e Dia do Padeiro.
Por que existe tanto dia especial? E o dia a dia? Não serve? Não é todo
dia o nosso dia? Eu gosto desse dia comum, que não tem presente, não tem
rosa, não tem eira nem beira e que, às vezes, tem prosa.
O Dia do Dia a Dia --desses em que a gente acorda e está tudo meio
nublado, em que dá preguiça de sair da cama e saudades do calor do
lençol.
Mas, mesmo assim, vamos lavar o rosto na água fria, porque o dia começa e a vida chama do lado de fora.
Com um bocejo, vestimos a camiseta. Com um suspiro, amarramos o tênis. E
tomamos café com leite, sem leite, com açúcar, bem pretinho, sem
açúcar, que é para acordar melhor.
Vamos andando à escola e ao trabalho resmungando. Mas olha só! Já são
dez horas, eu já conversei com o meu amigo, já brinquei com o colega, já
li uma história boa e... Caramba! Está na hora de almoçar.
Ficar esperando o Dia da Criança? Que nada! Que presente o quê!
O dia comum passa rápido como um corisco, uma faísca. É o dia de hoje que importa. Bom é estar vivo e poder aproveitar.
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* Colunista da Folha
Fonte: Folha on line, 12/10/2013
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