Marcelo Gleiser*
Para as crianças, a vida é um grande experimento; até entrarem na escola ou serem 'pegas' pelos pais
Nesta semana, estive em Brasília participando da Semana Nacional de
Ciência e Tecnologia. O tema deste ano, de forma muito propícia, é
"Ciência, Saúde e Esportes". Aproveitando que o Brasil será palco dos
maiores eventos desportivos do planeta, nada melhor que mostrar as
alianças e a interdependência entre os esportes, a saúde e a ciência.
O centro das atividades é o Pavilhão Central no Parque da Cidade, onde
foram montadas várias exibições, algumas bem avançadas, usando
tecnologia virtual para integrar o visitante em algum jogo, por exemplo,
futebol e vôlei.
Mas o que me empolgou logo na chegada foi ter visto centenas, talvez
milhares de crianças, trazidas por escolas. Me disseram que eram mais de
10 mil por dia e que atividades ligadas ao evento estão ocorrendo em
800 municípios do país.
As crianças menores, do jardim de infância, iam circulando pelo espaço
das exposições, de mãos dadas e olhos arregalados, olhando para tudo,
tentando tocar tudo. Algumas jamais esquecerão a visita a um mundo tão
diferente da realidade em que vivem, onde a ciência é simplesmente
desconhecida.
Fiquei feliz e triste ao mesmo tempo; feliz de ver que quando o governo
monta algo de porte para trazer ciência ao público, o público vem.
Triste por entender que esse tipo de evento é raro, e que a maioria das
crianças nunca terá oportunidade de visitá-lo.
O grande físico Isidor Rabi, vencedor do prêmio Nobel, costumava dizer
que os cientistas são os Peter Pans da sociedade, aqueles que não querem
crescer, que passam a vida perguntando "por quê". Vendo as crianças na
exposição, olhando para tudo, tocando tudo, participando das atividades
com entusiasmo, fica claro que Rabi tinha razão.
Qualquer pai e mãe sabem bem que criança é exploradora nata; botando o
dedo aqui e ali, comendo terra, pegando formiga, trepando em árvore,
subindo e descendo a mesma escada dez vezes até desenvolver uma melhor
percepção da gravidade e melhorar sua habilidade motora. Para uma
criança, a vida é um grande experimento, uma grande aventura de
descoberta.
"Não faz isso! Solta! Olha o degrau! Cuidando com a tomada! Você vai
cair daí." Como pai de cinco, sei que sem o nosso cuidado as crianças
correm mesmo risco de se machucar. Mas cuidar não é o mesmo que reprimir
o espírito único que têm de experimentar o mundo para poder entendê-lo.
O mesmo acontece nas escolas, que acabam sendo fábricas de conformismo
onde todos devem fazer a mesma coisa, onde a criança mais curiosa é
reprimida e, salvo casos raros, calada.
Temos muito a aprender com as crianças. E, se queremos de fato
transformar o Brasil numa potência inovadora, onde tecnologia e patentes
não são compradas do exterior mas criadas aqui, temos que dar asas a
esse espírito criativo das crianças, que são grandes inventoras e
sonhadoras.
Isso não deve apenas ocorrer nas escolas; a educação começa em casa, com
os pais se engajando no processo criativo das crianças. E o melhor de
tudo é que ao ensinarmos também aprendemos. E colorimos a vida de
novidade e aventura, ficando um pouco mais Peter Pans.
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