Anna Virginia Balloussier*
Caro leitor,
Talvez você seja católico, evangélico, espírita, muçulmano, judeu,
budista, hinduísta, corintiano ou adorador de bacon torradinho na
manteiga.
Talvez não acredite em nada disso, talvez acredite em tudo ao mesmo tempo.
Três vezes por semana, este blog contará um pouco dos tantos
“talvezes” que permeiam o fascinante mundo das certezas religiosas. Um
pouco de tudo: dos bilhões que o setor movimenta no mercado de negócios
às pequenas histórias que somam, subtraem, multiplicam e dividem nosso
incalculável estoque de fé.
Talvez você esteja se perguntando: e quem ela pensa que é para falar da minha religião?
Então vamos lá: nesse sentido, ninguém. Não estou aqui para dizer o
que é certo ou errado. Nem para ser condescendente. Tampouco jogar
primeiras pedras, tomates ou bytes.
A ideia não é julgar. É escrever sobre um Brasil que está mudando.
Por exemplo: o censo do IBGE aponta que, entre 2000 e 2010, a proporção
de católicos no Brasil foi de 74% para 64,5%. Já os evangélicos
galoparam de 15% para 22% (42 milhões de brasileiros). Por isso,
pretendo gastar mais do que um punhado de linhas para falar sobre um
segmento tão emergente e, ao mesmo tempo, tão pouco compreendido por
quem é de fora.
Agora, sim: sou Anna Virginia, prazer. Na verdade não gosto de bacon
(estou mais para aquelas que curtem uma soja grelhadinha no azeite
orgânico). Torço para o Botafogo (a depender dos últimos placares, um
bom exemplo de via-crúcis). Fui alfabetizada num colégio com nome de
santo católico no bairro de Santa Teresa, no Rio, que ficava perto de
uma igrejinha (a qual nunca frequentei). Depois migrei para uma escola
metodista, do movimento protestante fundado por John Wesley no século 18
(um inglês que guarda semelhança extraordinária com o senhor das caixas
de Aveia Quaker).
Boa parte da minha família é espírita (“não praticante”), batizada na
Igreja Católica (“melhor garantir”), cheia de estátuas de Buda na sala
de estar (“para trazer paz”) e com gosto em virar madrugadas assistindo
aos pastores na TV (“o do chapéu de vaqueiro é demais!”).
Em “Pulphead”, o ensaísta norte-americano John Jeremiah Sullivan (que
também é demais) escreve sobre a experiência de passar três dias num
festival de rock cristão. Narra sua aventura com “os crentes” –como o
ex-atleta peso pesado de luta livre (do tipo que estoura um abacaxi no
sovaco gargalhando) que se encanta com “Redemption Song”, de Bob Marley.
Sullivan conta quão fácil seria descolar uma ou outra declaração
sobre “fazer música com espírito amoroso para glorificar o Senhor” e
então “rabiscar cada vírgula sorrindo por dentro”. E como o que ele faz é
precisamente optar pelo trajeto mais difícil: ir lá, acampar com os
“caras da Virgínia Ocidental” e conhecer um pouco da realidade deles.
A proposta deste blog é esta: ir lá, sem réguas ideológicas, e conhecer um pouco da realidade deles.
Pedras, tomates ou bytes no e-mail anna.virginia@grupofolha.com.br. Bem-vindos!
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