Betania Tanure*
Em uma
equipe consolidada, cada membro tem responsabilidade por seus atos e
pela execução
do que foi acertado.
Diz-se que alguns insetos, como
as formigas, dão exemplo de organização, unidade e foco em metas
coletivas, enquanto o homem teima em ignorar o real sentido disso tudo.
Considerando o que presencio há anos no ambiente empresarial,
infelizmente tenho que concordar com essa afirmação.Todos sabem da importância do trabalho em equipe para que uma empresa alcance resultados excepcionais. Mas os executivos brasileiros continuam sendo formados e treinados para transitar no que chamo de dimensão racional, ou 'hard', da gestão. Com isso, o foco da maioria é produção, finanças ou qualquer outro ativo tangível da organização. O trabalho em equipe, que como componente da dimensão 'soft' é difícil de mensurar e mais ainda de alcançar, fica "pra depois".
Não se deveria ignorar a importância de combinar as duas dimensões para que o trabalho em equipe se concretize. Nesse caminho existe o desafio de solucionar o que Patrick Lencioni denomina "disfunções". Há algum tempo mergulho na análise dessa questão, com base em inúmeras pesquisas e ações de consultoria que tenho realizado em empresas de diversas partes do mundo, especialmente no Brasil.
Para que um grupo de pessoas consiga trabalhar em conjunto para alcançar um objetivo comum, é preciso, realmente, desmontar armadilhas e retirar algumas "pedras" do caminho. A primeira é a falta de confiança. Em nossas pesquisas, observamos que não basta ser "do bem". Também é necessário entregar resultados consistentemente, além de conhecer, e reconhecer, as próprias forças e fraquezas. A coragem de dizer "não sei", "não fiz", "me equivoquei" e "preciso de ajuda" tem um efeito fortalecedor sobre o outro: faz pensar e agir. E essa força se solidifica quando se muda o curso das coisas.
Outra armadilha é o medo do conflito. Se por um lado o brasileiro tem, por cultura, uma enorme capacidade de estabelecer laços e trazer o coração das pessoas para os projetos, por outro há a constante necessidade de preservação pessoal. Ela nos faz fugir dos conflitos quando eles são vistos como "ganha" ou "perde". É possível, contudo, haver uma situação conflitante de ganho mútuo!
Sem confiança, abre-se espaço para a concordância cega e a bajulação. Com confiança, o conflito se torna edificante, o benefício individual perde para o bem coletivo e diminuem as chances de cair em duas outras armadilhas: a falta de compromisso e a fuga da responsabilidade.
Lembre-se de que, ainda que sua opinião tenha sido vencida no debate, seu compromisso é com a ideia vencedora. Trabalhe por ela. Em uma equipe consolidada, cada membro tem responsabilidade por seus atos e pela execução do que foi acertado. Diante de um erro, no entanto, o foco da discussão deve ser a solução do problema, e não a busca do "grande culpado". Caso contrário, as desculpas apenas racionalmente verdadeiras inundam a organização, que pouco a pouco perde o vigor, iniciando-se um mal de difícil cura: o subdesempenho satisfatório.
É comum que junto a essas duas "pedras" se encontre outra, a falta de foco nos resultados. Nas tarefas diárias, as metas de nível pessoal, de carreira ou financeiras, devem se somar às da equipe, que em última instância permitem obter os resultados empresariais, em todas as suas dimensões.
Enfim, não podemos subestimar o valor de competências 'hard' como o conhecimento funcional, as habilidades estratégicas e a leitura adequada dos movimentos macro. Mas, até para maximizá-las, o trabalho em equipe é fundamental.
Observe o efeito em cadeia: a confiança leva a conflitos saudáveis. Estes, ao compromisso, que por sua vez traz responsabilidade. Com ela, vem o foco nos resultados empresariais, sustentados por competências 'hard'. Confiança, portanto, é a base de tudo.
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* Betania Tanure é doutora e professora da PUC Minas e consultora da BTA
Fonte: Valor Econômico on line, 24/10/2013
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