Professor da Universidade de York, no Canadá, Leo Panitch tem feito,
ao longo dos anos, formulações que desafiam o senso comum da esquerda,
ao questionar, por exemplo, o uso da conceituação sobre imperialismo de
mais de um século atrás para descrever a relação dos EUA com o mundo
hoje e ao longo do século XX. Em conferência na Universidade Federal do
ABC, ele também questionou o uso da categoria "burguesia nacional".
“Pelo grau de integração entre as multinacionais dos estados ricos, as
burguesias agora são internacionais”
Leo Panitch é um dos nomes mais respeitados na esquerda
sobre assuntos como relações internacionais, política internacional e
imperialismo. Pensador de renome, o professor da Universidade de York,
no Canadá, tem feito, ao longo dos anos, formulações que desafiam
profundamente o senso comum da esquerda, ao questionar, por exemplo, o
uso da conceituação sobre imperialismo de mais de um século atrás para
descrever a relação dos EUA com o mundo hoje e ao longo do século XX.
Panitch se declara marxista, e seu trabalho é considerado absolutamente inovador dentro dessa corrente de pensamento. Seu questionamento sobre o papel dos EUA e, principalmente, como a esquerda vê esse papel, elabora que não se pode usar o conceito da Era Vitoriana de imperialismo, que leva em conta, por exemplo, com grande peso, a exportação de capitais para estabelecer uma relação imperialista, e isso já não se aplica no mundo hoje.
Outro questionamento dele, que provoca grandes controvérsias na esquerda, é sobre o papel dos sindicatos, que segundo ele, não são capazes de, por si só, fazerem os trabalhadores desenvolverem uma consciência de classe – e isso é o oposto do que Marx disse. O professor considera que, nesse ponto, Marx estava errado.
O professor Leo Panitch está no Brasil atualmente, e proferiu uma série de palestras até agora, uma das quais na Universidade Federal do ABC, em São Bernardo do Campo, na sexta-feira (4), onde expôs suas formulações. Leo Panitch começou saudando o belo auditório da UFABC, uma universidade, segundo ele, para a classe trabalhadora. Ele afirmou que a universidade onde ele dá aula, de York, também tem uma esmagadora maioria de alunos da classe trabalhadora, filhos de pais que nunca foram à universidade, mas que nem de perto tem instalações tão boas quanto às que ele estava vendo ali, o que ele considerou muito bom: “nada é bom demais para a classe trabalhadora”.
Panitch então apresentou uma elaboração que tem todo o potencial de ser muito intrigante para os estudiosos do campo da esquerda, a de que as instituições financeiras dos EUA, como o Federal Reserve e o tesouro dos EUA são muito mais importantes para a manutenção do capitalismo global – ainda que as instalações militares, ações de agressão e espionagem sejam muito mais aviltantes e provoquem grande indignação.
Ele explica que isso começou depois da II Guerra, afirmando que “os estados europeus passaram por um processo da ‘Canadalização’”, disse, usando seu próprio país como exemplo – que, segundo ele, é a maior colônia dos EUA, e não o México.
Para ele, hoje, as relações ficaram tão misturadas, intrincadas, que não há qualquer tipo de possibilidade de um país, dentro do sistema capitalista, questionar as bases materiais do imperialismo do outro. As economias são absolutamente interdependentes, e as relações entre os ministros da fazenda e os bancos centrais do mundo é que determinam isso.
Nesse sentido, o professor condena a visão, assumida por boa parte da esquerda, de que os governos têm suas ações ditadas pelos grandes capitalistas. Para ele, na realidade, o Estado também se tornou absolutamente da acumulação capitalista. “Os empresários não dizem para o PT o que fazer. Como podemos dizer que o PT segue o que a burguesia manda? Não é isso que acontece, não há uma ‘mente’ que diz o que o governo deve fazer. O Estado é dependente da acumulação capitalista.”
Para Leo Panitch, é ruim para a esquerda essa ideia de que os EUA tentam impor seu capitalismo, seu modo de viver, ao mundo. Segundo ele, o fato é que os países desenvolvidos quiseram isso. Seus dirigentes, a classe dominante do Japão e da Europa, “tinham seus bens, suas vidas, e queriam que os EUA os ajudassem a manter o capitalismo, não foi algo imposto”, disse se referindo ao pós-guerra de 1945. Da mesma forma, a propaganda norteamericana levou a que “os trabalhadores europeus quisessem os confortos dos americanos”.
Dessa forma, ele refuta também a ideia de uma burguesia nacional. Pelas intrincadas relações hoje, “pelo grau de integração entre as multinacionais dos estados ricos, as burguesias agora são internacionais”. Para um ganhar dinheiro em um país, o outro, de outro país, também ganha. As relações não se prendem mais aos países.
Isso tem outro reflexo, o de que não há mais uma rivalidade entre estados, que poderiam se postular impérios, como já houve antes. O dólar, segundo ele, virou a moeda internacional. O Federal Reserve hoje sofre pressões de todo o mundo, como o exemplo dado por Panitch da pressão alemã sobre o governo americano para diminuir a força dos sindicatos, pois o que acontece com a economia dos EUA e com as suas finanças afeta o mundo todo. “O Fed gerencia as finanças do mundo todo”, diz ele.
Ele também questiona o poder do Fed e do FMI de imporem suas políticas ao Brasil. “Claro que era isso que eles defendiam, mas essas propostas já tinham muita força aqui dentro, internamente”, afirmou ele. Para o professor, o fato de não haver mais rivais postulantes a potência hegemônica é demonstrado pela ausência de matéria para questionar as bases fundantes do sistema norteamericano. “Os estados não buscam diminuir a liderança dos EUA, tentam imitar”, afirmou.
Panitch também questionou a estratégia do PT de fugir um pouco da influência da liderança dos EUA ao buscar outros polos de poder, afirmando que “a questão não é como se dar melhor no capitalismo, a questão é como sair do capitalismo”.
O professor também afirmou que não acredita na força da “mão invisível” do mercado, e que se engana quem acha que o neoliberalismo queria “menos estado”. Para ele, o papel do neoliberalismo era de “espalhar o capitalismo”, mas isso precisa de estado, de leis. “Alguém precisa definir como são feitos os contratos”. Para ele, “o capitalismo só opera por meio de e junto dos estados. Os estados são dependentes dos arranjos para manter o capitalismo funcionando.”
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Panitch se declara marxista, e seu trabalho é considerado absolutamente inovador dentro dessa corrente de pensamento. Seu questionamento sobre o papel dos EUA e, principalmente, como a esquerda vê esse papel, elabora que não se pode usar o conceito da Era Vitoriana de imperialismo, que leva em conta, por exemplo, com grande peso, a exportação de capitais para estabelecer uma relação imperialista, e isso já não se aplica no mundo hoje.
Outro questionamento dele, que provoca grandes controvérsias na esquerda, é sobre o papel dos sindicatos, que segundo ele, não são capazes de, por si só, fazerem os trabalhadores desenvolverem uma consciência de classe – e isso é o oposto do que Marx disse. O professor considera que, nesse ponto, Marx estava errado.
O professor Leo Panitch está no Brasil atualmente, e proferiu uma série de palestras até agora, uma das quais na Universidade Federal do ABC, em São Bernardo do Campo, na sexta-feira (4), onde expôs suas formulações. Leo Panitch começou saudando o belo auditório da UFABC, uma universidade, segundo ele, para a classe trabalhadora. Ele afirmou que a universidade onde ele dá aula, de York, também tem uma esmagadora maioria de alunos da classe trabalhadora, filhos de pais que nunca foram à universidade, mas que nem de perto tem instalações tão boas quanto às que ele estava vendo ali, o que ele considerou muito bom: “nada é bom demais para a classe trabalhadora”.
