Alice Munro, nascida em 1931, demonstra há
décadas um talento imenso para aquela que é uma das artes mais
difíceis para quem faz literatura: escrever contos. Contos completos,
profundos, simplesmente maravilhosos. E é precisamente por ser «mestra
das histórias breves contemporâneas» que os académicos de Estocolmo lhe
atribuíram o Nobel da Literatura de 2013.
A enorme capacidade de escrita - no seu
inconfundível inglês, essencial e poético, em que nem uma palavra é
escolhida ao acaso - une-se nas suas histórias ao dom de um olhar
acutilante e indagador. O resultado é a extraordinária capacidadede
chegar ao cerne das histórias e da vida. Com uma atenção irresistível,
com uma grande delicadeza, sinais de uma sólida inteligência.
Nascida em Wingham, no Ontário, Canadá, há 82
anos, Alice Munro começou a escrever durante a adolescência, mas só aos
37 anos conseguiu publicar o seu primeiro conjunto de contos, "Dance
of the happy shades", que rapidamente suscitou o favor da crítica.
Nesse mesmo ano (1968) obtém o "Governor
General's Award", o principal prémio literário canadiano, que vencerá
mais duas vezes.
Ainda que a maior parte dos seus contos decorra
nas pequenas cidades do sudoeste do Ontário, Murno é capaz de colher
temas, estados de ânimo e tonalidades com um autêntico verniz de
universalidade.
Mães, filhas, amantes, pais, amigas, irmãs e
irmãos; adolescência e terceira idade; amores que nascem, explodem,
queimam, amores que às vezes terminam e às vezes sobrevivem; esperanças
laborais, lutas, sonhos, doenças, solidão e doença, gestação e aborto
(o grito desesperado e brutal de "My mother's dream" é uma das páginas
mais significativas da literatura que lida com a narração de uma
interrupção da gravidez).
Entre todas as histórias, a sua obra-prima é
talvez "The bear came over the mountain", um dos primeiros casos em que
a literatura se envolveu com a doença de Alzheimer. E com os temas da
identidade, perda e amor que ela coloca.
«Munro é apreciada pela sua arte subtil do conto,
imbuída de um estilo claro e de realismo psicológico», descreveu o
comité numa biografia da escritora.
«As suas histórias passam-se frequentemente em
pequenas localidades, onde a luta por uma existência socialmente
aceitável muitas vezes resulta em relações tensas e conflitos morais -
problemas que resultam de diferenças geracionais e ambições de vida que
colidem», continua.
«Os seus textos descrevem frequentemente "eventos
do dia a dia, mas decisivos; verdadeiras epifanias que iluminam a
história e deixam questões existenciais aparecer num relâmpago",
sublinha a academia.
Entre os livros publicados em Portugal incluem-se
"Amada vida" (2013),"O progresso do amor" (2011), "Demasiada
felicidade" (2010), "O amor de uma boa mulher" (2008), e "Fugas", todos
editados pela Relógio d'Água.
Em julho, Alice Munro declarou publicamente que
não voltaria a escrever. Mas quando soube que tinha ganho o Nobel,
afirmou que poderia mudar de ideias...
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Giulia Galeotti
Fonte: In L'Osservatore Romano
Com agências
© SNPC | 10.10.13
Fonte: In L'Osservatore Romano
Com agências
© SNPC | 10.10.13
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