Tuna Dwek*
Se
na sociedade moderna se pensasse em termos de ciclos, a questão do
tempo e a angústia gerada pela dificuldade de administrá-lo se diluiria.
Entretanto, é de tal modo avassaladora a exigência do cotidiano que a
falta de tempo pode, na realidade, traduzir a falta de vontade ou a
fraqueza dela.
Longe de promover o alívio, a divisão do tempo em horas traz, no mundo de hoje, um paradoxal acréscimo de ansiedade na realização das tarefas inevitáveis do dia a dia, quando o prazer se torna, não raro, refém das solicitações diárias. Assim, passamos a desejar que um Deus ex-machina intervenha e nos salve do que não temos força para realizar ou para recusar. Sonhamos com soluções divinas, por assim dizer, que nos salvem de situações constrangedoras e nos poupem de assumir a verdade quando não desejamos corresponder a alguma expectativa do outro.
A resistência ou a preguiça do querer faz com que se alegue a famosa “falta de tempo”, que pode ser naturalmente a simples verdade, mas pode também representar um tipo de desculpa que justifique uma recusa sem causar mágoas inúteis. Muitas vezes, no entanto, essa desculpa se aplica a nós mesmos. Quantas vezes deparamos com uma mesa atolada de papéis e objetos, gavetas que imploram por arrumação, pilhas de DVDs, uma hora a ser marcada em algum médico ou uma atividade que nos faria bem, mas nos convencemos de que não temos tempo? Não seria essa falta de tempo um descaso conosco?
Uma relação inacabada com o que desejamos? Não nos questionamos, apenas cedemos a uma solução de facilidade e acomodação que ninguém ousaria contestar, uma vez que significaria forçar, insistir ou pressionar, e atitudes poderiam nos arremessar no assustador território da exaustão. Desse modo, a falta de tempo deixou de ser apenas uma desculpa para ser um código que encerra inúmeros significados. Mas, se você se perguntar como anda sua relação com você mesmo, saberá que é você quem deixa de ser sua prioridade cada vez que recorre ao expediente de um argumento que, de tão difundido, conquistou certa legitimidade. Em suma, a falta de tempo é uma desculpa aceita. É como um gentlemen’s agreement, um pacto silencioso quase infantil com nossa consciência. Um segredo de polichinelo.
De tão plausível por traduzir o mundo contemporâneo, a falta de tempo como desculpa é como um castelo de cartas que pode ruir a um mero contato com a sinceridade interior. Por mais asfixiante que possa parecer, é possível criar um espaço lúdico e desprovido de tensão chamado tempo. Tempo para si, tempo para o outro, tempo para desejar tempo. Afinal, qual a maior motivação que se pode ter que não a do prazer? Consigo ou com o outro. E, assim, a desculpa se esvai e o tempo surge como fruto de uma relação mais amorosa consigo.
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* TUNA DWEK É ATRIZ, ESCRITORA, CIENTISTA SOCIAL, TRADUTORA, INTÉRPRETE EM CINCO IDIOMAS E FOI CONDECORADA COM O TÍTULO DE CHEVALIER DES ARTS ET DES LETTRES. PASSA MUITAS HORAS DO DIA GRAVANDO A NOVELA GLOBAL SANGUE BOM, NA QUAL INTERPRETA A REPÓRTER SUELI PEDROSA, ALÉM DE ASSUMIR UMA SÉRIE DE OUTROS COMPROMISSOS. MAS, MESMO COM A VIDA CORRIDA, SE ESFORÇA PARA NÃO SE TORNAR ESCRAVA DA DESCULPA DO “ESTOU SEM TEMPO”
Longe de promover o alívio, a divisão do tempo em horas traz, no mundo de hoje, um paradoxal acréscimo de ansiedade na realização das tarefas inevitáveis do dia a dia, quando o prazer se torna, não raro, refém das solicitações diárias. Assim, passamos a desejar que um Deus ex-machina intervenha e nos salve do que não temos força para realizar ou para recusar. Sonhamos com soluções divinas, por assim dizer, que nos salvem de situações constrangedoras e nos poupem de assumir a verdade quando não desejamos corresponder a alguma expectativa do outro.
A resistência ou a preguiça do querer faz com que se alegue a famosa “falta de tempo”, que pode ser naturalmente a simples verdade, mas pode também representar um tipo de desculpa que justifique uma recusa sem causar mágoas inúteis. Muitas vezes, no entanto, essa desculpa se aplica a nós mesmos. Quantas vezes deparamos com uma mesa atolada de papéis e objetos, gavetas que imploram por arrumação, pilhas de DVDs, uma hora a ser marcada em algum médico ou uma atividade que nos faria bem, mas nos convencemos de que não temos tempo? Não seria essa falta de tempo um descaso conosco?
