Larissa Acosta *
Acordei com meu corpo ainda
achando que era noite. O despertador silenciava e alguns fracos raios de
luz haviam encontrado o caminho para meu quarto pelas frestas da
cortina. Mais uma vez, a preocupação antecipou a hora de levantar.
Encarei o teto por alguns
minutos. Derramadas ali, minhas angústias manchavam aquela superfície
branca e lisa de gesso. Elas escorriam… e pingavam em mim.
Rolei para o lado. Bem que esses problemas podiam grudar nos lençóis e soltar de vez de meu corpo cansado.
Mas não. Eles levantaram comigo e acompanharam meu cambaleado sonolento até a cozinha.
O cheiro do café perfumava aquela manhã e a calma com que eu
preparava o desjejum me fazia acreditar que estava vivendo as primeiras
horas de um descompromissado sábado. Era bom fingir que acreditava
naquilo.
O dia se exibia por trás da janela. Flertei por alguns segundos com
aquele exuberante céu. Indeciso, ele ainda não havia resolvido que cor
preencheria sua imensidão. Meu coração apertou.
Senti vontade de lamentar.
A poucas horas dali, uma cadeira me esperava no escritório. Todo dia, a necessidade me algemava àquele lugar.
Senti meus problemas me cutucarem no ombro. Havia esquecido por valiosos instantes que eles estavam ali.
“Que inconveniência”, pensei, a testa franzida e o peito cheio de reclamações.
Fechei a cara e o dia. Enquanto me preparava para sair, coloquei o guarda-chuva na bolsa.
-----------------------------------------
Publicado, originariamente, no Blog Melocotón
Fonte: http://correiodobrasil.com.br/27/10/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário