FABRÍCIO CARPINEJAR*
Poeta não é aquele que escreve livros, mas o que lê as pessoas. Tinha
13 anos. Estava na varanda com a minha mãe. Naquela época, estudava de
tarde.
Tomávamos chimarrão tranquilamente. Em casa, o chimarrão sempre prevaleceu sobre o café. O café é para acordar, o chimarrão é para sonhar.
Conversa sobe ladeira, conversa desce ladeira e, de repente, um grupo de operários da prefeitura desceu do caminhão na frente de nossa residência na Rua Lajeado.
Eles iriam consertar um vazamento no bairro.
Mas foi só atracar em terra firme que eles se distraíram por um instante do serviço prometido.
Enxergaram nossa pitangueira carregada.
Largaram as ferramentas destinadas a arrumar os encanamentos, e subiram nos galhos.
Um bando de marmanjos pescando frutas, baixando as folhas, disputando quem pegava a melhor, a maior, a mais carnuda.
Riam alto, gesticulavam freneticamente, num alvoroço puro e crédulo, próprio da amizade infantil. Um puxava o outro para trapacear e se exibir com seu punhado de joias rubras.
Eram crianças de novo, disfarçadas de macacão cor laranja.
Um pé de pitanga tem esse privilégio: recuar o tempo.
Eu festejava aquela doideira, aquele desatino, aquele recreio fora de idade, mas minha mãe embrabeceu com a bagunça. Saiu ralhando:
– Ei, ei, o que estão fazendo?
Baixei o rosto de vergonha. A felicidade deles não deveria incomodá-la. Antecipei o vexame, o fiasco, a reprimenda adulta.
Não poderiam se divertir trabalhando? Não poderiam ter um minuto de paraíso no inferno das picaretas?
O bando silenciou no ato, temendo a represália daquela senhora tão senhora de si.
A mãe endureceu a voz e explicou:
– As pitangueiras da rua são para os pássaros.
Eles recolheram as mãos, colocaram as pitangas no bolso e já se dispersavam.
Foi quando a mãe completou:
– Mas, se vocês se sentem pássaros, aproveitem!
Não esquecerei nunca daqueles homenzarrões gargalhando e voltando a depenar a pitangueira.
Com a alegria das asas que só existe no nosso sorriso.
Um pé de pitanga tem esse privilégio: recuar o tempo.
Tomávamos chimarrão tranquilamente. Em casa, o chimarrão sempre prevaleceu sobre o café. O café é para acordar, o chimarrão é para sonhar.
Conversa sobe ladeira, conversa desce ladeira e, de repente, um grupo de operários da prefeitura desceu do caminhão na frente de nossa residência na Rua Lajeado.
Eles iriam consertar um vazamento no bairro.
Mas foi só atracar em terra firme que eles se distraíram por um instante do serviço prometido.
Enxergaram nossa pitangueira carregada.
Largaram as ferramentas destinadas a arrumar os encanamentos, e subiram nos galhos.
Um bando de marmanjos pescando frutas, baixando as folhas, disputando quem pegava a melhor, a maior, a mais carnuda.
Riam alto, gesticulavam freneticamente, num alvoroço puro e crédulo, próprio da amizade infantil. Um puxava o outro para trapacear e se exibir com seu punhado de joias rubras.
Eram crianças de novo, disfarçadas de macacão cor laranja.
Um pé de pitanga tem esse privilégio: recuar o tempo.
Eu festejava aquela doideira, aquele desatino, aquele recreio fora de idade, mas minha mãe embrabeceu com a bagunça. Saiu ralhando:
– Ei, ei, o que estão fazendo?
Baixei o rosto de vergonha. A felicidade deles não deveria incomodá-la. Antecipei o vexame, o fiasco, a reprimenda adulta.
Não poderiam se divertir trabalhando? Não poderiam ter um minuto de paraíso no inferno das picaretas?
O bando silenciou no ato, temendo a represália daquela senhora tão senhora de si.
A mãe endureceu a voz e explicou:
– As pitangueiras da rua são para os pássaros.
Eles recolheram as mãos, colocaram as pitangas no bolso e já se dispersavam.
Foi quando a mãe completou:
– Mas, se vocês se sentem pássaros, aproveitem!
Não esquecerei nunca daqueles homenzarrões gargalhando e voltando a depenar a pitangueira.
Com a alegria das asas que só existe no nosso sorriso.
Um pé de pitanga tem esse privilégio: recuar o tempo.
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* Poeta. Escritor.
Fonte: ZH on line, 22/10/2013
imagem da Internet
muito show,cara
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