Panitch então apresentou uma elaboração que tem todo o potencial de ser muito intrigante para os estudiosos do campo da esquerda, a de que as instituições financeiras dos EUA, como o Federal Reserve e o tesouro dos EUA são muito mais importantes para a manutenção do capitalismo global – ainda que as instalações militares, ações de agressão e espionagem sejam muito mais aviltantes e provoquem grande indignação.
Ele explica que isso começou depois da II Guerra, afirmando que “os estados europeus passaram por um processo da ‘Canadalização’”, disse, usando seu próprio país como exemplo – que, segundo ele, é a maior colônia dos EUA, e não o México.
Para ele, hoje, as relações ficaram tão misturadas, intrincadas, que não há qualquer tipo de possibilidade de um país, dentro do sistema capitalista, questionar as bases materiais do imperialismo do outro. As economias são absolutamente interdependentes, e as relações entre os ministros da fazenda e os bancos centrais do mundo é que determinam isso.
Nesse sentido, o professor condena a visão, assumida por boa parte da esquerda, de que os governos têm suas ações ditadas pelos grandes capitalistas. Para ele, na realidade, o Estado também se tornou absolutamente da acumulação capitalista. “Os empresários não dizem para o PT o que fazer. Como podemos dizer que o PT segue o que a burguesia manda? Não é isso que acontece, não há uma ‘mente’ que diz o que o governo deve fazer. O Estado é dependente da acumulação capitalista.”
Para Leo Panitch, é ruim para a esquerda essa ideia de que os EUA tentam impor seu capitalismo, seu modo de viver, ao mundo. Segundo ele, o fato é que os países desenvolvidos quiseram isso. Seus dirigentes, a classe dominante do Japão e da Europa, “tinham seus bens, suas vidas, e queriam que os EUA os ajudassem a manter o capitalismo, não foi algo imposto”, disse se referindo ao pós-guerra de 1945. Da mesma forma, a propaganda norteamericana levou a que “os trabalhadores europeus quisessem os confortos dos americanos”.
Dessa forma, ele refuta também a ideia de uma burguesia nacional. Pelas intrincadas relações hoje, “pelo grau de integração entre as multinacionais dos estados ricos, as burguesias agora são internacionais”. Para um ganhar dinheiro em um país, o outro, de outro país, também ganha. As relações não se prendem mais aos países.
Isso tem outro reflexo, o de que não há mais uma rivalidade entre estados, que poderiam se postular impérios, como já houve antes. O dólar, segundo ele, virou a moeda internacional. O Federal Reserve hoje sofre pressões de todo o mundo, como o exemplo dado por Panitch da pressão alemã sobre o governo americano para diminuir a força dos sindicatos, pois o que acontece com a economia dos EUA e com as suas finanças afeta o mundo todo. “O Fed gerencia as finanças do mundo todo”, diz ele.
Ele também questiona o poder do Fed e do FMI de imporem suas políticas ao Brasil. “Claro que era isso que eles defendiam, mas essas propostas já tinham muita força aqui dentro, internamente”, afirmou ele. Para o professor, o fato de não haver mais rivais postulantes a potência hegemônica é demonstrado pela ausência de matéria para questionar as bases fundantes do sistema norteamericano. “Os estados não buscam diminuir a liderança dos EUA, tentam imitar”, afirmou.
Panitch também questionou a estratégia do PT de fugir um pouco da influência da liderança dos EUA ao buscar outros polos de poder, afirmando que “a questão não é como se dar melhor no capitalismo, a questão é como sair do capitalismo”.
O professor também afirmou que não acredita na força da “mão invisível” do mercado, e que se engana quem acha que o neoliberalismo queria “menos estado”. Para ele, o papel do neoliberalismo era de “espalhar o capitalismo”, mas isso precisa de estado, de leis. “Alguém precisa definir como são feitos os contratos”. Para ele, “o capitalismo só opera por meio de e junto dos estados. Os estados são dependentes dos arranjos para manter o capitalismo funcionando.”
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Fonte: http://www.cartamaior.com.br/06/10/2013Fotos: Rodrigo Mendes
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