Uma relação inacabada com o que desejamos? Não nos questionamos, apenas cedemos a uma solução de facilidade e acomodação que ninguém ousaria contestar, uma vez que significaria forçar, insistir ou pressionar, e atitudes poderiam nos arremessar no assustador território da exaustão. Desse modo, a falta de tempo deixou de ser apenas uma desculpa para ser um código que encerra inúmeros significados. Mas, se você se perguntar como anda sua relação com você mesmo, saberá que é você quem deixa de ser sua prioridade cada vez que recorre ao expediente de um argumento que, de tão difundido, conquistou certa legitimidade. Em suma, a falta de tempo é uma desculpa aceita. É como um gentlemen’s agreement, um pacto silencioso quase infantil com nossa consciência. Um segredo de polichinelo.
De tão plausível por traduzir o mundo contemporâneo, a falta de tempo como desculpa é como um castelo de cartas que pode ruir a um mero contato com a sinceridade interior. Por mais asfixiante que possa parecer, é possível criar um espaço lúdico e desprovido de tensão chamado tempo. Tempo para si, tempo para o outro, tempo para desejar tempo. Afinal, qual a maior motivação que se pode ter que não a do prazer? Consigo ou com o outro. E, assim, a desculpa se esvai e o tempo surge como fruto de uma relação mais amorosa consigo.
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* TUNA DWEK É ATRIZ, ESCRITORA, CIENTISTA SOCIAL, TRADUTORA, INTÉRPRETE EM CINCO IDIOMAS E FOI CONDECORADA COM O TÍTULO DE CHEVALIER DES ARTS ET DES LETTRES. PASSA MUITAS HORAS DO DIA GRAVANDO A NOVELA GLOBAL SANGUE BOM, NA QUAL INTERPRETA A REPÓRTER SUELI PEDROSA, ALÉM DE ASSUMIR UMA SÉRIE DE OUTROS COMPROMISSOS. MAS, MESMO COM A VIDA CORRIDA, SE ESFORÇA PARA NÃO SE TORNAR ESCRAVA DA DESCULPA DO “ESTOU SEM TEMPO”
Fonte: http://www.revistadacultura.com.br/revistadacultura/detalhe/13-10-02/
“Em 2010, passei a atuar como free lancer porque queria me reapropriar do meu tempo e descobrir o que fazer com ele. Acho que essa questão – o que fazer com o nosso tempo, a quem e o que dar a ele – é a grande pergunta da vida de todos. Foi nessa época que escrevi meu primeiro romance, Uma duas. Hoje, escrevo livros, faço documentários e reportagens, que escolho com muito cuidado, e uma coluna semanal de opinião. O que ainda quero fazer mais é viajar. O que quero ampliar, e já estou providenciando essa mudança, são as viagens que realmente me tiram do lugar – e para ser tirado do lugar é preciso se desabitar por um momento, experimentar um outro jeito de viver, decifrar como se vive em uma cultura diferente para ser outro.”
ELIANE BRUM, jornalista, escritora e documentarista
“Eu escreveria mais e ajudaria mais as pessoas. Por causa do trabalho, não tenho conseguido fazer um trabalho voluntário que me envolve desde 1989 em uma comunidade para ajudar diversas crianças e famílias. Todo o meu tempo livre tenho usado para ficar com o meu filho de 2 anos. Por mim, eu faria uma dieta, porque acho que estou precisando. E também fisioterapia, porque recentemente quebrei o braço e tive que colocar 15 pinos, ou seja, a fisioterapia é uma necessidade.”
DANIELA ARBEX, jornalista e escritora
“Caso eu tivesse mais tempo, trabalharia ainda mais. Adoro o que faço e, às vezes, sinto que o meu foco se dispersa entre as muitas demandas do meu dia a dia. Minhas três filhas ocupam meu tempo e merecem todo o tempo do mundo!”
DIDI WAGNER, apresentadora de TV e autora do livro Minha Nova York
“Gostaria de ler mais poesia, romances e outras obras de ficção. Estão à minha espera, entre outros, Paulo Leminski, Milton Hatoum, Edney Silvestre e Cristovão Tezza. Gosto mais de ler do que de escrever. A literatura de ficção permite um mergulho mais profundo na alma humana do que o dos livros de não ficção. É na poesia e nos romances que encontro a verdadeira inspiração para escrever. Para o meu último livro, 1889 – Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da monarquia e a proclamação da república no Brasil, fiz um trabalho exaustivo de pesquisa, de quase três anos, que deixou pouco tempo para os livros de ficção ou de poesia. Felizmente, agora, sempre sobra uma janela de tempo para que eu me dedique à paixão de ler os outros livros, antes de me dedicar a outra pesquisa.”
LAURENTINO GOMES, escritor
“Gostaria de fazer tudo com menos velocidade para poder desfrutar mais de cada coisa que faço, mas, na verdade, acho que não conseguiria, porque sou muito ansioso. O único fator que me impede de fazer isso, além da ansiedade, é a própria falta de tempo.”
