Hélio Schwartsman*
"Não Houve Jesus, Deus Não Existe". Apesar do título
provocador, o livro de Raphael Lataster, recém-lançado em inglês, é só
circunstancialmente uma defesa do ateísmo. O objetivo principal da obra é
criticar os métodos dos estudiosos do Novo Testamento.
Lataster sustenta de modo persuasivo que, no melhor cenário, não se pode
afirmar nada sobre Jesus, nem o bíblico, que opera milagres, nem o
histórico, que teria sido uma espécie de radical judeu da Palestina do
século 1º --interpretação para a qual converge a maior parte da
academia.
O problema básico é que a passagem de Jesus pela Terra não é corroborada
por nenhuma fonte contemporânea aos fatos. Os Evangelhos são todos
obras anônimas, com objetivos apologéticos e o mais antigo deles, o de
Marcos, só foi escrito quatro décadas após a suposta crucificação.
As fontes não cristãs também são todas posteriores --e há boas razões
para suspeitar que incluam falsificações. Ademais, autores que teriam
tido motivos para citar Jesus, como Filo de Alexandria, não o mencionam.
Lataster sugere ainda que os escritos paulinos, anteriores aos
Evangelhos, não só evitam referências a um Jesus terreno como convivem
bem com a ideia de um messias apenas mítico. Para ele, é só porque as
Bíblias trazem as epístolas paulinas depois dos Evangelhos que nos
acostumamos a lê-las como se fizessem referência a um Jesus de carne e
osso.
Segundo o autor, um mínimo de rigor historiográfico exigiria, se não
concluir que nunca houve Jesus, pelo menos deixar de afirmar que sua
existência histórica foi confirmada.
Na segunda parte da obra, Lataster defende que os especialistas adotem
um método bayesiano, que leve em conta não só sua interpretação favorita
como também hipóteses concorrentes e a possibilidade de todas estarem
erradas. A partir daí, estima serem remotas as chances de Zeus, Odin e
Shiva não passarem de lenda e só o Deus cristão ter existência real.
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* Colunista da Folha
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