ADÃO ITURRUSGARAI, cartunista
“Se tivesse mais tempo, não faria nada. Acredito que o ócio criativo é muito produtivo. O trabalho é o que mais toma o meu tempo, mas, como gosto muito do que faço, fica difícil abrir mão disso para novas atividades.”
LILIAN PACCE, editora de moda e apresentadora de TV
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Nosso e de mais ninguém
por:
Renata Vomero /
04/10/2013
AS 24 HORAS DO DIA PARECEM SE TRANSFORMAR EM SEGUNDOS
QUANDO TEMOS QUE LIDAR COM AS DEMANDAS DE NOSSO COTIDIANO. UMA SENSAÇÃO
QUE NOS LEVA A UMA IMPORTANTE QUESTÃO: O QUE VOCÊ FARIA SE TIVESSE MAIS
TEMPO? DESCANSARIA MAIS? USARIA AS HORAS GANHAS PARA CUIDAR DE SEU CORPO
E DE SUA MENTE? FICARIA MAIS TEMPO COM A FAMÍLIA? AJUDARIA OS OUTROS?
ENQUANTO VOCÊ PENSA, LEIA A SEGUIR O QUE NOS RESPONDERAM ALGUMAS DAS
PERSONALIDADES A QUEM FIZEMOS ESSA PERGUNTA;
CLARO, OUTRAS DELAS NÃO
CONSEGUIRAM RESPONDER POR...
FALTA DE TEMPO!
“Em 2010, passei a atuar como free lancer porque queria me reapropriar do meu tempo e descobrir o que fazer com ele. Acho que essa questão – o que fazer com o nosso tempo, a quem e o que dar a ele – é a grande pergunta da vida de todos. Foi nessa época que escrevi meu primeiro romance, Uma duas. Hoje, escrevo livros, faço documentários e reportagens, que escolho com muito cuidado, e uma coluna semanal de opinião. O que ainda quero fazer mais é viajar. O que quero ampliar, e já estou providenciando essa mudança, são as viagens que realmente me tiram do lugar – e para ser tirado do lugar é preciso se desabitar por um momento, experimentar um outro jeito de viver, decifrar como se vive em uma cultura diferente para ser outro.”
ELIANE BRUM, jornalista, escritora e documentarista
“Eu escreveria mais e ajudaria mais as pessoas. Por causa do trabalho, não tenho conseguido fazer um trabalho voluntário que me envolve desde 1989 em uma comunidade para ajudar diversas crianças e famílias. Todo o meu tempo livre tenho usado para ficar com o meu filho de 2 anos. Por mim, eu faria uma dieta, porque acho que estou precisando. E também fisioterapia, porque recentemente quebrei o braço e tive que colocar 15 pinos, ou seja, a fisioterapia é uma necessidade.”
DANIELA ARBEX, jornalista e escritora
“Caso eu tivesse mais tempo, trabalharia ainda mais. Adoro o que faço e, às vezes, sinto que o meu foco se dispersa entre as muitas demandas do meu dia a dia. Minhas três filhas ocupam meu tempo e merecem todo o tempo do mundo!”
DIDI WAGNER, apresentadora de TV e autora do livro Minha Nova York
“Gostaria de ler mais poesia, romances e outras obras de ficção. Estão à minha espera, entre outros, Paulo Leminski, Milton Hatoum, Edney Silvestre e Cristovão Tezza. Gosto mais de ler do que de escrever. A literatura de ficção permite um mergulho mais profundo na alma humana do que o dos livros de não ficção. É na poesia e nos romances que encontro a verdadeira inspiração para escrever. Para o meu último livro, 1889 – Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da monarquia e a proclamação da república no Brasil, fiz um trabalho exaustivo de pesquisa, de quase três anos, que deixou pouco tempo para os livros de ficção ou de poesia. Felizmente, agora, sempre sobra uma janela de tempo para que eu me dedique à paixão de ler os outros livros, antes de me dedicar a outra pesquisa.”
LAURENTINO GOMES, escritor
“Gostaria de fazer tudo com menos velocidade para poder desfrutar mais de cada coisa que faço, mas, na verdade, acho que não conseguiria, porque sou muito ansioso. O único fator que me impede de fazer isso, além da ansiedade, é a própria falta de tempo.”
ADÃO ITURRUSGARAI, cartunista
“Se tivesse mais tempo, não faria nada. Acredito que o ócio criativo é muito produtivo. O trabalho é o que mais toma o meu tempo, mas, como gosto muito do que faço, fica difícil abrir mão disso para novas atividades.”
LILIAN PACCE, editora de moda e apresentadora de TV
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Fonte: http://www.revistadacultura.com.br/revistadacultura/detalhe/13-10-04/Nosso_e_de_mais_ningu%C3%A9m.aspx
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